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Craig era bom em fazer nada

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Craig era bom em fazer nada. E isso não quer dizer que ele não era bom em nada, fazer nada é uma arte e ele era muito bom nisso. Craig era capaz de ficar horas sem falar uma única palavra ou mover um único músculo, só encarando o vazio, até mesmo esquecendo de comer e isso era estranhamente comum. Seu olhar era sempre vago, o rosto tinha uma perpétua expressão de indiferença, a voz era monótona e não falava quando não era necessário.

Sua mente era praticamente inacessível, mas se alguém pudesse vê-la se depararia com uma tremenda bagunça pateticamente mascarada. A insegurança usava a máscara da arrogância, a tristeza da indiferença, a angústia da raiva, a preocupação da impassividade e assim por diante. As boas emoções ficavam escondidas e apareciam apenas de forma esporádica e tímida. Ele nunca falava ou expressava nada daquilo. Se mostrava sempre entediado, não via sentido na maioria das coisas do dia a dia e já não se interessava por nada, nem mesmo por aquilo que costumava gostar. Não prestava mais atenção nas aulas, vivia com sono, andava de forma desleixada e seu quarto, antes perfeitamente organizando, pouco a pouco ia virando uma baderna.

Encontrava em seu porquinho da índia algum conforto,algo que sentia que jamais encontraria em alguém, pois Stripe não iria julgá-lo e as pessoas sempre julgam. Às vezes Craig queria chorar, gritar, matar a sensação de vazio que o consumia. Aos poucos ele se isolava e ninguém parecia notar, o que fazia-lhe ter certeza que ninguém se importava.

Sozinho no quarto, com Stripe no colo ele encarava o teto, imóvel, sentia o aperto no peito com a voz profunda e torturante do fundo de sua mente que insistia em relembrar como ele era um merda. O lembrava de como ele foi babaca com quem só queria ajudar, como ele foi negligente com quem precisava de ajuda, como tudo que ele fazia estava sempre errado, como ele dava dor de cabeça para os outros, como ele era um veneno para as pessoas ao seu redor, como ele machucava as pessoas que amava.

Quantas vezes Tweek se estressou por sua culpa?

Quantas vezes seus pais estiveram à beira da loucura por suas ações?

Quantas vezes sua irmã chorou por coisas que ele fez?

Quantos Stripes ainda morreriam por seu descuido?

Tentava se distrair, mas quando se dava conta estava chorando de novo e nem ele sabia dizer o motivo muitas vezes. Simplesmente estava mal e queria fugir. Fugir do mundo, ele simplesmente já não sabia dizer se ele odiava a realidade ou a si mesmo. Vez ou outra contemplava a ideia da morte e logo estava tremendo de medo com o que sua cabeça era capaz de fazê-lo pensar.

Em um lugar alto: pule.

Frente a um objeto cortante: corte os pulsos.

Com uma corda: se enfoque.

No mar: se afogue.

Apenas morra de uma vez.

Tentava pensar em coisas boas que ele fez, tentava pensar em coisas e pessoas pelo qual valiam a pena viver, tentava fingir estar bem para que de tanto fingir ficasse realmente bem. Não funcionava. Logo ele flertava com a ideia da morte de novo e se punia internamente por cogitar aquilo. "Você é um covarde", pensava. Tinha medo do que iria acontecer se partisse, tinha medo do que falariam ao seu respeito, de como isso afetaria as pessoas que amava, de ser considerado uma bichinha fresca por ter desistido e entrar como só mais um número para uma estatística de jovens suicídas. E mais que tudo, tinha medo de estar certo, medo de descobrir que realmente ninguém se importava se estava vivo ou morto.

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