UMA ANO COM ELA - VERSÃO CAMREN

II

ABRIL DE 2010

Fui conhecendo mais do GD - grupo de dança - e descobri que eu levava jeito e com o tempo só desenvolvia, estava orgulhosa do meu avanço. Todos ali eram muito focados e a maioria ela legal, apesar de eu não falar muito eu observava e uma das integrantes do grupo que mais me intrigava era Camila.

Ela tem um senso de humor único, o tom sarcástico usado na hora certa e o jeito pateta era muito contraditório. Toda essa junção chamava minha atenção para ela. Eu queria conhecer mais dela.

Já havia completado um mês no GD, não acreditava que iria tão longe, mas aqui estou. Nesse um mês eu tive algumas oportunidades de conversar com Camila e acabamos iniciando uma amizade. Ela me contou que tem uma irmã mais nova chamada Sofia, a mãe da aulas de teatro em uma escola pública e o pai trabalha com construção civil. A cor favorita dela não era preto - era roxo - e ela é obcecada na saga crepúsculo. Eu não entendo qual a graça naquele pisca-pisca ambulante.

Fora dos ensaios não nos falávamos muitos já que eu estava sem celular no momento - eu sou muito desastrada - e como ela morava longe só nos víamos nos dias de ensaio e culto, quando ela vinha com a família. Sempre quando Normani nos dava uma pausa ficava ela, eu e Dinah - filha de uma das lideres da igreja e bem doidinha - conversando, na saída do ensaio também ficávamos em frente a igreja em um banco conversando até a Dinah ter que ir e o pai da Camila buscar ela, como eu morava perto sempre esperava elas irem e seguia para minha casa.

Era dia de ensaio e quando chego na sala do GD - alguns minutos antes por um milagre não cheguei atrasada - noto que tem uns cochichos entre as panelinhas do grupo, mas não presto atenção no que falam. Só percebo que é algo relacionado a Camila quando uma das veteranas - que eu não sei o nome porque ela é chata e eu não me aproximo de gente chata - aponta - nada discreta - em sua direção.

Quando Camila me ver chegando ela me olha e por esse olhar eu deduzo - mesmo sendo um pouco lerda - que vamos falar sobre isso no final. Não sei se era por eu está curiosa, mas as duas horas de ensaio que sempre passam voando, hoje demoraram demais. Quando finalmente acabou já estávamos Camila, Dinah e eu no banco de sempre e eu já estava quase perguntando o que houve, mas não queria soar indelicada, para minha sorte Camila não demorou a tocar no assunto.

- O que vocês ficaram sabendo a meu respeito hoje? - ela perguntou olhando nos meus olhos, mesmo um pouco longe eu fico nervosa quando ela faz isso, me desconcerta toda.

- Nada além de cochichos - dei de ombros colocando as mãos no bolso. Elas estavam sentadas no banco e eu em pé de frente para elas.

Dinah estava calada demais e parecia saber bem mais do que eu.

- Prefiro ouvir de você Mila, esse povo adorar aumentar as coisas.

Isso é verdade! uma vez faltei ensaio e falaram que eu estava muito doente, rolou até boatos que eu tinha sofrido um acidente grave, ligaram pra minha mãe. Acontece que eu só estava com preguiça e fiquei em casa jogando God of War - prioridades né.

Camila tomou um longo suspiro e começou a explicar o que estava acontecendo.

- O nome dela é Haliee, nos conhecemos nas aulas de teatro da minha mãe e ela mora a uma quadra da minha casa. Nós acabamos nos envolvendo e ontem minha mãe descobriu.

Nossa! isso é tão... errado? Não que eu seja homofóbica, mas somos ensinadas todos os cultos que isso é abominável, como se fosse uma doença contagiosa e se alguém apresentar sintoma temos que nos afastar imediatamente. Foi assim com o  Duda, filho da irmã Ana, mas eu não me afastei dele e tomamos sorvete todos os sábados. Ele é um fofo.

- Mas se foi sua mãe que descobriu, por que ta todo o grupo sabendo? - questionei

- Porque ela ligou para uma das lideres e a filha dela participa do GD - deve ser a chata que eu não sei o nome - ela deve ter ouvido a conversa e espalhado para o grupo.

Uma coisa é certa, ô povinho fofoqueiro esse, Misericórdia!

- Vocês vão deixar de falar comigo por causa disso? - Ela parecia está só esperando uma confirmação. Até parece que eu deixaria de falar com ela por isso.

- Olha, eu não vou deixar de ser sua amiga, mas possivelmente se minha mãe descobrir esses boatos, o que não é difícil, ela vai me dá um sermão de horas sobre como não seguir seu exemplo, não leva a mal tá? - Camila acenou que estava tudo bem, a mãe da Dinah era uma das responsáveis pela igreja, então realmente ela iria ouvir bastante - agora vou ter que ir, hoje é aniversário do meu irmão e vai ter pizza, só fiquei aqui porque queria saber a versão da bunduda - Dinah sendo Dinah - fica bem Mila, vai dar tudo certo. Tchau meninas! se cuidem.

- Tchau Dinah! - falamos juntas dando tchauzinho com a mão. Camila deu tapinhas no espaço vazio ao lado dela, entendi que era pra eu sentar. Agora a conversa seria entre nós duas.

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