Estava na minha oficina, no meu porão. A única luz era a que vinha da minha lamparina, que iluminava meu rosto destacando a estrutura óssea na minha face, projetando sombras escuras e profundas.
Estava apoiado na mesa de madeira maciça, as duas mãos segurando a borda, costas levemente curvadas, encarando o resto do escuro cômodo, pensando.
Estantes intermináveis com livros e órgãos engarrafados olhavam para mim, poeira voava na luz, papéis, canetas e lápis espalhados pela sala.
Eu não sabia o que pensava, mas era sério, intenso, importante, não queria ser interrompido, mas fui.
A porta abriu com um estrondo e rapidamente movi minha cabeça para trás com ira para ver o rosto do transgressor. Ele tinha sangue na face, a camisa estava aberta até metade, os negros cabelos estavam bagunçados e em seus olhos o brilho do pavor estava instalado.
A luz do andar de cima passava pela porta escancarada e doentiamente o jovem tentava descer as escadas.
Virei o meu corpo e ele decidiu falar.
"Senhor..."
O jovem homem falou sem fôlego.
"Prometeu..."
Ele falava com dificuldade.
"Prometeu fugiu."
E caiu do penúltimo degrau antes do porão. Corri ao seu socorro, vi que sangrava do abdome.
Ajoelhei no chão, junto ao rapaz e segurei a sua mão. Ele tremia, os olhos estavam arregalados e havia sangue para todos os lados, em suas roupas, em seu rosto, no cabelo.
"Desculpe, senhor..."
O homem sussurrou
"Prometeu, ele..."
E falou pela última vez.
Deixei o rapaz no chão do frio cômodo e corri escada acima com a minha capa me acompanhando com pressa. Prometeu... algo assim iria acontecer.
Andava pelos corredores empoeirados da minha casa, corredores esses iluminados pelas velas pálidas assim como o rosto do pobre rapaz morto por Prometeu.
Cheguei a minha sala, enorme, cheia de livros, móveis antigos que nada valem. Pinturas adornam as paredes. Darwin, Shelley, Byron e muitos mais! Pessoas que me inspiram, me tornaram o que sou hoje.
E Shelley... Shelley poderia ser considerada a mãe de Prometeu. Eu deveria ter entendido seu aviso, mas acreditei que metal fosse mais seguro que carne, que um bom coração em uma casca que não fede seria mais adorável que um cadáver ambulante, mas talvez ferro frio não seja capaz de bondade como o sangue quente, a carne mamífera! Ela detestaria Prometeu, ela me detestaria.
Ser odiado por alguém que admira é um terrível sentimento, mas até Prometeu existir, mortos não sentiam nem sabiam.
Prometeu fugiu? Não deixou nenhuma pista além do jovem morto? Ele queria fugir mas não é tímido, ele mostraria do que é capaz, ele mostraria para mim o quanto me detesta.
Sucata desgraçada, cria de prostituta sem alma...
Subi pelas escadas em direção aos quartos e foi aí que eu vi, corpos ensanguentados, empilhados um em cima do outro, jogados pelos cantos, com os abdomens abertos, sem olhos... Tinham cadáveres para todos os tipos e gostos. Todos os meus funcionários, todos aqueles bons homens, mortos por Prometeu...
Por algum motivo aquele andar estava levemente mais quente que os outros. Curioso, continuei andando em busca da fonte de calor.
Aquele rapaz que veio até mim, sangrando e quase morto, só veio até mim porque Prometeu quis, se não fosse por isso, ele estaria morto como seus colegas estão agora.
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A Caçada Pelo Primeiro
Short StoryUm cientista imprudente e genial é obrigado a enfrentar as consequências de suas ações depois que sua criação escapou de suas mãos.