rascunho

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Quando brigávamos, geralmente porque ele agia como o babaca que era, eu gostava de brincar de amaldiçoa-lo, nada muito grave, eu apenas escrevia em meu diário como desejava que ele se torna-se um calvo, pançudo de pinto pequeno, infantil, eu sei, não precisa me julgar, mas eu sentia tanta raiva, eu queria atingir ele de alguma forma, nem que fosse brincando de ser bruxa, fingindo que eu tinha algum controle sobre sua vida.

Sinto em escrever, que nenhum dos meus desejos se tornaram realidade, ele é ainda é lindo, malditamente lindo, toda vez que me pego pensando nisso sinto vontade de me bater, mas principalmente quando eu me pergunto o que ele acharia de mim, como ele reagiria em saber que cresci, que já não sou a garota mais nova com quem ele tinha um caso secreto, será que se trombássemos na rua ele me reconheceria? Veria garota que eu já fui na mulher que sou agora? Odeio esses pensamentos, odeio sequer pensar nele, mas não é justamente o que faço enquanto escrevo isso?

Ainda é difícil pra mim entender que o garoto que me machucou é diferente do homem de agora, em muito eles se assemelham, as pessoas dizem que ele mudou, eu não duvido, provavelmente já até me esqueceu, sou apenas eu presa no passado, associando dores antigas com novas versões.

Acho que o problema foi o adeus que nunca tivemos, uma sepultura nunca feita, um término nunca dito, as coisas só aconteceram. O tempo passou sem pena por mim, e eu não consegui o acompanhar, ainda sou a mesma menina de 2019 presa no corpo de uma mulher crescida, tentando ver o garoto no corpo de um homem que provavelmente não lembra o meu nome, com certeza não. Benício segurou a mão do tempo e se foi, deixando tudo pra trás.

Eu meu culpo por carregar essa dor. Eu o odeio, odeio com todas as forças, quando o vejo quero gritar, arranhar seu rosto e quebrar seu carro, eu quero fazer tudo isso e um pouco mais, mas droga, ninguém entenderia, porque ele agora é um homem, um advogado, não o garoto que me machucou, me diriam que estou à procura da pessoa errada para ter vingança, aquele é o bom e simples Benício, pai de família, cuidadoso e amoroso, e eu sou uma doida presa no passado, vendo o garoto no rosto do homem, pensando em como ele continua lindo, sim, terrivelmente lindo, em como ele mal consegue se lembrar de mim.

Eu sairia como doida

Talvez eu devesse parar de pensar nisso

Nele

Em nós

Se bem que nunca houve um nós.

Secretamente desejo que pelo menos a maldição para o pau dele ficar menor tenha funcionado.

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⏰ Última atualização: Aug 31, 2022 ⏰

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