The door is open.

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O sol já havia começado a se por, tingindo o céu granulado em rosa, laranja e amarelo, uma combinação de cores divina se ele pudesse pontuar, e ele de fato o faria, se tivesse tempo para tal.

Um suspiro indesejado escapa de seus lábios quando ele confere o relógio, e percebe que sua caminhada rotineira à cafeteria se tornou uma punição que durou vinte minutos a mais do normal, com um imprevisto que o fez retornar para casa sem a porra do café.

Malditas sejam essas pessoas inaptas a conviver numa sociedade pacífica... honestamente, ele não havia feito nada e mesmo assim foi gritado por uma mulher convencida de que merecia passar em sua frente naquela droga de fila.

Talvez se ele tivesse um pouco mais de paciência, respirado e desviado o caminho para outra cafeteria ao invés de ter ido direto para casa com 'desgosto' estampado na testa, pelo menos ele estaria em sua loja no horário, com um copo embaraçosamente grande de café numa mão e um maço de cigarros na outra.

Outro suspiro escorre por seus lábios quando ele chega na fachada de sua loja, está tudo apagado como de costume, e ele se esforça para não usar a moleza que o escuro traz consigo como desculpa para evitar os consertos de hoje.
Ele realmente não podia, já que estava procrastinando esse trabalho há pelo menos uns onze dias. Céus, ele era terrível nisso, onde já se viu um relojoeiro que não sabia administrar seu próprio tempo.

Bom, Quackity conseguiu essa proeza como ninguém, para ele o tempo passava rápido demais, como se alguém tivesse lançado uma pedra em sua ampulheta, e a areia estivesse escorrendo para onde não devia enquanto ele tentava segurá-la desesperadamente entre seus dedos.

Mas não funcionava, como sempre.

Ele destranca e passa pela porta de sua loja e humilde residência, aquele sino de sempre o cumprimenta tilintando agudamente, quase irritante. E ao que entra, imediatamente já sabe que há algo errado, peças fora do lugar, o ar carregado, cheiro de sangue, mas ele não se alarma com isso, não como nas últimas onze vezes.

Ao invés disso ele desvia com facilidade da bagunça e das pilhas de engrenagens para ir direto aos fundos da loja, só pra ver o chão sujo de sangue e um homem que aparenta a mesma idade que ele sentado no chão, bebendo de um coelho morto.

Nojento hein.

Caralho, ele tinha acabado de chegar, "Wilbur... espero que você saiba que eu não vou limpar essa sujeira'', ele diz com familiaridade, pegando um pano velho e um balde na prateleira do canto, ''porque você tem que fazer tanta bagunça?" O homem em questão levanta a cabeça e olha para Quackity, ele não consegue ver seus olhos por de trás das lentes carmesim, mas pode dizer que eles estão sorrindo antes mesmo de sua boca se curvar, e quando o fez, sorriu largo pela chegada do outro, vermelho, cheio de dentes e sangue. Sempre é meio opressor ver cenas como essa, apesar do costume, e o relojoeiro evita torcer o nariz.

"Pensei que você tivesse abandonado a casa para mim" o outro responde com um sotaque britânico carregado e um tom brincalhão, Quackity nem se dá ao trabalho de responder enquanto revira os olhos para essa besteira "poderia haver menos sujeira mas você não quer colaborar comigo também", agora ele faz questão de pintar a voz com falsa mágoa.

Ele sabe sobre o que está falando, "você é tão insistente que é irritante, esqueça essa ideia, sanguessuga", ele joga o pano no outro e se vira para ir encher o balde, o vampiro grunhe chateado e deixa o animal de lado para se levantar e começar a seguir o relojoeiro pelos corredores, como se fosse uma criança, "vamos lá Q, nem doeria, eu faria não doer", o vampiro resmunga tentando fazer sua propaganda, que é ignorada enquanto Quackity ri em descrença, ele sabe melhor que isso.

Com o balde cheio, ele o passa para as mãos do outro como quem diz 'se vira' em silêncio, "se realmente precisar de mim eu estarei na oficina, tenho trabalho e não quero você em cima de mim de novo." Ele adverte, tendo que admitir que só demorou tanto com essa droga de relógio por conta das brincadeiras do outro homem na sua frente. Ele não o deixa responder enquanto vai direto para seu local de trabalho.

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