Oito anos depois...
A sala estava lotada. Haviam advogados por todos os lados, conversando sobre suas vidas corridas em escritórios, salas de audiência e cafezinhos no fim da tarde com os colegas. Elena usava uma saia preta com flores delicadas por todo o tecido, uma blusa rosê combinando com algumas pétalas e o cabelo solto. Não sabia ao certo por que estava ali, havia ido por insistência da sua sócia, Miranda, que disse que seria bom fazer amizade e ser vista por todos. Bom, Miranda estava conseguindo isso enquanto conversava com alguns advogados, usando seu vestido preto de tubinho e saltos vermelho sangue. Gostava de ser o centro das atenções quando o assunto era direito penal. Diferente de Elena, que estava de olho na mesa do buffet, para se ver livre de todos.
Elas se conheceram no último período da faculdade e de alguma forma acabaram se tornando amigas. Não pareciam em nada, mas juntas eram uma boa dupla para negócios, tirando a parte em que Miranda precisava socorrer os atrapalhos de Elena de vez em quando. A sócia fez um sinal leve com a cabeça para a outra se aproximar e interagir, e mesmo Elena sendo extrovertida e espontânea, aquele lugar lhe trazia um certo embrulho no estômago.
Acenou com a mão e apontou rapidamente para a mesa do coffee break que estava mais no fundo do salão. Se virou rapidamente e foi em direção à comida, para não ver a expressão de protesto de Miranda. A mesa era enorme e cheia de variedade, todavia, não gostou do que viu. Os pratos tinham um aspecto estranho, estavam mal distribuídos e pouco decorados, e mesmo ela não sendo a pessoa mais crítica, achou que faltava um pouco de profissionalismo. Olhou ao redor e percebeu que alguns dos engravatados que estavam ali, olhavam a mesa e se afastavam depois de notarem o mesmo que a garota. Ela deu de ombros e resolveu pegar um dos aperitivos que de longe parecia um croissant.
— É... é um pastel.
— E parecia o que? - Sobressaltou ao notar um homem ao seu lado. Ele usava um terno azul petróleo, com uma gravata do mesmo tom, com um nó frouxo e troncho, e uma camisa branca. Era alto, sua barba estava para fazer, e claramente havia uma grande quantidade de gel segurando seu cabelo um pouco desgrenhado. Parecia que ele não ia a esse tipo de evento a algum tempo.
— Um... croissant - ela puxou outro e levou até perto do rosto do homem - não é óbvio? - o rapaz riu.
— Pelo visto não.
— Pois é, não é?! Eu jurei que era um, mas quando mordi... Um pastel. Fui claramente tapeada. - o homem sorriu novamente, mas sentiu um leve desconforto com o gesto e tossiu para se recompor.
— E por que você está aqui, quando todos os outros estão lá... - olhou para o ninho de advogado - conversado? - Ela estreitou os olhos quando olhou para ele.
— Se eu te disser, eu teria que te matar. Tem certeza que quer saber?
— Oh! Não sei, eu gosto bastante da minha vida. Mas... Será que vale o risco?
— Eu sempre valho o risco... - ela arregalou os olhos quando notou como a frase soou - Quer dizer... M-minhas ideias va-valem o risco, no caso. - Ele comprimiu os lábios para não sorrir e ela simplesmente pegou uma coxinha pequena e enfiou na boca, constrangida.
— Agora estou curioso... Talvez eu esteja disposto a morrer.
— Quem quer morrer sou eu, isso sim! - Pegou um copo de água da bandeja que o garçom passava e bebeu - Enfim! O meu segredo é... Eu odeio essas palestras! Feminicídio? Fala sério, eu nem gosto de Direito Penal.
— E por que veio? - ele franziu o cenho
— Não é óbvio? Pelos pastéis de croissant - pegou outro, mordeu e piscou para ele, que gargalhou. - Minha sócia acha que preciso fazer amizade, por isso me obriga a vir para esse tipo de coisa.
— E você precisa?
— Eu? Não! Já tenho muitos amigos, só talvez não me encaixo tanto com o estilo de conversas que esses advogados têm. Apesar que se você sair para um café com eles nos fins de semana, as conversas são muito melhores. Eu adoro.
— E mesmo assim você vem?
— Sim! Pela comida! - ela sorriu e ele também - Não. É sério! tem uns buffet muito bons, as comidas são fantásticas!
— E esse buffet? Como está para o seu paladar de crítica gastronômica? - ela riu
— Bom, Doutor... - Ela levantou a sobrancelha esperando ele dizer o nome. - Seu nome...?
— Ah! Rafael. Meu nome é Rafael
— Bom, Doutor Rafael. O buffet desta noite tem um sabor muito agradável, cada tempero se mistura com o outro nos trazendo uma experiência de explosão gustativa insaciável. É deliciosa! - ela andava por toda a mesa e ele a seguia sorrindo, ela pegava uma ou outra comida para exemplificar o que falava - Mas...
— Mas...
— Mas ele é horrível! - o sorriso do homem se desfez rapidamente. Seu brilho havia sumido.
— Horrível?
— Sim! Veja, nada é bonito de se olhar. As comidas não parecem ser o que são, talvez fosse uma boa experiência se isso fosse uma padaria com o menu "Escolha e se surpreenda", mas não! Não é chamativo ou bem-feito. Parece ter sido preparado de qualquer jeito, as pessoas nem querem chegar perto. Visivelmente é uma bagunça... Provavelmente a vida do chefe deve estar toda bagunçada também - ela o olhou e riu levantando a sobrancelha. Ele apenas deu um sorriso rápido enquanto olhava para a mesa com um olhar sério e vago - Ele pode não estar em um bom dia, né? Mas, as pessoas daqui não querem saber disso, até porque muitos são atraídos pelo que veem, e isso pode prejudicar novas contratações, né?. Talvez ele precise de um curso de montagem de alimentos ou apresentação...
— Senhor... - um dos garçons tocou no ombro dele e ambos olharam para o rapaz com a bandeja - Estão lhe chamando lá dentro.
— Já vou. - Elena piscava
— Você... o conhece?
— Sim. Ele trabalha para mim. - Ele falava de forma fria. Elena fechou os olhos e orou em silêncio por milésimos de segundos.
— No seu... Escritório? - Ela mordeu o lábio inferior e o olhou acanhada.
— Na verdade... Eu sou o dono do Buffet desta noite. Eu sou o chefe que aparentemente está uma bagunça. - havia um pouco de irritação nas suas palavras secas. Ela arregalou os olhos e pôs as mãos na boca. Ambos se olharam com expressões completamente distintas.
— AI MEU DEUS, ME PERDOE, EU NÃO QUERIA...
— Boa noite, Doutora, com licença. - falou e saiu.Elena ficou parada em frente a mesa de comida, em completo choque e desconforto. Cada vez que a porta da cozinha abria, ela pensava se deveria sair correndo para casa ou entrar para tentar se desculpar novamente. Estava com vinte e oito anos, mas às vezes ainda se via uma jovem universitária que não sabia como se portar em determinados lugares, ou em o que não deveria ser falado em voz alta.
— É claro que ele era o chefe... É CLARO! Isso só podia acontecer comigo! - falou para si.
— O que só podia acontecer com você? - Miranda parou ao lado dela. Seu cabelo cacheado caia no ombro levemente a mostra.
— Miranda, você não vai acreditar! Um cara veio conversar comigo e me perguntou o que achei da comida, e eu comecei a falar mal de como ela estava organizada e feia - Miranda olhou de lado em direção da mesa analisando tudo.
— É, você não mentiu, de fato está péssima. Vamos voltar, estão falando sobre penas e atenuantes - a mulher sorriu empolgada e deu duas palminhas baixas.
— Espera! Você não acha que eu deveria me desculpar novamente?
— Novamente? Você já se desculpou?
— Eu tentei! Mas ele foi embora! - Miranda respirou fundo ecolocou as mãos no ombro da colega
— Querida, ele vai sobreviver, vamos!
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Te encontrei por acaso
RomanceElena é advogada, mas não sabe se realmente é isso que a faz feliz. Uma noite como outra qualquer ela decide ir para uma palestra, depois de sua sócia insistir muito que ela fosse. É então que na mesa do coffee break ela conhece Rafael. Ele é genti...