Capítulo 1

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Roman

  

   Ainda deitado na cama, fito o teto e lembro que hoje tenho mais uma daquelas festas para ir. Na verdade é mais como um encontro.
Começa com um dia inteiro com a família, e termina com um jantar aberto a todas as celebridades e pessoas importantes que se dizem nossas amigos; alguns até são.

Quando digo família, me refiro até aos primos mais distantes que temos. O Papai faz questão de todos os parentes presentes e o Henry, meu irmão mais velho, é responsável o suficiente para nunca
desobedecer o nosso velho. E acredite, ele sempre encontra todo mundo, não há como se esconder.

Não sou totalmente contra essas comemorações, só não acho legal estar com algumas pessoas que só vejo uma vez a cada ano, apenas por ser uma tradição. E ainda por cima, expôr nossa família e ter que confraternizar com estranhos milionários a noite inteira por causa da imagem social que temos.

Durante o dia conversamos, bebemos, comemos muito e trocamos presentes como se fosse o Natal, e estamos no começo do ano ainda... É ridículo, mas acostumei com o tempo. Confesso que muitas vezes desejei que o Papai Noel me jogasse do trenó em movimento ao ter que passar por isso, mas sempre obedeci meu pai e fiz o que tinha que fazer.

A entrega do presente é sempre o momento mais importante segundo ele. É como se fosse a cereja do bolo sabe...
Todos da família precisa comprar um presente, algo aleatório porém significativo de alguma forma. Então precisamos observar durante o dia quem pode precisar daquilo que compramos e enfim entregar para seu verdadeiro dono.

Eu sei, é estranho não é? Mas meu pai tende a ser esquisito.

Eu sempre compro chocolates e dou a primeira pessoa que aparece no meu campo de visão, exercendo o pecado da gula. Evito a Mia, pois minha irmãzinha é dedo duro e alérgica a cacau. O Joseph é meu cúmplice, o moleque descobriu meu segredo ano passado e eu tive que suborna-lo para que o nosso pai não descobrisse. Agora tenho que levá-lo ao clube sempre que eu for.

Minha rotina é um pouco agitada, passo as manhãs na empresa da nossa família, as tardes passo uma hora na academia, duas no boxe, e o restante no escritório em casa. As noites quase sempre precisamos ir a eventos beneficentes ou festas em que o Henry faz questão que estejamos, como jóias raras em vitrines de luxo.
Mas as vezes consigo fugir.
Quando não estou no escritório em casa, estou no clube aproveitando um pouco da minha jovem vida. O que só acontece em alguns finais de semana. Acredite, o Henry consegue ser um verdadeiro pé no saco.


Desde que a nossa mãe faleceu, ele assumiu o dever de chefe da família quando o papai não estava, ou seja; quase sempre.

Nosso pai trabalhou praticamente a vida inteira a serviço da família real, como chefe de segurança da rainha. Então quase não aparecia em casa, e por ser muito perigoso ele não nos envolvia nesses assuntos, nos deixando distante desse mundo. Vivíamos com uma babá e ele vinha sempre que podia. Aparecia do nada e sempre trazia algo delicioso para nós.


O Henry ganhava seu bolo de nozes preferido, e mesmo não demonstrando sabia que ele se lembrava da mamãe a cada colherada. Eu ganhava os melhores pães de mel do mundo. Nosso pai sempre fazia nossos momentos juntos serem inesquecíveis, e só nessas horas eu via meu irmão sorrir e parecer realmente vivo. Mas quando o papai ia embora e  ficávamos com a babá, ele se fechava novamente.
Era como se seu único dever fosse cuidar de tudo, principalmente de mim. Queria poder dizer pra ele que não precisava ser assim, que poderíamos cuidar um do outro. Mas aquele menino de dez anos não se permitia ouvir seu irmão de o oito anos, e nem se permitia pensar dessa forma. A responsabilidade de um adulto já havia crescido muito dentro dele.

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