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Perlúdio

[Obs.: Capítulo contém: Tortura psicólogica e física, violência]

Através da penumbra de uma noite incomumente fria no inverno siciliano, o jovem filho do líder mafioso mais poderoso da Itália -, apesar da Sicília ser uma ilha e não fazer parte da Itália continental, ainda é parte do território -, ele se esgueirou do quarto e partiu para o que seria a maior aventura de sua vida.

Com uma mochila pequena cheia de roupas e todo o dinheiro que conseguiu juntar, ele esperou o momento perfeito para saltar o muro de pedras da mansão. Era esperto o suficiente para conhecer cada um dos pontos fracos dos soldados que protegiam a casa e, em dia de jogos de futebol, eles estavam mais propensos a esquecer suas funções e deixavam certos espaços desprotegidos.

Escalar o muro foi a parte fácil, saltar para o lado de fora, nem tanto assim. Ele sentiu um impacto forte atingir sua cabeça, suas costelas doeram e o ar se tornou rarefeito em seus pulmões.

O jovem rapaz lutou contra o medo e toda a ansiedade que rastejou para assumir o controle de sua mente.

As mãos estavam tremendo o suficiente para que ele não conseguisse tirar o celular do bolso, a visão entrou em desfoque e tudo ao redor desvaneceu em uma cacofonia de sentimentos intensos.

Na primeira tentativa de sair do chão, ele falhou vergonhosamente. Seu pai estava certo em pensar que ele era fraco, completamente incapaz de tomar decisões e muito influenciável. Puxando o ar para dentro e fora do corpo trêmulo, o moreno se sentou no chão e limpou toda a terra da calça, após a aterrissagem desastrosa.

Usar duas camisas, um casaco, um cardigã e grosso não foi o bastante para superar o frio abaixo de zero graus, entretanto, nenhum dos soldados percebeu sua fuga, tudo que ele precisava fazer, era caminhar até a rua mais próxima e conseguir um carro para chegar o mais longe possível de casa, então ele seria livre de todo o caos que teve que conviver até aquele momento.

Baixando a aba do boné para esconder o rosto, ele seguiu por um caminho fora da estrada que levava para a mansão no condomínio privado. Mesmo com o pé torcido, um braço dormente e, possivelmente, costelas fraturadas, conseguiu um táxi. Naquela noite, o jovem dormiu no quarto de um motel sujo, o único lugar que não exigiria documentos. A cama era pequena e rangeu a noite toda, principalmente quando ele começou a se virar de um lado para o outro porque o sono não vinha, ainda que suas pálpebras pesassem uma tonelada.

Quando amanheceu, seu primeiro pensamento foi ligar para seu companheiro de fuga, seu melhor amigo, a única pessoa que lhe conhecia e não julgava suas fraquezas, entretanto, ele sabia que àquela altura, seu pai e toda Borgata estava em seu rastro e qualquer movimento em falso lhe levaria de volta para casa, para o inferno que ele estava fugindo sem olhar para trás. O loiro de olhos azuis e semblante de pedra, comprou o celular da recepcionista do motel por um preço exorbitante e ligou para pessoa que lhe deu coragem para lutar contra a responsabilidade que estavam empurrando em sua direção.

Foi uma conversa rápida, apenas para marcar o lugar de encontro antes da viagem para fora do país, que aconteceria em dois dias e com um sorriso no rosto, seguiu seu caminho para longe daquele motel imundo. Com esperanças de que seus dias a partir dali, seriam melhores.

Mas não foi o que aconteceu.

Ele conseguiu chegar no hotel que marcou com seu amigo, no entanto, tudo que aconteceu depois que ele entrou no quarto foi o mais puro terror e toda a esperança sumiu rapidamente, dando espaço ao sentimento de traição.

O loiro não encontrou seu amigo ali, em seu lugar estava um cômodo decorado com móveis simples. Estranhando a ausência, ele tirou o novo celular do bolso e foi nesse instante que ele sentiu um objeto contundente atingir sua cabeça e desmaiou antes que pudesse entender o que estava acontecendo.

DON °ⁿᵃʳᵘˢᵃˢᵘOnde histórias criam vida. Descubra agora