Casinha Estranha

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Alguma música de rock aleatória tocava no fone de Karla. Sua mãe reclamava dessas músicas. O que os irmãos da igreja achariam desse tipo de melodia e letra? Sendo sincera, Karla não dava a mínima para isso.

Enquanto isso a sua mãe lia um salmo para a família enquanto seu pai falava mal dos comportamentos dos homossexuais e o quão eles destruíam a família tradicional brasileira. E sua irmã mais nova assistia um canal tedioso de vídeos de um humor meio estranho. E seu irmão carregava seu ursinho de pelúcia e conversava com o mesmo.

Que família incrível. Pensou Karla com deboche. Ela tinha brigado com seu melhor amigo, por conta de ciúmes da parte dele. Seus pais também estavam querendo proibir Karla de falar com ele por descobrir que o mesmo mexia com coisas sobrenaturais, coisas do demônio nas palavras dos pais. Ela só estava cansada de ter que obedecer os pais.

Seu pai mandou a mãe olhar o GPS. Mas todas as vezes que achavam que estavam perdidos, o pai a xingava de milhares de xingamentos. Chamava sua mãe de puta imprestável, inútil, vagabunda e entre outros. Odiava seu pai, com todas as forças. Mas se sentia culpada e na bíblia era um grande pecado não respeitar seus pais. E seu pai era pastor.

Karla fechou os olhos e se encostou na janela tentando cochilar para seus pensamentos não continuarem a mil. Mas seu pai freou bruscamente fazendo a mesma ir com tudo para a frente. Caralho. Pensou a mesma.

-Que pista de desgraçado! Quem fez essa merda?-Seu pai tentou continuar o caminho mas o carro desligou e não ligava mais.-QUE MERDA!

Seu pai estava cuspindo fogo. Com os gritos, sua mãe se encolheu. Ela sempre usava roupas longas e que cobrisse todo o seu corpo. Sua mãe prometia que não apanhava mais. Mas ela mentia.

-O GPS diz onde caralhos existe um posto de gasolina por aqui?

-A 30 quilômetros querido.

-QUE DROGA.

-Papai.-Meu irmãozinho mais novo, Gabriel, apontava para um casebre a vista, que ficava meio isolado.

-Muito bem! Por isso homens são mais inteligentes.

Revirei os olhos com a fala.

-Você revirou os olhos com o que eu falei Karla?

-Não revirei.

-Karla venha cá.

Senti minhas mãos tremerem. Ainda estava sentada no banco do carro.

-VENHA LOGO CARALHO.

-Pai, desculpas... Eu não revirei meus olhos para o senhor.

-Hum... Braço.

Estirei meu braço e meu pai pegou uma madeira que guardava no carro. A madeira tinha pregos. Ele bateu no meu braço que ficou a marca e rasgou uma parte da minha pele. Segurei as lágrimas.

-Recite o versículo.

-Pai desculpas...

-RECITE.

-O 5º Mandamento da Lei de Deus é: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias na terra, que o Senhor, Teu Deus, Te dá” Êxodo, capítulo 20 versículo 12.

-Sim e o que mais eu te ensinei?-Bateu novamente no seu braço, a mesma mordeu a boca com toda a sua força fazendo até a sua boca sangrar.-O QUE EU MAIS TE ENSINEI SUA MERDA?!

- A família...-soluçava.-é a u-unidade...-seu braço sangrava.-mais básica da vida.

-Muito bem.-Guardou a madeira no carro.-Querida, ajude nossa filha aqui por favor. Ela não pode se mostrar assim para o dono da casa. Tem que estar apresentável.

Seu pai ria.

-Aqui querida.-Sua mãe cuidou dos ferimentos e colocou um casaco para a mesma vestir. Ela vestia ainda choramingando de dor. Seu irmão chegou com seu ursinho de mão e estirava a mão para segurar a mão da sua irmã.

Karla agarrou e andava com seu irmão enquanto a irmã ia cantando uma música de uma animação que a mesma gostava. Seu pai bateu na porta e sorria. Todos da família fizeram o mesmo.

Saiu um homem alto, moreno com belos cachos. Ele sorriu. Logo abriu a boca em surpresa. Apertava a mão do meu pai animado. Meu pai entrou em confusão.

-Eu amo a palavra que o senhor prega. O senhor é um cara incrível. Um grande vaso usado pelo senhor.

-Obrigado meu irmão, não faço nada demais. Só passo aquilo que Deus me fala.-Meu pai sorria orgulhoso.

-Sua família é linda meu amigo. Por favor, fiquem a vontade na minha humilde casa. Mas o que houve?

-Viemos passar um final de semana para relaxar e também ir para o culto na cidade próxima ao sítio. Mas o meu carro falhou.

-Deve ter sido um livramento irmão. Posso chamar um amigo para vir olhar seu carro, tudo bem?

-Você não sabe o quão eu ficaria grato, meu irmão. Você foi mandado pelo senhor.

Ou pelo diabo. Pensou Karla. Mas a mesma pensou somente por estar enraivada. Porém, ela estava certa.

-Que é isso. Eu que fico agradecido ao senhor Deus pela sua presença. Filho?

Um garoto bem parecido com o homem. Era muito bonito apareceu e eu o encarava encantada. Mas percebi um olhar... Um olhar estranho do meu pai para o garoto. Eu estava me arrepiando por completo. O garoto sorriu na minha direção, era um sorriso tremendo que confortava e assustava ao mesmo tempo.

-Chame Seu Carlos para arrumar o carro do nosso ilustre pastor. Lembra dele filho?

-Sim, papai! O senhor é admirável.-Estirou a mão. O pastor apertou animado. Mas simplesmente alisava a mão do jovem a sua frente. Com outras intenções.

O garoto sorriu e logo saiu. O pai fez uma análise completa pelo corpo do jovem. O homem ria para meu pai. Ele olhou para minha mãe como enxergasse seus hematomas. Minha mãe somente escondeu mais ainda seu corpo com aquela roupa longa.

-Vamos jantar? Talvez vocês tenham que dormir aqui, desculpas pela simplicidade da minha casa. Mas espero que vocês fiquem o mais confortável o possível.

-Claro que vamos ficar. Obrigado pela hospitalidade!-Papai falou com o homem a sua frente.

Seguiram o homem alto. Cada um se sentou na mesa. Enquanto o homem andava de um lado para o outro, sentiu sua camisa sendo puxada. Olhou, era Gabriel, com seus olhos castanhos o encarando.

-O Teddy também quer uma cadeira.

-Oh, me desculpas. Esqueci dele.-Pegou uma cadeira e colocou ao lado de Gabriel. Gabriel sorriu.

Todos comiam. A comida estava boa. Mas Karla nem tinha fome e sua mãe vomitaria tudo depois. Todos foram se deitar para dormirem. As horas estavam lentas.

22:30 viu seu pai levantar.

23:10 viu o garoto moreno levando
seu pai puxando-o pelas pernas.

23:15 Karla tentava se mexer,
mas falhava em todas as
tentativas.

00:00 estava zonza e via toda a sua família nas cadeiras.

00:30 sua irmã chorava.

01:30 seu pai os chamava de demônio.

02:00 o homem moreno alto usava símbolos
estranhos.

02:30 o homem moreno alto estava com os
olhos totalmente pretos e sorria de
maneira assustadora.

03:00 ele gritou para todos nós e seu
filho sorria.

"HORA DOS JOGOS
MALDITOS"

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2023 ⏰

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