Três beeps ecoaram entre eu e o cliente. Coloquei os livros dentro da sacola escrita "Livraria Nabillera, leituras suaves como o voo de uma borboleta" e os entreguei. Despedi-me e finalizei a compra no sistema.
Era sexta-feira, longe do horário lotado. Eu fazia meu trabalho calmamente, a música Attention do NewJeans se derramando pela loja.
— Próximo!
Quando notei quem se aproximava, minha garganta secou. Era o cliente do cachecol, o rapaz que, fizesse dilúvio ou um deserto em Seoul, estava com o cachecol de fundo amarronzado e detalhes em azul e vermelho ao redor dos ombros.
Eu trabalhava há um ano na livraria. Nos últimos sete meses aquele rapaz surgia de quinzenalmente para comprar um livro novo, com um sorriso simpático que me derreteu aos poucos.
Seu nome era Taehyung. Eu usava a educação de nos vermos sempre como desculpa para chamá-lo pelo primeiro nome, a palavra sempre soando doce e um pouco viciante, assim como sua presença.
Vê-lo era habitual, e eu esperava pelo dia que o encontraria de novo. Porém, dois meses era o maior intervalo que Taehyung ficou sem visitar a livraria, e senti sua falta.
"You give me butterflies, you know?", uma das vozes do NewJeans cantarolou e meu coração falhou uma batida. Gostaria que não fosse tão óbvio assim.
— Oi, Jennie! — Taehyung acenou com meu nome desenrolando de seus lábios, deixando um quentinho em meu peito. Ele colocou o livro em cima do balcão. — Como esteve?
— Estive bem, e você, Taehyung? — peguei o livro, acrescentando: — Demorou a retornar.
Quando o olhei, seu sorriso estava tímido. Seus dedos se enroscaram em uma das pontas do cachecol. Sorri de volta.
— Estive ocupado e não conseguia ler nada. Sentiu minha falta?
Agradeci por estar olhando para baixo, pois mesmo que houvesse divertimento em seu tom, foi uma pergunta certeira. Voltei a atenção para o livro.
Até que percebi o título familiar. "Poder das Palavras", de Shin Do Hyun e Yoon Naru, era um exemplar que tinha certeza que Taehyung comprou. Alguns clientes eram assim — com ele era assim —, atentava-me aos detalhes.
Porque nossas interações eram feitas de detalhes escassos.
— Algo errado?
Fitei-o, e seu semblante confuso era ainda mais fofo do que me lembrava. Sorri de canto e apontei o livro.
— Você já levou este, não?
Ele piscou algumas vezes, e senti que havia me delatado. Ninguém prestaria tanta atenção assim, parabéns, pensei. Porém, Taehyung sorriu de um jeito que me fez relaxar.
— É um dos meus favoritos. Estou levando de presente para um amigo.
— Imagino que ele vá gostar.
Sorri e passei o código de barras no leitor. Houve o beep que encerrava nossa curta interação. Estendi a sacola, nossos dedos se encostaram. Algo bobo, que me fez sorrir um pouco mais. Taehyung segurou a sacola com uma mão e a ponta do cachecol com a outra.
— Vê se não some.
As palavras saíram sem eu pensar.
— Não vou. — jurei que Taehyung sorriu a ponto de seus olhos se enrugarem nos cantos — Até mais, Jennie.
Ele era o último cliente naquele momento. Encarei a porta, até que passos se aproximaram.
— Ele definitivamente não é um cliente qualquer, é?
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Veneno Doce
KurzgeschichtenJennie trabalha em uma livraria onde a cada quinzena se encontra com um rapaz desconhecido que apelidou de "o cliente do cachecol". Esse rapaz de olhar intenso e ar curioso está sempre usando o mesmo cachecol marrom, de detalhes azuis e vermelhos...