A vila, apesar de pequena, parecia ter de tudo. Eu vi por algumas placas de lojas quando cheguei já de madrugada. Ficava à beira do Danúbio e ao redor havia um bosque. Pensei até ter visto alguém me olhando no meio da mata... Pela estrada enxerguei o bosque, que tinha lindos carvalhos e muitos pinheiros. Na casa de meus avós, não demorei a ir me deitar. Fiquei no quarto que era de sua mãe e, por conta da hora avançada, quase que imediatamente peguei no sono.Acordei já era quase hora do almoço. Estava muito chateada e sentindo falta de minhas amigas e e meu celular que foi confiscado por uns dias. Percebi que meus avós maternos estavam estranhamente cautelosos comigo. Minha avó até parecia ter chorado...
Pensei que talvez ela estivesse sentindo falta da filha, vendo a neta ali. Os dois me chamaram pra mesa e me fizeram comer bastante antes de me dar a pior notícia da vida.
Aconteceu uma tragédia assim que saímos de casa. Alguém invadiu minha casa e matou minha família.
Quis voltar a todo custo, mas meus avós me prenderam no quarto... o pior já havia passado e eu não podia fazer nada, apenas rezar para que minha família fosse bem recebida onde quer que estivessem.
Os licantropos acreditavam que os corpos deveriam ser cremados para que o espírito lupino pudesse voltar em uma outra vida. Meu avô paterno, Asam cuidou de tudo. Fez um velório pros amigos humanos e depois mandou cremar os três corpos.
Minha dor era terrível, eu não podia nem estar presente sem causar outra tragédia. Quem poderia ser capaz de tal atrocidade? Queria ir atrás dos culpados, mas meus avós insistiram em dizer que eu não daria conta deles, nem em forma de lobo.
Se eu voltasse para casa antes da hora, antes de controlar minha transformação, corria um sério risco de cometer alguma barbaridade. Meus avós pediram paciência, até que chegasse meu aniversário e me transformasse algumas vezes para aprender a ter controle.
Foi extremante difícil me controlar. Eu já estava tentando me segurar de todas as formas. Talvez eu não virasse um monstro. Tentei até me distrair indo conhecer um castelo que havia nas redondezas. A Áustria era cheia dessas antigas e enormes construções. Pelo menos descobri que estar em meio a natureza me trazia algumas paz de espírito.
Mas eu queria mesmo era o apoio de minhas amigas. Estava sem o celular e não tinha ideia do que havia acontecido ao Anthony . Apesar dele não ter o mesmo sangue amaldiçoado que o meu, ele gostava de cuidar de mim, ao menos quando éramos crianças, e, em algum lugar, ele deveria estar triste, confuso e preocupado comigo.
Vários lobos jovens apareceram para me apoiar. Mas não dei atenção a ninguém, eu não queria. Nada era como minhas amigas de infância... Estava com saudades de casa, e sentia uma angústia, um aperto no peito falando que Anthony precisava de mim. E eu sempre fora tão egoísta com ele...
Meu aniversário chegou e a transformação ainda não ocorrera. Neste momento eu rezava para, quem sabe, ter sido trocada na maternidade... Eu poderia estar livre daquela maldição?
Era sexta-feira. Apesar de ter sido bem mimada no dia pelos avós e por alguns amigos da família, eu ainda sentia a maldita angústia. Que falta o fedorento do Raul e o intruso do Anthony me faziam...
Mais a tardinha senti algumas pontadas no peito, junto com o cheiro do perfume de Thony. Percebi que Anthony corria algum tipo de... risco??... Isso só poderia ser coisa de lobo. Sem pensar em nada, eu me vi correndo numa velocidade inumana.
Não entendi o que estava fazendo. Eu corri por horas, não sabia nem onde estava indo... Quando senti um cheiro familiar... Seria Thony?? Estava perdida sem compreender como sentia aquelas coisas e nem como chegara até ali. Onde eu fui parar? Era tudo tão estranho, diferente e ao mesmo tempo tive sensações espetaculares.
Eu estava de frente a uma casa que tocava uma música alta demais prós meus ouvidos, minha cabeça doeu. Na frente da casa estava escuro e só havia um casal trocando beijos. Comecei a escutar a conversa dos dois, o garoto disse que precisava de uma bebida e pediu pra garota o esperar ali.
Quando percebi que a moça era Bethy, a melhor amiga de Thony, eu me alegrei e corri em direção a ela. Finalmente um rosto conhecido. A ansiedade, misturada com angústia, medo, raiva e outras tantas sensações me fizeram transformar sem eu perceber.
Bethy ficou assustada e gritou ao me ver. Tentei pedir calma, mas as palavras não saíram da minha boca.
Nem percebi minha mutação. Eu pulei pra cima de Bethy na intenção de dar um longo e apertado abraço, porém desconhecia a forma que eu estava e a minha força, acabei cravando minhas enormes garras nas costas de Bethy e rasgando seus tecidos mais profundos. O ferimento foi fatal, devo ter deixado os pulmões como tiras de papel rasgado e cheguei a atingir até a medula espinhal.
Tudo ficou vermelho sangue. Só então percebi que era um lobo. Chocada, e sem reação, eu apenas me afastei deixando o corpo sem vida de Beth cair enquanto eu voltava a ser humana.
Antony apareceu em seguida. Como eu pude fazer aquilo? Eu estava me controlando há dias para não deixar ocorrer o que todos me alertaram que era inevitável.
Tive sorte de ter sido acolhida por bruxas. Conseguiram limpar minha barra. Anthony tentou falar comigo mas e eu estava em choque. Tentei o dizer que não foi minha intenção. Eu não queria essa maldição pra mim.
Não sei como o meu avô Adam me encontrou e me carregou de volta a aldeia.
Fiquei por dias no quarto, não tinha vontade de nada, nem de comer. Meus avós se revezam indo ao quarto ver como eu estava na tentativa de me forçar engolir qualquer coisa. Eu só queria por um fim em tudo aquilo.
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Meu Mundo Sombrio: Luna
FantasyDe uma adolescente mimada a uma exímia caçadora. O livro Luna é a continuação da história de Anthony e conta a trajetória da garota que perdeu a família, se transformou em loba e aprendeu a duras penas como batalhar por sua vida.