Prólogo

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Haeri


O telão do Dolby Theatre exibia cenas estáticas dos filmes indicados ao Oscar de Melhor Roteiro Original, acompanhadas do nome de seus respectivos escritores e roteiristas, recitados pelo tom firme do locutor.

Eu sentia o ambiente mais quente, mais apertado e mais sufocante do que realmente estava, apesar dos quase de 17.000 metros quadrados. A expectativa me deixava e voltava a cada segundo, como um espírito brincalhão atravessando meu corpo. Eu estava instável, a ponto de explodir, mas extremamente satisfeita.

Os operadores de câmera se posicionaram, a fim de registrar as expressões dos indicados para serem exibidas em mosaico na tela e quando minha imagem foi captada, milhares de aplausos calorosos irromperam a sala de espetáculos, como em um sonho. 

Eu era a favorita e sabia disso.

Meu coração disparava, movido a orgulho e desespero e senti que o mundo inteiro cabia dentro do meu peito inflado. Olhei em volta, reconhecendo as feições esperançosas da minha equipe e dos atores, que trabalharam para que "As antenas das vacas voadoras de Gangnam" pudesse acontecer e por instantes, quase deixei o pânico tomar conta de mim. E se eu não levasse a estatueta para casa?

Tentando respirar normalmente, observei Jeon Jungkook, que sentado ao meu lado, mantinha uma displicência arrogante. Entretanto, percebi seu esforço para disfarçar o fato de que eu ser indicada a esse prêmio era sim, uma grande coisa, por mais que ele esnobasse e dissesse que era apenas uma indicação.

Quando a apresentação terminou, Brendan Fraser, em seu smoking azul marinho elegante, abriu o envelope e declarou com sua voz inconfundível, as palavras que eu nunca iria esquecer:

And the Oscar goes to... Kim Haeri!

Os flashes pipocavam enquanto eu era ovacionada.

Era estranho pensar que neste momento de elevado prestígio eu estivesse despencando em queda livre bem do alto do letreiro de Hollywood, mesmo que ainda estivesse efetivamente grudada na poltrona, fincando minhas lindas unhas de gel na palma da mão suada. Tinha certeza que meus olhos estavam arregalados e que devia exibir um semblante aparvalhado, muito diferente da mulher sexy e confiante que eu gostaria de interpretar ao receber meu troféu na frente de Jungkook.

Ele me deu um leve cutucão, com uma cara meio azeda e eu me esforcei para parar a queda e alçar voo. Só quando levantei, percebi a cacofonia desnorteante. Algumas pessoas me abraçaram e tenho quase certeza que as abracei de volta, mas não me concentrei em nenhuma delas. Eram braços, mãos e lábios beijando meu rosto enquanto eu rezava para não borrarem minha maquiagem. 

Minha mãe devia estar em surto em frente à tv, assistindo essas demonstrações de públicas de afeto tão pouco usuais aos coreanos, mas tentei não pensar no sermão que levaria, pois meu objetivo final era apenas chegar àquele palco para dar o melhor e mais emocionante discurso da história do Oscar que a Academia já presenciou e para isso, eu deveria estar linda e impecável.

Meu vestido exuberante e cheio de micropingentes de cristal refletia as luzes do local e eu mesma era uma estrela brilhante e pungente, ofuscando tudo ao meu redor.

Me senti poderosa, no topo do mundo e dentre tantas coisas boas que eu poderia pensar neste momento, apenas a ideia de me exibir para aqueles que duvidaram de mim era a mais nítida. Me senti infantil, mas era isso aí. Há tempos havia parado de tentar justificar meus sentimentos provincianos para mim mesma.

Ha, ha, Jeon Jungkook! Olha só onde eu estou agora, seu idiota!

Reuni minha autoconfiança e a concentrei na minha cervical. Altiva e de nariz arrebitado, caminhei com meu salto 15 até o palco, onde Brendan Fraser me cumprimentou e eu o cumprimentei de volta, como se fossemos velhos amigos e recebi a estatueta.

Aquele homenzinho dourado ficou tão perfeito em minhas mãos... E era pesado o suficiente para dar com ele na cabeça do Jungkook! Nossa, seria bem legal. 

Aproximei os lábios do microfone, apertando tanto o troféu que o imaginei se esfarelando em meus dedos. Encarei a plateia à minha frente.

Bong Joon Ho, Meryl Streep, Jordan Peele, Cate Blanchett, Viola Davis, Michelle Yeoh... Todos de olhos e ouvidos atentos voltados para mim, aguardando meu discurso emocionado.

Abri e fechei a boca duas vezes antes de proferir as palavras e foi com muita perturbação que enchi meus pulmões e levantando o Oscar na mão direita, gritei, estridente, disforme e desvairada:

— Isso aqui vai para o cretino gostoso do Jeon Jungkook! Chupa, filho da p...

•••

Abri meus olhos na penumbra do dormitório. Deitada na cama, senti minhas pernas paralisadas e um bolo na boca do estômago. Agradeci aos céus por acordar antes do sonho se tornar um pesadelo bizarro. 

Sonhar que dava vexame em meu discurso de agradecimento do Oscar era um sonho recorrente e um dos meus maiores medos, mesmo que a chance de acontecer fosse extremamente remota, porque eu era apenas uma universitária, estudante de Cinema que só havia produzido um curta com o orçamento do valor de uma batata e dois clipes de papel.

O que me irritava, era que agora, Jungkook costumava estar presente nesses sonhos. Não bastasse me atormentar durante o dia, aparecia também no meu único momento de brilhar em minhas fantasias subconscientes, de uma forma nada aproveitável. Quer dizer, ele realmente era bem gostoso e não seria ruim sonhar com ele em outro contexto.

Estiquei o braço até a mesa de cabeceira. O visor do celular indicava 5:42 da manhã. Abri o bloco de notas e digitei o que me lembrava do sonho. Como eu precisava levantar em 18 minutos, me adiantei e saí da cama, enfrentando o frio fora do meu edredom. 

Passei por Eunji, que dormia, protegida pelo casulo de seus cobertores e me dirigi ao banheiro, pronta para enfrentar mais um dia repleto de Jeon Jungkook: nas aulas da universidade, em nossos empregos no bar e na academia e agora, na briga pela vaga de estágio de verão na produtora Bangtan Entertainment.

☆☆☆


Nota da autora

Olá, pessoas!

Embora eu tenha alguma experiência em escrever fanfics (outro fandom, outros sites, outro nome, outra vida), esta é minha primeira história utilizando personagens reais. 

Sempre tive um pé atrás com isso, mas depois de ler algumas ótimas autoras por aqui, imaginei um enredo que cairia muito bem para o tal Jungkook fictício.

Espero que se divirtam! 

Obs: Para quem gosta de SasuSaku, comecei uma fic deles aqui também. Vai lá conferir! :)

Cineclube BangtanOnde histórias criam vida. Descubra agora