Eu não consigo acreditar que em menos de um dia serei oficialmente uma universitária. Eu e Ashley sonhamos com esse dia desde pequenas. A única parte ruim disso é que o meu irmão mais velho estuda na mesma universidade, a OKA University. Eu o amo, mas Colin consegue ser sufocante de tão controlador e tenho medo de não conseguir aproveitar a liberdade que esse novo ciclo promete. Porém, não posso o culpar, não é como se eu não tivesse dado motivos para isso...
"Alô? Terra chamando Brooke. Você escutou o que eu disse?". Minha melhor amiga pergunta, me afastando de certas lembranças que prefiro deixar para trás.
"An? Desculpa, Ash. O que você falou?". Digo fazendo ela revirar os olhos e soltar a pilha de roupas que tirou do armário bem na minha cama.
"Está tudo bem. Eu também fico meio aérea quando estou ansiosa. Você consegue acreditar, B? Vamos juntas para uma Ivy League! "
Solto um sorriso de orelha a orelha toda vez que penso nisso. Ashley é minha melhor amiga desde que me entendo por gente e o fato de ela ir comigo para a universidade é o que torna essa experiência ainda mais incrível.
"Brooke, tem como você me ajudar a acabar de fazer a sua mala? Nosso voo é às 10h. Não podemos nos atrasar."
"Eu tenho certeza absoluta de que foi você quem não me deixou chegar nem perto da minha mala para garantir que eu não use apenas jeans e moletom na OKA.
Ashley vai cursar moda na universidade, o que não é nenhuma novidade para quem a conhece desde pequena. Quando brincávamos de Barbie, qualquer um poderia perceber o brilho nos olhos dela quando escolhia a roupa de todas as bonecas. Era a sua parte preferida e, muitas vezes, ela era quem costurava as roupas e trazia para a minha casa para podermos brincar.Depois que acabamos de organizar tudo e garantir que não estamos esquecendo de nada, minha mãe aparece no quarto. "Abelhinha, já ligou para Carter? Ele vai com a gente?"
"Mãe, ele disse que vai nos encontrar no aeroporto e que podemos ir na frente." Ela assente e volta para a sala.
Carter é o meu melhor amigo e ex-namorado. Sim, isso existe.
Tivemos nossos problemas no passado, mas conseguimos superá-los. O fato de as nossas famílias serem muito próximas ajudou também. Nossos pais são amigos de infância, então nos conhecemos a vida toda. Ele vai pegar o mesmo voo que a gente, mas não vai para a mesma universidade. Carter entrou em Yale, que fica a 40 minutos mais ou menos da OKA. Então, vamos nos ver com frequência.
"Eu não acredito que a nossa Abelhinha vai embora". Meu pai aparece com uma expressão triste, o que faz meu coração partir em dois.
"Pai, você me prometeu que só iria ser sentimental na hora da despedida no aeroporto! Não posso chorar antes." Faço o meu melhor para segurar as lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto.
"Vou tentar, B."- ele assente com um sorrisinho no rosto.
Meus pais me chamam de "Abelinha" desde pequena, é o apelido carinhoso que me deram. Sempre fomos tão próximos e agora me vejo indo para o outro lado do país. Ainda vamos nos ver nos feriados, mas não será a mesma coisa. Não vou mais encontrar meu pai na cozinha atacando doces de madrugada quando eu for buscar água e nem poder repousar minha cabeça no colo da minha mãe sempre que quiser um cafuné. Espero que eles fiquem bem. Lembro quando Colin foi para a universidade, o quarto do meu irmão ficou trancado por um mês para que eles não caíssem no choro de tanta saudade. Mas eles ainda me tinham por perto na época. Agora, terão que conviver com a saudade dos dois filhos.
Estamos a caminho do aeroporto e meus pais estão dando a famosa "palestra". "Tenham cuidado lá. Eu conheço muito bem as festas universitárias e sei que tem de tudo nessas fraternidades responsáveis pela bagunça! Cuidado com o que colocam no copo. Se forem ao banheiro, levem o copo ou joguem fora. Não pode ficar dispersa!"
"Pai, escuto esse discurso desde que entendo por gente." Tranquilizo eles.
"Mocinha, você está indo morar em outro estado, onde o tempo para chegar lá é de apenas 8 horas de avião. Eu preciso repetir isso 5 vezes no mínimo!".
"O que me tranquiliza é saber que o seu irmão está lá para cuidar de você. Vou ligar para ele mais tarde para avisar a hora de buscá-las no aeroporto." Reviro os olhos e ignoro o "cuidar de você" porque eu não vou deixar Colin atrapalhar a minha experiência universitária. Se eu precisar de ajuda, peço a ele. Tirando isso, estou ansiosa para ver o meu irmão. Ele não passou as férias de verão com a gente esse ano porque pediu uma viagem com os amigos do time. Então, não o vejo desde janeiro e já estamos em setembro.
Chegamos no aeroporto e fomos fazer o check-in. Tem algo sobre os aeroportos que me fascina, têm tantas histórias. Pessoas alegres em rever entes queridos que não viam há tempo, casais viajando juntos, despedidas dolorosas.... e essa última vai ser a minha história de hoje, mas também vai ser o começo de um novo ciclo, uma nova fase.
"Olha o Carter ali! CARRRTERRRRR!". Ashley dá um grito no meio do aeroporto para que o nosso amigo venha até nós. Todo mundo começa a nos olhar feio e meus pais coram de vergonha no mesmo momento. Carter chega até nós. "Podia gritar um pouco mais alto? Quase não ouvi." Ela revira os olhos e mostra a língua para ele.
Ficamos conversando um pouco até que finalmente chega a hora que eu tanto temia. A despedida. Eu não consigo acreditar que vou passar tanto tempo sem os meus pais, eles são tudo para mim. Mas tenho a esperança de que nos façam visitas surpresas sempre que puderem. Eu já tenho 18 anos, mas, nesse momento, me sinto como uma garotinha cujo coração vai se despedaçar por não estar com os pais. Mas o sacrifício precisava ser feito, sempre foi o meu sonho estudar em uma Ivy League e aqui estamos nós..."Já está quase na hora do nosso voo. Temos que ir para a sala de embarque", falo baixinho.
Meus pais me olham com os olhos marejados e me puxam para um forte abraço. Eu não consigo evitar, as lágrimas caem sem parar. Que saudade que vou sentir desse abraço-casa que me conforta sempre que preciso. Eu me afasto quando começo a soluçar de tanto chorar. Meu rosto está molhado e nem preciso olhar no espelho para saber que ele está muito vermelho. Sempre que choro, meus olhos e meu nariz ficam parecidos com os de um palhaço. Minha mãe leva a mão até o meu rosto, enxugando minhas lágrimas. "Agora, pare com isso. Engula esse choro porque estamos muito orgulhosos de você e sei o quanto vai se dar bem. Me ligue assim que estiver com o seu irmão e assim que chegar na universidade, tudo bem?"
Eu faço "sim" com a cabeça, pois não estou nas melhores condições para formular frases. Vou até o meu pai, que está na mesma situação. "Abelhinha, faça tudo isso que a sua mãe disse e não se esqueça de sempre manter contato e nos informar sobre tudo.", dou um último abraço nos meus pais. "Eu amo tanto vocês!"
"Nós também te amamos", eles dizem em uníssono.
Pego minha bagagem de mão e entro na sala de embarque com os meus amigos, olhando mais uma vez para trás.
Assim que entramos, já tivemos que mostrar nossos passaportes e ir até o avião.
"Quais são os nossos assentos?" pergunto a Ashley que apenas aponta e se dirige até eles mais calada que o normal e menos ansiosa que antes. Deve ser impressão minha, a sigo e sento ao lado da janela. Quando olho para trás vejo Carter ao lado de uma senhorinha que não para de fazer perguntas a ele sobre como mexer na TV do avião. Faço uma cara de quem está achando hilária a situação e ele retribui mexendo a boca querendo falar "vai à merda". Então, olho para Ashley sorrindo "Ash, olha a senhorinha que está irritando Carter." Ela vira para olhar e força um sorriso nada autêntico.Não era impressão minha. Ela de fato está estranha e não faço ideia do motivo.
"Ash, o que houve? Você está estranha desde que a gente entrou na sala de embarque."
"Desculpa, B. É besteira.", ela responde sem olhar nos meus olhos. "Eu te conheço o suficiente para saber que nunca é besteira"
"É que eu vi como os seus pais estavam tão abalados em te ver indo embora e demonstrando tanto afeto, tanto cuidado.... Eu acabei comparando eles com os meus pais, que nem se deram o trabalho de levar a filha ao aeroporto para se despedirem dela.", minha melhor amiga leva as mãos ao rosto com vergonha.
"Eles não se despediram antes de você ir para minha casa?", pergunto incrédula. Sempre soube que os pais dela eram mais frios e distantes que os meus, mas nunca pensei que eles seriam tão indiferentes com a filha indo morar do outro lado do país.
"Aconteceu tão rápido. Eles estavam com pressa, não queriam chegar atrasados na empresa. Então, me desejaram boa sorte e me deram a chave do meu carro que já está em Hartford esperando por mim. Não foi nada sentimental, sempre tão frio."
Eu me sinto tão mal por ela. Os pais de Ashley são viciados em trabalho e acabam esquecendo de reservar um tempo para a filha. Mas pelo o que conheço deles, eles a amam, só não sabem demonstrar.
"Ash, eu sinto muito. Você deveria conversar sobre como se sente com eles."
"Eu não estou preparada ainda, B. Mas deixa isso para lá. Foi só um pensamento que me deixou triste. Já está tudo bem. Vamos ser universitárias!!", ela fala sorrindo, forçando as lágrimas, que se projetaram em seus olhos, a irem embora.
O clima ruim desaparece e ficamos planejando a nossa chegada na OKA. Depois de um tempo, fechos meus olhos e me forço a tirar um cochilo para não chegar tão cansada. Uma nova fase da minha vida começa amanhã e mal posso esperar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Proibido
RomanceBrooke é a típica aluna exemplar considerada "certinha" e admirada pelos pais, mas nem sempre foi assim. Ela carrega traumas e tenta superá-los entrando na universidade. Só tem um problema.... O seu irmão. Por saber do passado problemático da irmã...