Ultimamente tenho me questionado bastante sobre mim. Sobre quem eu era e quem me tornei. Sobre como eu costumava enxergar a vida e as palavras. Sobre como eu me perdi de tudo isso.
Ultimamente eu tenho lembrado de como eu gostava de contar sobre meus amores, minhas ilusões, desilusões e como eu enxergava beleza em tudo. Eu conseguia transmitir meus sentimentos, contar sobre as inúmeras letras do alfabeto que me fizeram sofrer, outras que me fizeram uma boa história para contar. Eu sempre tinha o que falar. E sempre tinha alguém para escutar.
Ultimamente eu tenho percebido o quanto eu não sou mais isso. O quanto eu me distanciei da pessoa que um dia eu já fui. Não me orgulho disso. Não há mais palavras a serem ditas, palavras a serem escritas, frases a serem formuladas. Páginas e mais páginas vazias, remetem ao que eu me tornei: vazia. E desta vez não é sobre a falta de alguém. É sobre a falta de mim.
Ultimamente eu tenho me afastado de tudo aquilo que eu já fui. Me afastado das minhas crenças, das minhas diversas facetas de personalidade, dos meus gostos e das minhas vontades. Até das minhas ilusões e tristezas eu me afastei. Tudo isso para me encaixar. Um triângulo tentando ser quadrado. Um quadrado tentando ser um círculo. E um círculo tentando ser tudo, menos ele. Essa sou eu agora.
Tudo isso tentando agradar. Tentando agradar pessoas que nem sequer deram motivos para que eu escrevesse sobre elas. Pessoas que nem sabem que eu gosto de colocar em um papel tudo que eu sinto e que, se descobrissem, eu seria capaz de queimar todos os livros, todos os cadernos para não deixar vestígios e negar até a morte. Porque foi isso que eu me tornei, alguém que se envergonha e se reprime de tudo o que gosta, de tudo o que sente falta.
E eu sinto falta. Eu sinto falta de escrever mais. De colocar em palavras o que sinto, contar coisas bobas. Sinto falta de escrever inúmeros textos para alguém que mal sabe que eu existo, ou para alguém que sabe mas finge que não. Sinto falta dessas pessoas também, de viver em uma época em que eu conseguia, apesar de todas as desavenças possíveis, me sentir completa e me expressar. Me sentir viva e parte de uma história. Eu tinha esperanças, eu tinha opiniões, eu tinha tudo e nem percebia. Tudo o que eu escrevia, era parte de uma realidade que eu nem imaginava o quanto eu gostaria de vivê-la novamente.
Ultimamente as coisas tem sido assim. Eu tenho me perdido de mim. Já não sei mais quem eu sou. Só sei que eu, eu não sou.
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eu
PoetryUma coletânea de textos que escrevo ao longo do tempo. Para mim, escrever é transformar em palavras tudo o que sinto. Como dizia Clarice Lispector, "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o se...