Boa noite, Alteza! (Capítulo 01)

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Os gritos de Leanor foram diminuindo conforme o céu se tornava mais escuro. Deitados na cama onde deveríamos estar tendo nossa noite de núpcias, acaricio seu cabelo em uma tentativa fracassada de consolá-lo. A raiva preenche meu interior, correndo pelas minhas veias como um barco no oceano.

Todo o carinho que eu nutria por Christon Cole se foi no momento em que vi o cadáver de Joffrey desfigurado no salão. Por mais que eu pouco conhecesse meu noivo, o acordo que tínhamos fechado naquela praia, no dia em que meu pai propôs nosso matrimônio para os Velaryon, foi o suficiente para fazer com que eu desenvolvesse uma simpatia automática para com ele.

Agora, tendo ele em meus braços, soluçando ao lembrar que nunca mais vai poder ver seu amado, faz com que meu coração se parta em pedaços. A sensação de culpa fica entalada em minha garganta. Foi por minha causa? Minhas ações fizeram com que Joffrey fosse brutalmente assassinado? Se eu não tivesse dormido com Cole tudo seria diferente? A tragédia poderia ter sido evitada?

A névoa de meus pensamentos me impede de notar quando Leanor apaga, a trilha de lágrimas secas marcando sua pele cor de avelã. Mexo em seu corpo com cuidado, tirando-o de meu colo e deitando-o no travesseiro. Antes de ir em direção à passagem secreta que Daemon me revelou, dou um beijo em sua testa, rezando para que ele tenha pelo menos uma boa noite de sono, desprovida de pesadelos.

Sinto o frio enervante cobrindo meu corpo quando desço pelas escadarias até atingir o exterior do castelo, desviando sorrateiramente dos guardas enquanto escondo meus cabelos prateados com a mesma touca que usei da outra vez.

Busco evitar os caminhos mais perigosos ao caminhar pela multidão. Por mais jovem que eu seja, não sou tola. Não fui ensinada a lutar na modalidade corpo a corpo. Logo, se alguém quisesse tirar proveito de mim, estaria em grande desvantagem. Não é como se eu pudesse andar com Syrax ao meu lado o tempo todo.

As ruas se tornam mais tortuosas à medida que desço na Baixada das Pulgas, sentindo o odor fétido provocando uma dor no meu nariz. Tendo sido criada em um palácio, cercada por servos a minha disposição, admito que ainda fico impressionada ao assistir o cotidiano das pessoas comuns. Tudo me traz uma leve dose de fascínio, desde as vestimentas até os comércios.

Passo por um bordel e escuto o som de uma música vindo de seu interior. O local me traz lembranças incômodas, que rondam minha mente desde a noite em que Daemon me abandonou parcialmente nua na Casa dos Prazeres. Ainda guardo rancor pelo que ele fez comigo.

Me pergunto se por pelo menos um instante ele estava honestamente interessado em mim como pessoa, e não apenas como o símbolo da monarquia. Meu tio sempre soube ser calculista quando era de seu desejo. Entretanto, me entristece pensar que eu fui só mais uma peça de seu jogo de xadrez.

Outra peça está sendo encenada no centro do edifício. A nudez das mulheres desperta meu interesse, mas não prende minha atenção por tempo o bastante. Dou meia volta e saio por onde entrei, guiando meus pés novamente para o castelo. Algumas coisas não devem ser recordadas.

Acidentalmente, quando já estou a poucos metros do palácio, trombo com um homem vestido de armadura, com um manto dourado em seu ombro. Um dos guardas da cidade, imagino, apesar de não reconhecer seu rosto.

- Está perdida, garotinha? – questiona-me, com a voz rouca pela bebida.

- Não. Sei perfeitamente para onde estou indo. Com licença! – digo com firmeza, sendo barrada por seus braços ao tentar desviar de seu corpo.

- Por que a pressa? Ainda está muito cedo. Não quer fazer algo mais divertido?

- Não, obrigado pela oferta! – digo com acidez, mantendo um sorriso falso e venenoso em meu rosto. – Saia da minha frente, por favor!

In The Name of Love (Harwin Strong X Rhaenyra Targaryen)Onde histórias criam vida. Descubra agora