A Última Festa

126 23 2
                                    

Desde que se mudara para a casa mais luxuosa da região, Joy Gatsby foi alvo de todo tipo de especulação. As pessoas questionavam, entre outras coisas, a origem de sua fortuna. Alguns diziam que a moça era herdeira de ferrovias, e que agora esbanjava com suas festas extravagantes a fortuna que os pais tiveram tanto trabalho para conquistar; outros asseguravam que ela fora cortesã em Paris, e que agora desfrutava na América do dinheiro sujo que ganhara nos bordéis e cabarés da Cidade Luz; outros, mais maliciosos, diziam que se casara por dinheiro, e assassinara o marido durante a lua de mel. No que todos estavam de acordo, é que Joy Gatsby era uma nova rica, cujo sobrenome não impressionava absolutamente ninguém.

Ironicamente, todos, de algum modo, se aproximaram da verdade com suas teorias maldosas.

Durante um mês inteiro, a bela mulher enchera sua casa todas as noites com dezenas de pessoas desconhecidas, oferecendo festas animadas, regadas a champanhe e música. Ninguém precisava ser convidado. Bastava comparecer e se divertir.

Foi uma surpresa para todos quando, duas semanas atrás, sua última festa se encerrara de maneira trágica: a anfitriã fora achada morta no canapé do escritório às escuras, com a garganta cortada. A taça de champanhe jazia caída no tapete ao seu lado, um vaso de flores tombado junto ao aparador, e os belos olhos verdes refletiam a lua que brilhava através da janela.

A casa estava quase vazia quando o corpo foi encontrado pelo mordomo. Joy tinha dado instruções para que os empregados discretamente pedissem que as pessoas se retirassem; porém, sete pessoas foram reunidas, por ordem sua, na sala de visitas para um "brinde final".

Como ela demorou a aparecer, o mordomo foi chamá-la no escritório, e deparou com seu cadáver.

As sete pessoas que permaneciam na casa foram minuciosamente interrogadas na noite do crime, e nos dias que se seguiram, o Investigador de Polícia Arthur Holmes – primo em segundo grau do famoso detetive inglês, nascido na América –, investigou seus passados e suas relações com a vítima. Agora, convencido de que desvendara o mistério, ele os reuniu novamente na sala de estar da mansão de Joy Gatsby para uma acareação final, onde esperava determinar, sem sombra de dúvida, quem era o assassino.

– Este tipo de caso é o calcanhar de Aquiles para qualquer investigador. Temos como vítima uma mulher rica, sobre quem todos lançam as piores suspeitas, assassinada dentro de sua própria casa, durante uma festa. Literalmente, dezenas de suspeitos. No entanto, ao examinar pela primeira vez a cena do crime, fui informado pelo Sr. Tebaldo, o mordomo, de que a casa havia sido esvaziada a pedido da própria vítima; todas as portas, exceto aquela que conduz da sala de visitas ao jardim, haviam sido trancadas; e somente sete pessoas permaneciam no interior da casa no momento do crime. Isto deveria ter tornado meu trabalho mais simples, e, no entanto, não foi assim. E a principal dificuldade para chegar a qualquer conclusão está no fato de que quase todos vocês alegaram ter conhecido a vítima apenas recentemente. Frequentavam suas festas; às vezes compareciam para um chá no meio da tarde; passeavam de carro pela cidade; atendiam-na em seus estabelecimentos... Ninguém tinha qualquer relação mais estreita com a Sra. Gatsby, que pudesse justificar, se posso usar este termo, seu assassinato. E, no entanto, um de vocês a matou.

O detetive fez uma pausa calculada, observando as reações dos suspeitos. Todos fizeram seu melhor para parecerem tranquilos diante da acusação.

– A meu ver, este caso somente será solucionado, se pudermos estabelecer uma cronologia dos fatos, e das informações que os senhores mesmos me deram em seus depoimentos. Posso dizer que três de vocês foram completamente honestos comigo. Todos os demais mentiram ou omitiram informações.

O detetive consultou suas notas.

– Os fatos do caso são os seguintes: Joy Gatsby, vinte e nove anos, foi encontrada morta por seu mordomo dentro do escritório aproximadamente à meia-noite e meia do último dia seis de junho. O médico estabeleceu que ela teria sido morta entre onze horas e meia-noite. Joy foi vista viva por vários de vocês por volta das dez e meia, e às onze horas pelo Sr. George Wilson. Sua voz ainda teria sido ouvida perto da meia-noite pelo Sr. Romeu Montecchio, quando ele acredita que ela tenha entrado no escritório; todavia, ao procurá-la ali em seguida, não havia ninguém lá dentro, e as luzes estavam apagadas. Cerca de meia hora depois, ela foi encontrada morta dentro do escritório, sem que qualquer de vocês a tenha visto ou qualquer outra pessoa entrando ali. Um caso verdadeiramente espantoso!

A Última FestaOnde histórias criam vida. Descubra agora