Ele se levanta...
Um alto e agudo som ecoa, como sirenes, sinos, freios, buzinas, tiros e dor.
Sua mão ensanguentada tampou, sem sucesso, o lugar onde outrora sua orelha direita ficava.
Um gosto amargo em sua boca...
Ele olhou para o homem de batina em sua frente, que disse:
- Que o diabo te leve para o inferno, maldição.Os joelhos fraquejam, mas um único sentimento o manteve de pé.
- inferno... - ele disse.
Um sorriso misturado com choro saiu dele, como um aviso. Ele pôs suas mãos em seu rosto e de repente...Silencio....
O padre empunhou em suas mãos uma adaga vermelha, que emanava morte.
- suas últimas palavras devem ser um pedido de perdão. - o padre falou - Então as diga.- O que é o frio, se não a ausência do calor? - ele disse.
O padre segurou os cabelos do rapaz ensanguentado e apoiou a adaga vermelha em sua garganta. O que o fez falar ainda mais alto:
- O que é a escuridão, se não a ausência da luz?
O padre o olhou com um frio e apático olhar.
- O que é o inferno, se não a ausência do céu? - ele falou, erguendo suas mãos para o céu.
- Morra com dor. - O padre enfim falou.
A adaga foi erguida.
Antes de atravessar a garganta do rapaz suas últimas palavras foram ditas, mas...
Aquilo, meu amigo, aquilo certamente não foi um pedido de perdão.
- Nós já estamos no inferno, padre.