Dejavú

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     Ele se levantou, pegou o objeto, o examinou, abriu e fechou a lâmina algumas vezes, e o segurou perto do braço, com a lâmina rente a sua pele, Kenma pressionou um pouco contra sua pele mas sem machucar. Ele parecia em um estado de transe, mas quando percebeu o que estava fazendo parou, jogando o estilete no chão, colocando as mãos no rosto e começando a chorar.

     - Eu...vou tomar um banho. Acho que vai ajudar - ele pegou uma troca de roupa e entrou no banheiro. Olhou para a banheira media lembrando de quando ele e Kuroo tomam banho juntos ali.

    Ele sorriu.

     Logo Kenma começou a se despir entrando na banheira que já estava cheia de água, afundado todo o corpo lá dentro e voltando sua cabeça para a superfície. Vendo o banheiro daquela forma...era assustador. Kenma teve um dejavú, ele lembrou de quando ele cortou o braço tão fundo com aquele mesmo estilete, que quase teve uma emorragia, ele lembrou da sensação de desespero e alívio, ele lembrou de que acabou desmaiando no banheiro e batido a cabeça no chão, ele lembrou que também viu Kuroo pegando ele no colo e o levando para o hospital, e também lembrou que foi um dos dias que Kuroo soube de tudo. O dia que os dois choraram juntos.

     Ele riu. Riu de tristeza, saudade e desprezo de si próprio.

     Kenma ignorou os seus sentimentos e tomou seu banho. Terminando o banho ele colocou sua troca de roupa e foi para o quarto, chegando lá viu o mesmo estilete de antes. Ele estava com medo do que ele poderia fazer, então ele pegou o estilete e o guardou na cozinha, bem longe de si, e foi jogar para depois ir dormir.

                                                   ●●●

     Mais três dias se passaram, agora só faltam mais sete, uma semana exatamente.

     Kenma já havia acordado, mas não queria sair do quarto, se recusava pelo fato de que não estava mais suportando olhar para um objeto se quer que possa ser usado 'pra cortar. Mas ele tinha de descer 'pra tomar seus remédios. Ele colocou os pés no chão, levantou, caminhou de vagar até a porta abrindo ela, exitando um pouco mas seguindo em frente, ele passou pelo pequeno corredor descendo as escadas e chegando na sala, ele foi ate a mesinha e pegou os dois comprimidos, e os tomou. O garoto olhou para a mesa vendo a faca e o estilete que foram jogados lá pelo menino ontem mesmo.
O loiro tomou uma decisão, decidiu sair. Ele subiu pós um moletom de Kuroo, um tênis, e pronto. Logo, ele abriu a porta e saiu sentindo a luz do sol batendo em seu rosto.

      O garoto começou a caminhar até uma praça próxima, chegando no local ele foi até uma grande árvore meio afastada e se sentou na grama, olhando seus braços, e um pouco do lugar a sua volta. Em poucos minutos, algumas crianças pequenas chegaram, e elas começaram a jogar um bola para o alto e tratar tocar uma para outra.
Kenma sorriu.
Lembrou dele e Kuroo menores quando o moreno o abrigava a jogar vôlei, e acabou que hoje o loiro adora o vôlei por causa dele.

      O barulho da bola quicando e os gritos das crianças fizeram Kenma se incomodar e sair do local. Ele caminhou até sua casa, calmamente.
Chegando em casa, o loiro se jogou no sofá, olhando a sala, a cozinha e...

     Ele subiu até o quarto e foi até o banheiro para tentar esquecer esses pensamentos, mas não conseguia. Estava quase no ponto de fazer aquilo, só precisa de mais um impulso e ele faria.
Chegando no banheiro, ele tirou a roupa ficando totalmente nu, ele olhou para o lado onde tinha a pia e viu o que menos queria. Aquela porra do estilete. Ele jurou ter deixado na cozinha, mas se lembrou de um para emergências que tem no banheiro. Ele tentou ignorar, entrou na banheira e começou a se afundar na banheira, começando a chorar, e ir afundando mais e mais lá dentro, como se não tivesse fim. Quando Kenma sentiu a falta de ar em seus pulmões ele voltou, tossiu um pouco de água olhando para o lado e pensando: merda! Como eu queria você aqui...
E voltando a chorar, só que mais dessa vez. Ele se ergueu e pegou o estilete e começou a se cortar repetidamente em vários lugares do braço, ele viu pingar o sangue vermelho vivo na água quente transparente.

    Ele surtou.

    Ele soltou o estilete o deixando cair dentro d'água começando a chorar e a bater na própria cabeça, tentando dizer em quanto soluçava: Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa! Des...culpa...

     O garoto terminou o banho, saindo meio tonto pelo que tinha feito, ele se vestiu, e enfaixou o próprio braço, pegou o celular e ligou para Kuroo:

    - O que foi, gatinho? Por que você tá chorando?

    - Eu...eu fiz de novo...eu fiz...me desculpa! - ele começou a chorar.

    Ele não conseguia olhar para Kuroo, achava que o mais velho estava bravo com ele, quando na verdade, Kuroo não parava de encarar Kenma. Estava preocupado, queria saber se o menor estava bem.

    - Kenma, tá tudo bem, tá tudo bem, eu não tô bravo! Mas você tá bem? Me mostra seu braço, por favor! - Kenma virou a câmera do celular para o braço enfaixado, mostrando a Kuroo seu estado.

    - Eu tô bem, só... - Kuroo o corta.

    - Eu vou 'pra aí hoje!

    - Não! N-não...você tem que jogar! Eu vou ficar bem, eu vou ligar 'pro Lev aí você vai poder jogar.

    - Kenma, você tem certeza disso? Você me promete?

    - Sim, eu prometo. Agora é melhor desligar porque você tem que descansar.

    - Tá bom Kenken, boa noite.

     Eles desligam.
    Kenma manda mensagem 'pro Lev:

                                                  Lev

                                                   - Prfvr, vem aq em casa...eu fiz de nv

    - Chego em 2.

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑖𝑛𝑢𝑎....

Obrigado por ler☆

I Miss you, KurooOnde histórias criam vida. Descubra agora