0.9

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Finalmente era sexta feira, a semana de provas já tinha acabado e eu finalmente estava livre para o fim de semana.

Pelo menos era o que eu achava até meus pais chamarem meus tios para passar o fim de semana em casa.

"Que bom que você escolheu medicina mesmo."

Minha tia começou a falar na mesa de jantar e coloquei uma garfada de batata na boca para não precisar responder nada.

"Mais uma médica na família!"

Meu tio complementou e eu apenas baixei os olhos espetando um pedaço de carne no meu garfo.

"Ela não fala mais?

Minha tia perguntou com uma voz tão melosa e falsa que me lembrou a Dolores Umbridge de Harry Potter.

"Desde aquele acidente idiota ela está assim, nunca mais foi a mesma."

Minha mãe disse irritada enquanto me olhava com um olhar mortal do outro canto da mesa.

Senti meus olhos marejando quando comecei a relembrar daquele trágico dia.

"Como foi acordar e relembrar de tudo?"

"Sente falta dele?"

"Ele era seu namorado?"

"Você viu o corpo dele?"

"A mãe dele acreditou em você?"

"Seus pais ainda tem o vídeo da batida?"

"Você estava bêbada?"

As perguntas eram disparadas na minha direção e eu simplesmente não respondia nada.

Percebi que estava quase no meu limite, ainda não estava chorando mas faltava pouco para desabar ali mesmo.

Corri para sala, peguei as chaves do carro, meu celular, entrei no meu veículo, prendi o cinto de segurança e acelerei o carro para o apartamento de Madi.

Meus pais começaram a me ligar desesperadamente mas eu apenas ignorei as chamadas. Mudei meu rumo quando lembrei que eles conheciam o apartamento da Madi.

Virei duas ruas e comecei a dirigir em direção ao apartamento dos meninos. Tentei ligar para meu melhor amigo avisando que precisaria usar o apartamento, mas ele não atendia.

Liguei para Josh, Madi, Chris, Matt, mas nenhum deles me atendeu. Parei o carro na rua e fui para o apartamento o mais rápido que consegui, sem ligar mais para a autorização, agora já chorando.

Quando cheguei no andar certo, abri a porta, tranquei de volta e corri em direção ao quarto de visitas onde pude finalmente desabar.

Os soluços começaram a preencher o ambiente, junto com o barulho do choro e da minha respiração acelerada.

Os cabelos morenos, os olhos pretos, as tatuagens, o seu jeito de acalmar minhas crises de ansiedade.

"Eu preciso de você aqui Lu."

Sussurrei para o vazio esperando uma resposta, enquanto a dor se alastrava em todo meu corpo.

"Volta para casa."

Eu tentei mais uma vez, mas ele não me respondeu. Meu coração estava tão vazio, tão destruído, com tanta saudade...

Nada mais ao meu redor importava, só pensava em como eu sentia sua falta. Luke era um irmão de coração. Éramos inseparáveis, fazíamos tudo juntos e apesar de tentar esquecer a morte dele uma parte de mim sempre me lembrava da tragédia.

Depois do acidente minhas crises pioraram. Além de ter que lidar com o luto, meus pais me cobraram mais dos estudos, deletaram minhas redes sociais e ameaçaram vazar o vídeo do acidente caso eu escolhesse a vida pública.

Chris Sturniolo - My Little SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora