Hoje não foi o meu dia de sorte

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Laurentino Pedrosa, como de costume, levantou-se cedo para trabalhar. Fora contratado como motorista de caminhão por uma empresa que tentava encontrar espaço entre as prestadoras de serviços de transporte. Bebeu um copo cheio de café com leite e comeu três pães com manteiga chapados, feitos na velha frigideira, preparados para ele com muito carinho por sua esposa. Casados há mais de vinte anos, Laurentino estava contente por notar que nos últimos meses, apesar de tanto tempo de convivência, ela se demonstrava mais carinhosa do que de costume. Pensava em como esse seu novo emprego havia operado milagres em sua relação. Levantou-se, deu-lhe um beijo e se despediu. Ao chegar à firma, entrou no caminhão e se lembrou de que a entrega do dia não levaria muito tempo para ser concluída. Isso o deixou como que aliviado, pois seu trabalho era por demais pesado. "Era a primeira vez nessa empresa que ele sairia mais cedo" - pensou. Saiu e pouco mais de três horas depois já estava no pátio da empresa com o caminhão. Enquanto estacionava ouviu o encarregado chamar por seu nome: - Laurentino! "Ué..." Pensou. "Só me falta terem arrumado outra entrega de última hora... Putzz..."

- Eu. - Respondeu.

- Venha até o RH para conversar.

- Você está despedido. - Ficou sabendo. - Não precisamos mais dos seus serviços... Nos encontramos em um momento ruim para a empresa e... Como você é o funcionário mais recente... Teremos de demiti-lo. Laurentino quase chorou, mas que poderia ele fazer, a não ser procurar outro serviço?

Foi para sua casa e se confortou com a ideia de fazer uma surpresa para sua esposa. Parou na padaria e comprou trezentos gramas de "Carolina", sabia que ela adorava. Chegou à frente da residência e viu que as janelas estavam fechadas, mas o portão fora deixado aberto. Entrou de mansinho, a porta da cozinha estava aberta. Na cozinha ninguém. Foi até o quarto e viu a porta entreaberta. "Alguém estava sentindo dor", teve a impressão. Gemidos. Empurrou a porta e o que vislumbrou o fez deixar cair o pacotinho com as "carolinas". Havia um cidadão estranho em cima de sua cama, e sua esposa, com as mãos e os joelhos apoiados no colchão era quem gemia enquanto o marmanjo desconhecido bombeava com a "saróba" preta o rabo da mulher por trás, aquele que ela não deixava Laurentino nem tocar. Notou que era um corno.

- Seu filha da puta! - Xingou. Em meio à visão turbada pela fúria, viu o cidadão passar a mão em uma calça jeans e se arremessar pela janela. A mulher continuava lá, na mesma posição, como que esperando por mais prazer. Laurentino pegou-a pelo pescoço e deferiu-lhe um belo de um tapa no rosto, deu com vontade. Ela começou a chorar. Em menos de dez minutos um dos irmãos de Vilma, que não morava longe, de nome Betão, apareceu. Betão mal colocou os pés na moradia e já se deu conta do que ocorrera, momento em que partiu para cima de Laurentino, agredindo-o com um cruzado bem no meio do nariz. Laurentino sentiu como se um "scânea" o tivesse atropelado. Seu nariz tornara-se uma cascata de sangue. Inchou tanto que ficou mais parecido com uma batata.

Poucos minutos antes, na delegacia de polícia, o Delegado Dionísio convidou Pedro e Baltazar, investigador e escrivão, respectivamente, a o acompanharem até o estacionamento para verem seu novo Honda que acabara de comprar. Zero quilómetro, bancos em couro, ar condicionado, freios a disco nas quatro rodas com sistema ABS, air bag, "um puta carro", e coisa e tal. O painel parecia mais o de uma interprise, cheio de luzes e mostradores, tudo digital.

- E por falar em carro Doutor... - Interveio Baltazar. - Estamos sem viaturas. O Santanão deu pau, a pálio rebentou correia dentada, e a Blazer está com o Investigador Marquinhos. Como o Senhor é pé quente, esperamos não acontecer nada e assim nem precisaremos sair da D.P., nem das viaturas...

- Sem viaturas? Indagou o Delegado.

- É Doutor... Mas vai dar tudo certo... A noite esta tranquila. - Ouviram então o telefone tocar.

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