Capítulo II - A madame

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"Impossível barrar o que é automático" - Tom.

Nunca pude estar bem por inteiro, era como se houvesse outra parte de mim que andava angustiada, mesmo no meio dos risos. Em uma segunda-feira comum, na entrada do colégio, conversava com meus amigos, até que escutei um chamado. De longe me arrepiei, me virei para trás e Heitor estava de volta, o fato dele ter voltado me alegrou bastante. Fui e lhe dei um forte abraço, que durou uns vinte segundos, empolgado perguntei como ele estava, já tinha deixado minha visão pessimista daquele dia de lado, talvez eu já não ficasse mais entediado.

— Cavalo tróia veio para escola, eai cara? — Bina apertou sua mão, com um sorriso debochado.

— Que bom que voltou, parceiro, sofreu o bastante? — Alex mais uma vez fora inconveniente.

— Finalmente o velho me liberou - Heitor sorriu - Aí, topam sair desse lugar? Trouxe comigo cinquenta gramas de erva, peguei com a namorada do Derek mais cedo - Fez um gesto de dispensa com a mão - Dane-se a escola.

— Aí caras, vocês podem ir, eu preciso me concentrar nos estudos. - Disse Bina.

Logo, Alex contou que estava praticamente "namorando" a garota nova, se travava de Isabelle Gutierrez, ela possuía setenta e oito mil seguidores na sua rede social. E quando postou sobre onde estudaria, agora que tinha saído de Almería, na Espanha, para vir morar em Erie, não entendi o porquê...

— Deu sorte hein! — parabenizei.

— Eu vi a conta dela, realmente é bem bonita, tem bastante seguidores, mas deve ser mais uma daquelas garotinhas brancas mimadas — Bina debochou — Pior vai ser uma garota branca, espanhola e mimada.

— Que denso... Mas então, até depois, Bina, tenho um dever agora com meu parceiro aqui. — Concluí.

Naquele dia regras não importavam mais, ele tinha engatilhado meu modo "foda-se isso tudo", o que era melhor ainda. Nesse dia não evitei aproveitar como se fosse o último, passamos pela praça, já que ficava perto de lá, apesar de todos os dias pressentir que iria morrer ao atravessar uma rua. Talvez, fosse só a mente em alerta, mas eu tinha bons sentidos e isso me assustava. Não queria morrer.

Heitor aparentemente e obviamente estava cansado de fazer favores ao seu avô diariamente, às vezes o Sr. Fitzgerald colocava o coitado em cargos pesados.

— Como pode ver, estou muito cansado, eu trabalhei pra cacete, e o velho não teve piedade em nenhum momento. —  falou Heitor.

— Ele que vá para o inferno, você é muito corajoso, desde criança — dei de ombros — Era pior quando sua avó ainda era viva, ela também não era totalmente do bem. Mas era engraçado quando corríamos dela, que vinha com um pedaço de pau para bater em nós dois — ri.

Heitor gargalhou.

— E na maioria das vezes era quando íamos mexer com as galinhas e os porcos. Nós tomamos uma surra quando ela nos pegou sujos de lama, esse dia eu senti que quebraram cada ossos do meu corpo. — falou.

— Ainda bem que só levei uma paulada... — falei e nos encaramos até voltarmos a gargalhar.

— Hahaha, enfim, a minha mãe e meu tio me pegaram bêbado voltando de uma festa numa madrugada semana passada. — Voltei a falar.

— E o que rolou? — Perguntou.

— Ela me pôs para dormir e conversamos seriamente no outro dia, mas meu tio estava bem zangado comigo, nunca o vi daquele jeito. Até se retirou da sala sem dizer nada.

— Acho que você está se desgastando muito, Tom, dá uma pausa aí. — Apoiou as mãos eu meus ombros

— Não consigo, eu só não queria existir, sabe? Parece que sou o pior erro que o universo cometeu, sou ao contrário, mas ninguém entenderia...

Colapso | Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora