Um propósito de vida

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O Caminho de Santa Bárbara de volta para a Quinta era longo. Talvez pelos dedos a menos, os quais fiz questão de improvisar algo para a que a dor sobre-humana parasse, fizessem com que o caminho fosse mais longo.


O Celeiro estava no mesmo sítio. As ovelhas passeavam livremente, mas algo não batia certo. Entrei em casa e o silêncio ensurdecedor foi clarificante. Ela tinha partido. E não podia esperar menos após... Tudo o que aconteceu. Por impulso verifiquei o quarto do JJ... Pouco ou nada restava. O Cavalo dela também tinha partido. Uma casa vazia, e um monte de pensamentos. A Dina me tinha deixado com apenas isto.


Pois bem, nos dias que passaram tentei agir com a maior naturalidade. Tratar das ovelhas, do gado e do terreno... Como se tudo o que tivesse acontecido fosse resumido à vida quotidiana numa quinta durante 3 ou 4 dias, à simplicidade e ao facto de me aperceber que estava... sozinha, e sem nada em mente. Apenas os dedos, o abdômen... Uns analgésicos. Shimmer... continuava comendo como se tivesse o estômago de dois cavalos, apetite que eu apreciava e não conseguia ter após tudo aquilo que presenciei em minha vida.


Mas ao quarto dia, Ao olhar no horizonte...após o quarto dia de... Esquecimento? Anestesia? Não sei. O nome dele me veio de novo à cabeça. Tinha andado distraída, a fingir que era uma pessoa normal e que não matei um monte de infetados em menos de metade da minha vida...lavando a louça, alimentando as galinhas...tudo normal. E então olhando aquele horizonte...Jackson me passou pela cabeça. Jackson como eu conheci, jamais haveria de existir. E o que será que restava de Jackson? Joel estava morto, e por muito que na maioria das vezes a minha cabeça escolhesse propositadamente afastar-se...da verdade, assim lhe chamam. A minha cabeça preferia pensar que teria sido um grande sonho terrível meu. A minha cabeça não só preferia pensar isso, como tomou isso por verdade. Porque... era o Joel. O Joel era demasiado tudo, demasiado vivo, para alguma vez estar morto.


O momento em que tive a Abby nas minhas mãos, em que pude fazer justiça... Algo esquisito me chocou o corpo e uma voz interior falou "para, não és capaz". A Abby que tinha tirado a vida ao meu Joel.. Aquele.. Monstro pior do que qualquer coisa que eu já tenha espetado uma faca na vida, naquele momento não existia. Olhei-a de frente e vi... alguém que estava tentando proteger alguém. Como o Joel me protegeu desde que me conheceu. E não fui capaz.


Mas... não podia mais não enfrentar esta realidade. Este lugar, que antes me trazia paz... nos últimos 4 dias, serviu apenas para processar tudo o que aconteceu. Tentava ignorar o enorme vazio que sentia neste espaço tão grande, o quarto, o lugar dela vazio. Todas as coisas dela, simplesmente não estavam mais cá. Mas Porquê? A Dina era a única coisa boa que me restava na vida. E o que estava eu aqui a fazer sem ela? Um lugar que foi pensado para nós? Mas a mensagem que ela deixou foi clara. Ela foi-se embora, e eu fui apenas uma desilusão. E o Tommy? Com que cara lhe iria olhar? Nem sei se tenho a coragem de olha-lo na cara, e contar... tudo. Tudo o que aconteceu. Nada disso importa. O que importa é que estou aqui, sozinha. Tudo desde a morte dele, parece que a minha vida se tornou num beco sem saída. E se regressasse a Jackson? O que iria encontrar? Nem sei se há alguém a minha espera. Se a Dina estiver em Jackson, provavelmente nem me quer ver. E o Tommy só me acolheria bem se dissesse que... Abby estava morta. Mas não foi isso que aconteceu. Não só não aconteceu, como parece que ando nesta quinta às voltas Há 4 dias, a recuperar, mas a fazer sabe-se lá o quê.


Preciso de regressar a Jackson. Á casa do Joel. Ver o Tommy. Explicar-lhe o que senti no momento em que tive a Abby nas minhas mãos. Em que pude mata-la. E porque não o fiz. O Tommy que eu conheço, não compreenderia. Mas a verdade, é que não há nada que possa trazer o Joel de volta. Eu só queria.. Arranjar um motivo para viver neste momento. Vontade. Perceber quem sou. E não é aqui, sozinha, a dar voltas a esta quinta que vou perceber. Quero olhar para a Dina, mais uma vez. Tudo bem se ela até nunca mais me quiser ver, só quero saber que ela está bem. E se ela estiver, as chances de ter regressado a Jackson, são elevadas.


Nos próximos dois dias tentei curar-me autónomamente o mais possível para ter forças de levar a Shimmer até Jackson. Alimentei-a bem, assim como a todos os animais da quinta. Provavelmente era apenas um até já. Era um não sei. Eu própria já não sentia magia ao estar aqui. Ao estar em qualquer lado em específico, não tinha... uma propósito em estar viva. Mas talvez regressar a Jackson me ajudasse, em alguma coisa, em alguma parte.


The Last of Us Part IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora