- Esses clientes que aprecem bem na hora de fechar me deixam louca! Principalmente na sexta-feira, poxa, eles sabem o horário e sabem como estamos cansadas- disse enquanto abaixava a porta de metal e cobria o nome da loja "Princesa e a plebeia – roupas, acessórios e calçados " da minha visão cansada.
- Ah Érika, você sabe que é sempre assim, não sei como não se acostumou – Annie, minha colega de trabalho e melhor amiga, respondeu enquanto arrumava seu salto cor-de- rosa neon no pés, a noite ia ser daquelas.
- Tem razão – dei de ombros trancando o cadeado no chão, rodeada pela brisa fria do mês de julho e pelo silêncio dos carros que naquele horário, oito horas da noite, já não se acumulavam na avenida que ficava em frente a P&P – Bom, pelo seu look, sei que vai sair e que a noite vai ser longa – impliquei
Annie usava um vestido de paetê furta cor e suas sandálias rosas inconfundíveis, era sua cor favorita. Ela estava linda e feliz.
- Hoje é sexta Érika! Você deveria vir comigo. Não é saudável alguém na sua idade consumir tanto filme de comédia romântica as sextas-feiras, você precisa se distrair!! – ela começou seu tradicional sermão.
- Você tem razão. Mas saiba que hoje, minha noite de cinema não será maratona de clichês românticos, mas sim musicais e talvez uma animação para relaxar – provoquei.
- Você não muda nunca, não é? – ela me abraçou – se mudar de ideia sabe onde estou! – disse indo em direção a bar e balada no fim da rua.
Assim que ela virou a esquina, corri para o ponto de ônibus. Já estava atrasada! Que deus me abençoasse e Moe não estivesse lá ainda, mais um sermão por atraso e eu estaria frita!
Por sorte – ou por Deus que estava sempre me salvando de poucas e boas- o ônibus encostou no ponto no horário certo. Cumprimentei o motorista, como sempre, e afundei no último banco do transporte, do meu bairro até a parte rica da cidade, eram uns bons 45 minutos. Por sorte, eu só subia no palco as nove e meia da noite, às sextas.
Meu sonho sempre foi ser cantora, mas sem condições financeiras para pagar aulas de canto e as responsabilidades em casa com minha mãe, tive que deixar esse sonho se tornar um Hobbie, pelo menos por enquanto. Então eu trabalhava de segunda a sábado na loja de roubas e nas sextas e sábados após meu expediente, cantava em uma casa noturna na parte chique da cidade, lá meu eu era conhecida como a plebeia, deixando bem claro que não nasci em berço de ouro como aqueles playboys que sempre tentavam encostar em mim ou pagar um drink, eu nunca aceitava, porém é muito inconveniente, eles acham que por trabalhar a noite, sou fácil e que tem algum direito sobre meu corpo, mas eu não sou assim. E nenhuma mulher que não queira isso, não deve ser importunada diversas vezes, é horrível.
O ônibus encostou no meu ponto, desci e entrei pela porta lateral, como de costume. A fila já começava a crescer na porta de entrada. Ainda bem que estava no horário, pelo menos hoje.
- Até que enfim você chegou! – Moe, meu chefe, veio em minha direção – vai ter que subir no palco, meia hora mais cedo hoje, temos um convidado de honra e ele quer ver você cantar!
Fiquei boquiaberta e minha única reação foi abraçar aquele senhor bigodudo e gordinho na minha frente. Moe sempre acreditou em mim, e agora uma janela se abria.
- AI MEU DEUS! AI MEU DEUS! – gritei enquanto o abraçava- vou me arrumar o mais rápido que conseguir, prometo que não vou te decepcionar!
- Não tem como você me decepcionar Érika, mas saiba que não há nada certo ainda, está bem? Dê o seu melhor, como sempre fez -ele sorriu e eu corri subindo as escadas direto para o puxadinho que chamava de camarim.
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O som do coração
RomanceErika Morales trabalha como vendedora em uma loja de roupas importadas em uma grande metrópole. De origem humilde, a moça de 23 anos, trabalha desde os 12 anos para ajudar em casa e sua única fuga da realidade é a sua música, Érika ama cantar e sonh...