Na trilha da floresta

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O bosque exalava aquele cheiro maravilhoso de terra molhada pós chuva, Suppasit caminhava através do tapete de folhas que se formava em todo outono, a colheita de ervas e frutas silvestres tinha sido um sucesso, o homem já se imaginava fazendo deliciosas geleias e temperos diversos pra requintar ainda mais seus pratos. Ele estava distraído encarando os ingredientes na cesta quando algo em meio a grama, atrás de uma enorme árvore, chamou sua atenção. A pelagem branca de uma cauda de lobo, fez Suppasit suspirar, lentamente ele se aproximava, pensando que o animal pudesse estar ferido, ou adoentado por causa da chuva da noite anterior. E de fato ele estava certo, exceto por um pequeno detalhe... não era um lobo e sim um híbrido.

Com certo receio mas se deixando levar pela curiosidade ele se aproxima do lobo, garoto, daquele ser deitado sobre a grama úmida, a cauda branca como neve, faziam um delicado par com as orelhas pequenas que enfeitavam o topo de sua cabeça, porém contrastava completamente com a cor chocolate da pele exposta e arrepiada que era vista por Suppasit, o homem simples que morava a muito solitário no alto da montanha, ficou completamente chocado pela beleza pura daquele ser, mas teve que interromper sua apreciação, a testa do garoto pingava suor e seu rosto mantinha uma expressão de dor, deixando a cesta no chão ele se aproxima, ainda que não ouvisse uma resposta ele murmura um pedido de desculpas enquanto toca o corpo do garoto lhe pegando no colo, seu peito batia excitado, era a primeira vez em tempos que estava perto de outra pessoa, ou outro ser neste caso, mas ainda sim o nervosismo lhe tomava o estômago, porém logo foi substituído pelo pânico quando o líquido avermelhado lhe ensopou a mão, o garoto estava ferido.

A fumaça saia intensa da panela, devidamente acomodada sobre a chapa de um fogão a lenha, a bandeja era arrumada, em etapas, água morna pra limpeza, pasta de ervas pra ferida e cumbuca de sopa para esquentar o doente. Subindo os curtos degraus da escada, o homem chega o quarto simples onde o rapaz enfermo repousava, ainda desacordado, se aproximando o homem deixa a bandeja sobre o banco de madeira, e calmamente molha um pequeno pano na água morna e enxuga a friagem do corpo do garoto, desde a testa até o final da cintura, que dali pra baixo estava coberta pelo lençol, mas a cauda branca ainda podia ser vista pra fora do tecido.

Mew Suppasit era um homem tranquilo, vivia do que a natureza dava, era do tipo que reza após tirar a vida de um porco ou galinha selvagem, viver isolado no alto das montanhas era melhor do que sofrer na mão dos escravos da cobiça e da falsidade onde antes uma vez ele se deixou ser enganado. Agora desintoxicado daquele ambiente, Suppasit vivia puro, feliz e consumido pela paz, então por que seu coração batia tão rápido e inquieto !? Ele devia estar surpreso, nervosos pelo acontecido daquela manhã, o ferimento graças a Deusa não se mostrou profundo, ainda sim preocupante já que foi causado por uma bala, a mesma passou de raspão, mas foi o suficiente pra fazer o mais velho se preocupar, não era comum haverem caçadores na região. Os pensamento vinham a mil em sua cabeça, enquanto ele tratava a ferida do garoto lobo, a boca cantarolava baixinho uma canção, a melodia que ele mesmo havia criado em seu tempo livre. Uma canção que falava de amor, um que ele ainda não havia vivido, mas que esperava que quando chegasse fosse eterno.

Sua boca se cala ao notar aqueles olhos amendoados lhe encarando, um pouco assustados, mas fixos, claramente prestando atenção à canção - Ohh, você...Você acordou - era uma coisa bem óbvia, mas Mew não conseguiu organizar bem as palavras quando encontrou aqueles olhos, o olhar do garoto pareciam conter uma galáxia, um mundo infinito onde Suppasit se sentia atraído a se jogar, mas quando a careta de dor tomou o rosto do menor, ele voltou um pouco a si - Não se esforce muito, foi pequeno mas ainda sim é um machucado - o garoto ainda mantinha os olhos bem abertos mas não parecia com medo, ainda sim Suppasit se sentia nervoso sob o olhar do garoto - Não vou te machucar, está tudo bem - o sorriso do homem era tranquilo e caloroso, mas os olhos se tornaram surpresos quando Mew sentiu as mãos do garoto repousarem contra seus lábios, o garoto amassava sua boca, fechava em um bico e esticava novamente em um sorriso, Suppasit se sentia quase um boneco de massinha sob as palmas quentes do garoto.

Abençoado Pela LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora