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Existem pessoas que nasceram para ficarem juntas, mas não podem. São aquelas pessoas que são totalmente diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, só que essas diferenças aparecem sempre e são as únicas coisas que essas duas pessoas conseguem enxergar e a única consequência é o afastamento. Não importa o quanto tentem, o quanto conversem e o quanto o universo as mostre que estão destinadas a ficarem juntas, as diferenças se sobrepõem.
Esse é o problema de Carmem e Paula. Um casal de mulheres fortes, com opiniões fortes e que não abaixam a cabeça pra nada. Elas se amam e sabem disso, mas são duras demais pra aceitar o destino. Foram casadas antes de se conhecerem e desses casamentos nasceram Ingrid, filha de Paula e Gabriel, filho de Carmem. Se conheceram através de seus filhos e no primeiro momento sentiram o efeito diferente que causaram uma a outra, namoraram por alguns meses e com a paixão nas alturas se casaram depois de um tempo, só não contavam com as brigas que foram aumentando a cada dia e com o buraco que estava se formando na relação delas.
Depois de Carmem tentar a todo custo salvar seu casamento, não aguentou mais ter o coração pisoteado e decidiu pedir o divórcio, um divórcio difícil pra todo mundo, principalmente para as duas que além de terem bagagens juntas, tinham uma empresa inteira pra cuidar. Uma empresa que gritava a personalidade das duas, principalmente as reuniões que eram banhadas a trocas de farpas e comentários regados a ironia.
Eram como gato e rato, a única diferença era o amor que ainda existia entre as duas, todo mundo percebia os olhares carregados de luxúria que elas se lançavam, o ciúmes quando comentavam sobre alguma pessoa e o jeito que mesmo separadas, não se desgrudavam. Ingrid e Gabriel por muitas vezes tentaram ajudar as mães, mas quanto mais entravam no meio, mais eles brigavam e mais machucadas elas saíam.

- Olha aí, platinada dos infernos, você fez eles brigarem de novo.

- Ah eu fiz? Sua filha que ta se metendo nas coisas do Gabriel.

- Minha filha também é sua filha, olha o jeito que você fala, se separou de mim e perdeu uma filha?

- Nunca disse isso. Ingrid é minha prioridade também.

- Mas não parece, ela só quer ajudar o Gabriel, você que criou o menino todo mimado e não ensinou algumas boas maneiras.

- Paula me poupe.

- Essas brigas só começaram depois do nosso divórcio.

- Ta dizendo que eu tenho culpa?

- Foi você que pediu, querida.

- Pedi porque não aguentava mais isso que ta acontecendo agora. Você sempre joga tudo em cima de mim.

- Assunto sobre os seus filhos eu jogo mesmo, você tem a maior parcela de culpa. Por sua causa o Gabriel não mora mais junto da mãe e não quer mais saber de mim.

- Não se faça de vítima, ele só passou a morar com você quando a gente casou, então se não somos mais cadadas, não tem porque ele morar aqui. E nunca fale que ele não liga pra você, o menino te ama.

- A Ingrid também te ama.

- Eu sei disso. - Carmem senta no sofá e suspira - Nós realmente vamos colocar nossos filhos no meio de tudo isso? Nós temos que tentar paz quando estamos com eles.

- Fale por você, porque eu não fiz nada.

- Sempre né. Eu vou falar com a Ingrid.

- E eu com o Gabriel. - As duas vão para os respectivos quartos.

- Ingrid? - Carmem bate na porta - To entrando filha. - Quando entra no quarto, acha Ingrid encolhida na cama embaixo do cobertor.

- Eu não quero conversar agora.

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