Choi San

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Por mais que estivesse atrasado, eu me sentia livre enfim. Livre para poder observar as pequenas coisas ao meu redor, mesmo em um dia chuvoso. Chuva. Acredito que a chuva nada mais é do que as lágrimas de alegria ou tristeza daqueles que nos ajudam a seguir o caminho certo da vida. As gotas finas que caíam sobre mim só sabiam me deixar ainda mais relaxado. Tudo estava tão bom, tudo ia tão bem. O que me deixou ainda mais feliz foi vê-la no final daquela rua deserta neste dia. Tão linda. Seguia para o ponto de ônibus com as suas pastas em mãos aflitas, pois assim como eu, também estava atrasada. Mas a verdade é que ambos estávamos no tempo certo. No nosso tempo.

Seguia em frente com o meu guarda chuva transparente. Não podia fazer nada. Estava a pé e não iria pegar um ônibus, mas a sensação de te ver melhor e de até mesmo te direcionar uma única palavra pareciam alfinetadas em meu peito. Chuva. As gotas começaram a engrossar e com elas, um vento forte. Seu cabelo voou na minha direção e assim eu pude sentir o seu odor doce e floral. Parei em meio a calçada e te vi. Olhares. O seu olhar sobre o meu me fez sentir um imenso calor em meu corpo. Já não saberia explicar o que estava acontecendo e talvez nem quisesse. Você me olhou engraçado. Por uma fração de segundos pude ver a sua tensão se esvaecer. Seu sorriso iluminou o meu dia e bobo, bobo fiquei. Meu guarda chuva havia virado por conta do vento e logo o mesmo fez com que aquilo que era meu, voasse para longe. Sua risada fora finalmente escutada. Eu já não poderia mentir, o seu sorriso me fez sorrir e juntos estávamos inciando uma sinfonia calorosa em meio aquela ventania. Chuva. Ela mesma que havia começado a cessar, parecia rir conosco. Lágrimas de alegria então?

O ônibus chegou e o calor que me dera me deixou rapidamente. Por favor, não. Você foi direto para a grande fera de metal que queria nos separar, mas se separar você não quis. Quando eu virei o meu rosto pude escutar a fera abrir a sua boca e libertar a princesa sem título aos meus olhos. Você não me olhou diretamente, mas suas bochechas coraram ao descer. Vermelhas estavam e combinavam contigo. Vermelho era a sua cor favorita? Poderia ser. Deveria ser. Combinava tanto contigo. Chuva. Ela diminuía aos poucos até se tornar um leve sereno. A fera se foi e sozinhos estávamos novamente. O que queria? O que eu queria? Não tinhamos palavras para soltar, mas tínhamos uma história para escrever. Você olhou pra mim no momento em que eu olhei pra você. Conexão. Ambos rimos abafados e voltamos o nosso olhar para o chão, ato que me fez pensar. Você parecia estar compromissada, mas desistiu e agora comigo está. Sorte.

De repente seus olhos brilhantes vem ao meu encontro e novamente quente eu me sentia. Sua mão macia como seda tocou o meu pulso e me puxou rua abaixo. Poderia fugir, me soltar,...poderia tentar, mas você era um vício. Um vício benefício. Você se permitiu virar o rosto para me ver e eu pude notar que estava gostando. Chuva. Ela que era forte e rígida passou a ser calma e serena para o nosso bem. Você seguia em passos rápidos e constantes até entrarmos em um local quentinho e harmonioso. Uma cafeteria local. Você soltou o meu pulso e juntos observamos a área. Nos tons pastel bem claros, suas bochechas rosadas eram as únicas cores vivas que podia indentificar. As únicas cores vivas que fazia o meu coração palpitar. Você, toda desengonçada, se senta em uma mesa afastada onde haviam bancos com estofados de couro. Sua mão pequena é batida de leve naquele estofado me fazendo o melhor convite do dia. Segui devagar e me sentei ao seu lado.

Seu corpo ao lado do meu me fez sentir como se estivesse no maior aconchego de toda a minha vida. Seu cheiro doce ainda me preenchia e o seu sorriso em minha memória parecia me fazer cócegas para me deixar feliz pelo resto do dia. O cardápio você pegou e fez um bico com os lábios a procura do que queria. Como almas interligadas, fomos com os nossos dedos indicadores para o mesmo ponto. Café expresso com creme e chantilly. Muito doce para a manhã, mas forte para o nosso corpo. Rimos em uníssono preenchendo aquele ambiente de doçura. Você me fazia tão bem. Chuva. Havia voltado a chover forte lá fora. Já não sabia qual era o motivo das lágrimas caírem com tanta força. Você olhou pelo vidro e seus olhos me revelaram uma coisa no mesmo instante. A chuva não a incomodava. Na verdade, vocês pareciam ser amigas de longa data, nas quais trocavam papos aos ventos e caminhavam juntas até a outra se animar. Lágrimas de tristeza? Era você quem precisava fazê-la parar de chorar?

Nossos pedidos chegaram e quase que instantaneamente fomos tomados pela felicidade e pelo cheiro das nossas bebidas. Assoprando para não corrermos o risco de queimar a língua, o garçom se permitiu ir ao jukebox e colocar uma música para tocar. A música, a melodia, a canção ecoada parecia dançar com as águas do lado de fora. Chuva. Harmonia pura. Você e eu bebemos aos poucos e rimos pelos 'bigodes' que foram feitos pelo chantilly em excesso. Já não podia dizer o que era mais doce. O que eu pedi ou o que eu ganhei? Você, atenta que estava, fecha os olhos ao escutar a nova melodia a ser tocada. Toque. Queria tocar você. Foi quando eu me inclinei e lhe dei um beijo sem que você abrisse os olhos. Como se estivesse esperando aquilo, você passa os braços sobre os meus ombros e aceita o beijo. A sua boca com a minha, o seu sabor com o meu. Doce. Doce melodia. Chuva. União de duas almas pelas lágrimas vindas do firmamento.

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Chuva: 1000 palavras para você - AteezOnde histórias criam vida. Descubra agora