1- Neve

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Eu comecei essa fanfic em meados de 2022, e para não deixar o perfil parado, resolvi finalizar e posta-la. Essa fanfic ficará no ar por um tempo indefinido.

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Em decepção para o meu futuro eu, creio dizer que fiz o possível, mas infelizmente não consegui aprimorar nossas canções. O som do piano não soa mais do mesmo jeito, e me incomoda. Me sinto irritado.
Deixo essa carta em despedida.
Não há a quem se despedir, a não ser eu mesmo.
Por isso, se você ler essa carta e perceber que algo pode mudar, faça o seu melhor.
"Hoje veio a óbito Min Yoongi".

E foi lendo aquela carta que ele percebeu: ele continuava o mesmo.

— Fui a óbito, hum? — Yoongi amassou o pedaço de papel desgastado, e se levantou da poltrona, que ficava perto da lareira, jogou a papel ali, vendo-o queimar no fogo. O som da brasa queimando soava feito música, mas não era aliviante.

O ano era 1677, e Min Yoongi comemorava mais uma vez seu aniversário em 9 de março. Completava seus 27 anos e, devo confessar, não se sentia nem um pouco feliz com isso. Para ele, parecia que quanto mais o tempo passava, pior as coisas ficavam.

Sua esposa faleceu dois anos depois do casamento, seu filho... Pobre criança. Uma doença na qual seu corpo não foi capaz de suportar acabou levando-o a óbito. As memórias daquele dia ainda atormentam sua mente.

Suas artes não fluem. É como se um trauma fizesse parte de sua vida, que o impedem de pegar um pincel. E suas canções... doces melodias... Ele as deixou de fazer há muito tempo.

Foi caminhando lentamente em direção a floresta, que ele pode escutar um choro baixinho. E logo mais à frente, avistou um garoto, não... Um homem.

Ele chorava em frente a uma pequena árvore, não parecia haver muito tempo na qual foi plantada. Ela estava ressecada, suas pouquíssimas folhas estavam secas e caídas no chão. Parecia que se você tocasse nela, ela viraria pó.

Yoongi se aproximou do homem, com um pouco de receio, olhou-o e perguntou:

— Está tudo bem? — A aparição repentina assustou ao homem, que virou abruptamente e caiu no chão, levando uma mão ao coração. — Sinto muito. — O Min estendeu a mão para ele, que ficou perplexo com o gesto. — Ajuda?

— Obrigado. — Aceitando a ajuda, levantou sem muitos problemas. Passou as mãos pela vestimenta, retirando quaisquer sujeirinhas que pudessem ter ficado.

— Se me permite saber, por que estava chorando? — Yoongi perguntou, observando a árvore seca.

— Não conto minhas coisas para estranhos. — Não era a intenção, mas o jeito como a frase foi dita, soou estúpida. — Ah, eu... Sinto muito. Não quis dizer desse jeito.

— Sou Min Yoongi. E você?

— Kim Taehyung...

— Agora não somos mais estranhos. — Yoongi sorriu minimamente. Um sorriso que não surgia há séculos em seus lábios.

Taehyung achou fofo. Ele reparou em como Yoongi era pálido, se camuflaria facilmente em uma superfície branca. Mas o que mais chamava sua atenção, era a aparência desgastada. Não havia brilho em seus olhos, nem rubor em suas bochechas, era como se não aguentasse mais, como se estivesse cansado, e estava ali apenas existindo.

— Essa árvore pequena é a minha noiva. — Taehyung disse, após poucos minutos de silêncio. — Ela faleceu no dia do nosso casamento. Foi um acidente. A carruagem caiu no meio do caminho e... não houve sobreviventes. — As lágrimas já rolavam pelo seu rosto. — Nós enterramos o corpo dela aqui, e encima dele, plantamos uma árvore. Chaeyong disse que queria assim. Era o sonho dela. Ela dizia que se a árvore continuar viva, é porquê ela continua aqui. Mas pelo que podemos ver, a árvore morreu. Ela estava assim há uns dias. Eu sabia que não poderia fazer nada, então apenas vi ela falecer aos poucos. Foi uma sensação péssima.

— Eu... não sei o que dizer. — Yoongi disse, encarando o chão. — Faz muito tempo? — Sua curiosidade falou mais alto, e a pergunta acabou por escapar de seus lábios.

— Dois anos. — A resposta deixou Min surpreso e, sem perceber, ele também falava.

— Minha esposa morreu há dois anos. — A feição de Min se tornou séria. — Acho que... Eu deveria ir embora. Foi um prazer te conhecer, senhor Kim.

— Igualmente...

E foi naquela pequena troca de olhar entre eles, que se despediram e seguiram rumo a suas casas.

Não era para Yoongi reencontrar aquela carta, nem sair de casa, nem se encontrar com o jovem homem. Mas algo piscou em sua mente, algo pediu para que ele o fizesse.

E foi chegando em casa que uma louca vontade repentina o fez querer sentir as teclas do piano sob seus dedos. Quando subiu as escadas para o cômodo que há anos não era aberto, seu coração martelava em ansiedade. Foi vendo aquele tecido branco, sujo de poeira, rastejando ao chão, que sua mente clareou e um estralo de melodia surgiu em um leve cantarolar.

Min retirou aquele tecido sujo, observou o piano intacto, levantou a tampa que cobria as teclas, e sentiu-as em seus dedos. Todas as teclas ainda tocavam suas devidas melodias.

A ideia chegou de repente, e quando menos esperava, uma nova melodia soava na sala. Ela era suave e calma, expressava os sentimentos de como você se sente quando o dia está úmido, frio e chuvoso, como se o mundo estivesse em suas costas, como se tivesse perdido alguém precioso, ao mesmo tempo em que fazia você se sentir leve, como se acabasse de ter um dia cansativo, chegasse em casa e sentisse o conforto da sua cama, aliviando suas dores.

Foi tocando aquela linda melodia, que Yoongi observou a janela, que a muito tempo não era limpa, e viu, desfocadamente, os flocos de neve cair.

GUIADO ATÉ MIM Onde histórias criam vida. Descubra agora