Não-me-esqueças

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Caminhando pelo mato afora,

a brisa fresca de uma recém tempestade passada.

O casaco me protege do frio,

mas eu não sei se isso vai me ajudar por muito tempo...

Enquanto caminho, um filme em minha mente está vívido.

Cenas de todos os gêneros possíveis:

momentos com risadas,

momentos tristes,

momentos de raiva...

O que noto em todas as cenas

que sempre aparece um vulto, um breu...

não o reconheço, não lhe enxergo

sua cara está toda distorcida,

mas em sua aurea sempre transparece um sentimento de paixão...

Eu não consigo reconhecê-lo.

Eu não consigo alcançá-lo...

e, por fim, este filme terminou enfim...

A história do protagonista não me deixou entender

o que se passou por todas aquelas cenas de um possível amor.

Acordo-me, enfim, na realidade que me encontro

no meio do mato, em momentos de reflexão.

À minha frente um campo de lindas flores

estão por todos os lados:

à frente, atrás, do lado e doutro

Eu caminho devagar até chegar no meio delas.

Me sinto acolhido, um sentimento de leveza,

mas um frio de meu casaco me abraça com firmeza...

Eu não consigo tirá-lo para, por fim, sentir o abraço

do campo minado de flores azuladas.

Um passinho falso, sinto-me que falharei,

mas quando chego no meio daquele campo de flores

um coração roxo pulsante.

Fico sem reação, paralisado então

seria aquele o meu coração?

Perdido, abraçado por todo aquela consideração,

ele parece-me machucado...

mas ao mesmo tempo curando-se...

cheio de raízes em volta

daquelas flores não mortas.

O casaco, que antes tentei tirar de todas as formas

começa a abrir sem esforço.

O zíper faz barulho que me desperta do transe do coração

o frio que nele estava impreguinado

deixa que a aurea das flores me conforte

e sinto em meus ouvidos um zumbido entristecido...

Eu não consigo entendê-lo,

eu não consigo decifrá-lo,

o que dizes? E por que choras?

Será que está realmente em prantos?

Até que o casaco se desprende por completo!

Minha visão se turva e minha cabeça começa a doer

parece-me que estou transcendendo do meu ser.

Eu não me desespero, por algum motivo que não consigo compreender

até que eu volto a enxergar, e então consigo ver

aquela carcaça que me trouxe até aqui

era a mesma daquele filme doutra hora,

já não mais distorcido, e nem esquecido.

Aquele era alguém amado,

e eu soube e compreendi então,

que as amarras que me prendiam naquela linda ilusão

naquele lindo filme que não era de ação,

não era de comédia,

era apenas uma bela triste ilusão do que seria amar

amar alguém que não conseguiu corresponder...

esta era a dor doutra hora, doutro momento,

mas parece-me que agora eu estou entendendo...

Agora o que o casaco falava, eu conseguia entender

ele dizia-me em prantos com um pouco de prazer

"não-me-esqueças, não-me-esqueças..."

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