Eu estava lá mais uma vez. A avenida se estendia até onde meus olhos conseguiam ver.
Era larga, a divisão da pista dupla era nada mais que uma pequena mureta de concreto desgastado, na qual eu subi, andando com os braços abertos, como um equilibrista em sua corda bamba.
Era noite, e tudo estava escuro. Haviam poucos postes iluminando partes específicas e afastadas da via, lançando todo o resto em uma penumbra sinistra. Dos dois lados das pistas, tinham casas simples e velhas, pintadas em cores escuras, pareciam desaparecer na escuridão. Cada porta e janela estava fechada, bloqueando qualquer invasor ou intruso. Bloqueando cada rota de fuga para mim.
Eu estava com medo e sabia que deveria correr. Logo ele chegaria. Vindo do extremo oposto ao qual eu me dirigia, andando rápido e continuamente. Até me alcançar.
Precisava correr! Mas minha consciência não tinha controle sobre aquele corpo. Aquela versão de mim não sabia de nada, apenas queria brincar naquela avenida.
Então ela ouviu. Os passos pesados começaram, vindo de algum lugar às suas costas. Ela se virou e pavor encheu seus olhos castanhos e seu rosto pálido. A garota pulou da mureta e começou a correr pelas pistas.
Tudo estava vazio e morto. O ar parecia mais frio agora, não estava assim antes, estava? Ela não sabia dizer. Havia neblina, e alguns dos postes piscavam, era difícil enxergar muito longe.
A garota gritou, mas não tinha som. Não era possível ouvir nada, nada além dos passos pesados que a seguiam e aceleravam a medida que ela corria.
Tinham lágrimas no seu rosto agora. A avenida não terminava, não existia final. Não existia saída nem refúgio. Ninguém viria ajudá-la, estava completamente sozinha. Exceto por ele, mas ele não queria ajudar.
Correu mais, olhando pra trás de tempos em tempos.
O som era a pior parte. Ecoando no vale de casas ao redor, na avenida, na noite.
Os passos. Os passos. Os passos. Passos. Passos. Passos....
Estavam mais perto. Há quanto tempo ela estava correndo? O tempo parou de fazer sentido, ele não tinha poder naquele lugar.
Talvez pudesse pular a mureta. Ganharia mais distância.
Tarde demais.
Aquela sensação estava ali mais uma vez. A ponta afiada contra as suas costas. A dor percorreu seu corpo, irradiando do ponto onde a lâmina lhe atravessara para cada pequena fibra do seu corpo. Era frio, mas o sangue quente fazia um contraste engraçado.
Caiu. Não havia mais ninguém lá além dela mesma. O mundo não tinha muito foco.
O asfalto era áspero e arranhava a sua bochecha. Mas ele tava ficando mais confortável, como se estivesse macio e maleável abaixo de si. O cheiro forte de ferro impregnou o ar. E a noite pareceu mais escura de repente. "As lâmpadas dos postes devem ter queimado", pensou a garota, distraidamente.
E então o mundo mudou.
A avenida sumiu. As casas desapareceram junto com os postes e a noite se tornou dia.
Ela acordou. Seu corpo tremia e transpirava. Seus pijamas estavam úmidos, assim como as cobertas. Suas costas doíam. E estavam frias. Era engraçado.
Ela sonhou com alguma coisa, não sonhou? Não conseguia lembrar. Não importava, tinha que ir trabalhar.
O dia passou depressa. Anoiteceu, hora de ir pra casa.
Parou na entrada da larga avenida que a separava de casa. Era só seguir reto e estaria lá. Algumas luzes piscavam.
Inconscientemente, ela fez outro caminho.
~~ NOTAS ~~
Eu estou a muito tempo sem produzir nada, então tenham piedade da minha escrita. Não estou 100% satisfeita com ele também, mas foi o melhor que consegui fazer.
Foram exatas 555 palavras no total do conto.

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Terror nos Sonhos
TerrorConcurso Dois - No Mundo dos Sonhos Total de palavras no conto - 555