Prólogo

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Acho incrível como as pessoas morrem tão novas e precisam esperar tantos anos para serem enterradas. Recentemente venho pensando que não é triste saber que desistiram de você, sei que morri quando desisti de mim mesmo, mas é errado pensar assim quando o mundo ao redor é cinza? Há alguns verões daria outra descrição sobre a vida, é uma pena que tudo acabou depois de Agosto.

10 anos, 8 meses, 3 semanas e 2 dias depois de Agosto.

#Começo de semanas são sempre estranhas, é como um recomeço eterno, mas recomeços não deveriam ser bons? Sei que não faz sentido, mas minha mente é assim, cercada de coisas fúteis# Anotações do Diário. Data:27 de abril de 2024.

Livros, notebook, carteira e celular. Apolo conferiu mentalmente seus pertences antes de fechar sua bolsa. Ele nunca entendia essa sensação de sempre estar esquecendo algo todas as manhãs, mesmo que nunca tivesse realmente esquecido algo importante. Mas não tinha tanto tempo para perder tentando lembrar se realmente deixava algo importante de fora, ainda precisava comer algo, esse era seu próximo passo, largou sua bolsa sobre o sofá central da sala e se dirigiu até a cozinha.

Provas finais, seminários, projetos externos da faculdade, abril estava sendo um mês cansativo, Apolo não conseguia parar de pensar em tudo que teria que entregar até o final do mês, além de muitas outras atividades que apareceriam nos próximos dois meses antes das férias do meio de ano da faculdade, que mesmo assim estaria ocupado com o início do seu TCC.

Por mais que reclamasse diariamente sobre toda a correria da sua rotina, Apolo sentia que não conseguiria viver sem ela, mesmo em seus momentos de descanso, fazia questão de arrumar alguma atividade para ocupar seu tempo, sua mente havia se tornado seu maior inimigo, era perigoso demais que passassem muito tempo a sós.

Quando chegou na cozinha, Apolo ligou o pequeno rádio, ao lado do micro-ondas, que já marcava 6:05 da manhã. Ele tinha o costume de fazer isso para se atualizar enquanto se arrumava para a faculdade. Sempre deixava o volume do rádio baixo, desde que começou a morar sozinho passou a apreciar cada vez mais o silêncio e a paz dos ambientes.

"O que poderia fazer que fosse rápido e ágil para merendar antes de sair?" pensou, enquanto segurava uma embalagem de torradas com um prendedor na parte superior. A embalagem já havia sido aberta na noite passada quando Apolo sentiu um pouco de fome antes de dormir, colocando o prendedor para evitar que as torradas caíssem ou algum bicho entrasse durante a noite.

- Acho que deveria parar de comer tanto essas coisas. – Falou enquanto tentava achar a tabela com informações nutricionais que os produtos costumam ter. Enquanto procurava, voltou sua atenção para o que tocava no rádio e seu coração acelerou de repente. Por um momento, Apolo não teve nenhuma reação a não ser olhar para o chão frio da cozinha enquanto seus batimentos aceleravam.

"I watched it beg..."

Ele andou até o rádio, soltando a embalagem que ao cair no chão espalhou migalhas e algumas torradas pelo chão limpo e gelado da cozinha, e o tirou rapidamente da tomada, o que julgou ser mais ágil do que procurar pelo botão para desligá-lo. Demorou um pouco para que sua frequência cardíaca diminuísse até normalizar, pareciam como batidas em um tambor dentro do seu peito. "Como algo tão bobo poderia abalar tanto alguém? Será que um dia serei mais forte do que tudo isso, sempre serei um refém de medos antigos? Preso em minha própria prisão!" Era tudo o que se passava em seus pensamentos naquele momento, sentia como se seu corpo gritasse a resposta, suas mãos geladas e suadas, a gastura que parecia assolar todo seu estômago, o medo que martelava no fundo de sua mente. Não era preciso pensar ou verbalizar, isso já respondia tudo.

"Não deveria tocar músicas nessa rádio, só queria ouvir a merda do jornal da manhã, não deveria tocar nada nessa hora, ainda mais... ainda mais esse tipo de música."

Canções para agostoOnde histórias criam vida. Descubra agora