CAPÍTULO 1 - O FLORICULTOR

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Existem poucas coisas nesse mundo que desperta a atenção de Tighnari. Flores, açúcar e bandas de punk rock. São gostos bastante divergentes, mas para Tighnari, isso é o que monta sua personalidade, porém se você conhecer um pouco mais sobre ele acabará descobrindo que ele não pode comer açúcar e sua audição é bem sensível para que ele possa ouvir punk rock no dia a dia. Assim, visivelmente falando seu único traço de personalidade é sua paixão por flores.

Diz sua tia que quando ele nasceu, ele foi colocado em um berço com uma dália, flor que representava o laço das pessoas para com ele. Aos poucos, ainda no seu primeiro ano de vida, a flor continuava viva, pois o laço e amor que todos depositaram ao Tighnari era algo que não se pode nem mesmo descrever. Algo que todos se impressionaram foi a vida que a flor teve, no caso, que ainda tem.

Ao longo dos anos, as pétalas foram caindo, a partir do falecimento de várias pessoas da sua família. Sua família era ligeiramente velha, quando ele nasceu 21 anos atrás, seu pai já tinha 60 anos e sua mãe 52, isso sem contar os outros membros da família que eram mais velhos que eles. Enfim, no final, sua casa se tornava vazia aos poucos, e sua dália, com uma única pétala restante era sua maior preocupação.

Com apenas 21 anos, Nari – assim que sua tia o chama – se formou em ciências biológicas e tinha especialização em botânica. Ele via nas flores e plantas não apenas uma decoração à mundo aberto, mas para ele, elas significavam a alma e face do mundo, um mundo sem flores e árvores não é apenas feio, mas vazio.

Desde antes mesmo de sua graduação, aos 19 anos, Tighnari decidiu criar uma floricultura e uma estufa de plantas, pois por mais que todos o vissem como uma pessoa calma, inteligente e simpática, não imaginava que por dentro ele se sentia triste e solitário, porém via nas flores uma conexão. Nari também tinha o sonho de trazer de volta a elegância e beleza daquela pequena flor que contava os dias de vida, que recebeu no seu nascimento, pois ao longo dos anos, as dálias desapareceram na sua região.

São 7:45 da manhã, dia dos namorados. "Hora de abrir a loja pois hoje será um dia movimentado." – pensou Tighnari. Dezenas de pessoas esperavam a porta a floricultura ser aberta. Nari prendia seu cabelo enquanto andava em direção a porta e desejava bom dia aos clientes. Fazia tempo que a floricultura recebia tanta gente, mas a única reação do Tighnari era olhar pra todos e sorrir mesmo que por dentro ele estivesse desesperado por ter que atender aquela fila de 40 pessoas as 8 horas da manhã.

As pessoas tomaram conta de todos os corredores da floricultura. Elogios como "Que flores lindas!" ou "Que perfume incrível" acontecia à medida que Tighnari respirava. Em 15 minutos de funcionamento, Tighnari já teria atendido mais clientes que nos últimos 10 dias, porém a fila só aumentava.

- Gente! Poderiam ir esperar próximo à estufa? Lá vai ter uma pequena praça que dá pra vocês aguardarem pra não ficar tão caótico aqui!

Pelo visto seu pedido não alcançou o ouvido de muitas pessoas, assim, continuaram frenéticos na floricultura até que alguém gritou:

- GALERA TEM UMA ABELHA VENENOSA SE ESCONDENDO AQUI EU NÃO CONSEGUI PEGAR!! VÃO PRA PRAÇA DA ESTUFA ENQUANTO EU A TIRO.

Nesse momento todos começaram a sair rapidamente, Tighnari incluso até que se deu conta que ele estava saindo da sua própria floricultura e que obviamente não tinha nenhuma abelha venenosa lá. Enquanto voltava rapidamente pensou: "quem que fez isso?". Um rapaz de cabelos brancos estava encostado na parede com um sorriso de canto de rosto e então falou:

- Vamos fazer um jogo! Eu te dou duas opções e você escolher uma: 1ª Eu te ajudo; 2ª Você me ajuda!

- Sim, mas quem é você? – perguntou Tighnari com um semblante sério.

- Se você escolher a opção certa eu vou te responder! – retrucou o jovem de cabelos brancos.

- Então eu escolho a opção número um! Com o que posso te ajudar? – disse o jovem floricultor.

- Eu quero uma dália! – Pediu o jovem de cabelos pálidos, ainda com um sorrido de canto de boca.

- Eu não poderei te ajudar com isso... infelizmente essas flores já nem existem mais por aqui... – Falou Tighnari com um certo tremor na voz

- Então... nessa condição só te resta a opção 2. Eu me chamo Cyno.

- Mas eu não preciso de sua ajuda! Eu consigo fazer meu trabalho muito bem sozinho! – Disse o cachorrinho em um tom mais alto.

- Mas eu senti que esse lugar estava me chamando mais cedo enquanto lia o jornal.... – Falou Cyno com um tom triste.

- Como que você sentiu este lugar te chamando? – Perguntou Nari.

- É porque eu estava FOLHEANDO o jornal... – Contou Cyno segurando a risada.

- ........

- ........

- Que seja! – Suspirou Tighnari – Mas eu só vou te pagar se você vender 40 ou mais arranjos.

- E se eu vender 39 e te comprar um? – Supôs Cyno

- VAI TRABALHAR!

Buquê - CynonariOnde histórias criam vida. Descubra agora