Love

~1~

É tão interessante como todos fazem seus planos e metas. As vezes a incerteza me consome de forma inexplicável, eu nunca sei o que fazer ou o que pensar sobre o meu futuro.

Lembro-me de quando eu era esforçada, quando todos falavam que eu parecia madura demais para a minha idade por ter a minha vida completamente planejada, agora eu não sei nem se o caminho que eu faço todos os dias para ir até a faculdade, que eu lutei tanto para entrar, é o caminho certo.

As coisas que eu faço são o que eu realmente quero para a minha vida? Eu quero de fato ser uma grande engenheira biomédica? O trabalho que eu tenho a noite na boate é uma realização de algo que eu queria? Não. Isso eu sempre tive certeza de que não era lá o meu emprego dos sonhos. Era um trabalho digno, eu tenho certeza disso, mas digamos que sair noite sim e noite não para ser uma "garota da vida" não é bem o que eu queria quando criança.
Garota da vida, tenho vontade de rir toda vez que eu lembro dessas palavras, foi exatamente isso que a minha mãe disse quando me expulsou de casa, e olha que eu sou apenas a garçonete, as vezes substituo o barman, apenas isso, mas de acordo com ela não demoraria muito para eu começar a me vender lá também. Já faz quase dois anos que eu estou trabalhando lá e não, não virei garota da vida ainda.

Mas a questão aqui é; O que eu estou fazendo da minha vida?
Esse é o grande ponto de interrogação na minha cabeça já faz tempo.
Eu só queria saber a onde e quando foi que eu me perdi. Essa não sou eu e saber que tem uma estranha vivendo a minha vida tá me matando por dentro.

O que aconteceu com a pequena garota sonhadora que planejava a vida com 20 anos de antecedência? A onde ela foi parar? Será que ela ainda está em algum lugar aqui dentro de mim? Ou eu a perdi de vez nessa longa estrada chamada vida?
Eu não tinha resposta nem para a simples pergunta que estava no meu cardeno, quem dirá para essas grandes e constantes dúvidas existenciais

- Senhorita Rodrigues, eu estou falando com você - pisco algumas vezes ao voltar para a realidade, vendo a senhora Santos em frente a minha mesa.

- Pois não?! - olho confusa para a pequena senhora de estatura mediana na minha frente, a carranca em seu rosto entregava o quão ferrada eu estava e as risadinhas que ecoavam pela sala mostravam que aquilo estava sendo o meu primeiro mico do dia.
Eu me sentia na escola novamente.

- A senhorita poderia me dizer o resultado da questão que aparentemente você não resolveu, de novo - me repreende e eu suspiro.

- Eu sinto muito senhora Santos - abaixo a cabeça sentindo o peso do fracasso cair sobre mim mais uma vez.

- Estou cansada das suas desculpas. Se eu a pegar distraída durante a minha explicação mais uma vez, eu a expulso da sala. Estamos entendidas? - olha desgostosa para mim, que mantinha a cabeça baixa segurando o choro ao ouvir as risadas dos meus colegas.

- Sim, senhora Santos - falo baixo, mas alto o suficiente para que ela escutasse.

- Ótimo - começa a andar, voltando para a frente da classe.

Eu suspiro, me ajeitando melhor em minha cadeira. Aquele foi o primeiro de muitos micos que estavam por vir ao decorrer do dia.
"Que emocionante".

(...)

- Selena - escuto atrás de mim e respiro fundo ao reconhecer a voz - Ei, deixa eu te perguntar - toca no meu ombro me fazendo virar para o encarar.

- O que aconteceu Ramiro? - pergunto para o alto e musculoso atleta da faculdade. Ele era o tipo "mais popular", todas caíam aos seus pés, apenas com uma exceção, é claro.

- Você vai trabalhar hoje a noite? - pergunta e eu seguro a vontade de revirar os olhos.

- Sim. Por quê? - o encaro sem vontade e ele dá um sorrisinho de lado.