XII

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pela luz que atravessava
das janelinhas em meu sorriso
se revelaram tuas sombras

tracei flores nos espaços vazios
e você resolveu preencher as lacunas
com as primeiras cicatrizes

era sol no céu aberto
mas foi você quem borrou
nuvens & névoa
até que meu desenho no espelho
fosse apenas uma silhueta embaçada
da pintura que um dia vi

e então escureceu
as janelas já não existiam
não havia mais luz
e a única sombra restante parecia ser
a minha

tua dureza quebrou meu reflexo,
o espelho que vi
eram os cacos da minha estatura
ou os rastros de você?

tuas ervas daninhas
murcharam minhas flores ou foram
tuas raízes que sufocaram minha garganta
até eu acreditar
que eu não tinha mais voz?

mas tu jamais me responderá
e eu nunca mais quero te ouvir,
se o sopro do vento é tua voz
é a minha hora de sair
do olho do furacão

descobri a lua
e armei minhas estrelas
alto o suficiente para que
nenhuma das tuas pedras
fosse capaz de derrubá-las

o brilho que cruza o céu
como uma espada que divide o escuro
numa lembrança muito mais delicada
de que nunca mais deixarei que
a tua lembrança faça divisão
entre o que eu sou
e os cacos que seguro
entre o meu chão
e os buracos entre a tua pintura de cicatrizes

não farei pedidos a estrelas
mas sim ao meu coração
se fez céu & solo:
que eu nunca mais me permita
deixar crescer sementes podres
vindas de um coração que não é meu

eu não preciso mais apanhar os cacos
do espelho,
aquela pessoa estilhaçada
quebrada & espalhada pelo chão
nunca foi eu
e eu não vou mais me confundir nos cacos de outra pessoa

pela tua visão embaçada
não verei mais nada
e - principalmente - nem a mim mesma

- eu sou mais forte, sim,
mas jamais te darei o crédito por isso;
você nunca teve o direito
de me dizer quem eu sou, de qualquer forma

Pétalas de Vidro (Poemas)Onde histórias criam vida. Descubra agora