Querer

Prólogo

Gabe Ross

Ter um dia estressante no trabalho já me era comum.
Ter uma vida um pouco estressante também era comum.
Mas sabem o que não é comum? Encontrar roupas jogadas pelo meu apartamento. Masculinas ainda por cima.

Quando sai para trabalhar, deixei Melissa Jones tomando conta de tudo. Só para constar, ela é (ou era, dependendo do que irei encontrar escadas acima) minha noiva.
Linda por sinal. Ruiva, olhos verdes, tudo que um homem podia querer. Ou era o que eu achava. Pelo visto, a piranha estava com outro. Bem debaixo do meu nariz.

Subo os degraus cuidadosamente, e enquanto isso, encontro uma carteira de identidade no chão. O que vem a seguir, me enlouquece.
Troy Stevens está nela. E quando chego ao andar de cima, os gemidos em seu nome só confirmam minhas suspeitas. Pego um vaso que havia no corredor e jogo na parede dando um grito. Chego ao quarto e os vejo assustados, tentando se organizar enquanto ela grita pedindo para eu me acalmar e escuta-la. Mas a questão é que: eu não quero ouvir. Aliás, quero ouvir algo.

— Há quanto tempo?

— Gabe, eu posso explicar, me deixa explicar, por favor.

— Estou perguntando a quanto tempo. - me assusto. Estou calmo até demais, e eu sei que quando isso acabar eu vou surtar e não vou aguentar, então enquanto der preciso ser forte.

— Estamos juntos à 6 meses, cara.

Eu vou ao chão. Não literalmente. Meu coração. Ele está no chão e é como se ela estivesse sambando em cima dele com um salto agulha porque está doendo pra caralho.

— QUERO OS DOIS FORA DAQUI AGORA! ANDEM! CATEM AS ROUPAS E CAIAM FORA DA MINHA CASA!

O olhar de Melissa é de pânico total. Acho que ela não esperava perder o noivo rico que bancava seus gostos.

— NÃO PODE FAZER ISSO! Eu estive com você Gabe. Eu sempre estive com você, não pode, não pode fazer isso comigo, por favor! — ela chora copiosamente e eu aproveito que ela está só de lingerie para puxa-lá assim mesmo para o lado de fora da minha cobertura. Ela vai seminua mesmo e o meu ex melhor amigo sai para fora da mesma forma. Faço ao menos o favor de devolver a identidade dele. - GABE! Por favor, por favor!

Enquanto ela batia na porta eu encontrava a fúria dentro de mim. Ela está aqui. Esteve sempre aqui, agora não seria diferente. Eu choro e quebro tudo e me quebro, porque não seria diferente. Tudo acabou. Eu bebo todas e tento esquecer o merda que eu fui. O corno e o enganado.

O celular começa a tocar e eu resolvo sair de casa, pegar um ar, mesmo com minha vista começando a ficar turva. Ignoro o celular tocando e subo na moto. Tudo que eu senti, tudo que eu vivi. Não passou de uma mentira.

Piloto a moto enquanto minha mente grita "idiota" "burro" e para piorar "trouxa" várias vezes. Eu bato no guidão com uma mão e grito e parece que eu estou enlouquecendo. Tendo mais um acesso de raiva.

Uma luz me cega, e tudo acaba. Fim. Tudo acaba em um flash.