All Time Low

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Meu celular começa a tocar continuamente; eu não quero nem ver quem está me ligando enquanto procuro vinho, whisky e vodka dentro dos armários da cozinha. Mas se eu não olhar, não vou conseguir desligar o celular para ignorar o mundo todo como tenho feito desde... desde que ele foi embora com aquela vadia.

Ando da cozinha para a sala e estremeço ao ver o nome na tela; é ele, ele está me ligando sem parar e eu não sei como reagir. Não sei se devo atender ou desligar o celular e o ignorar, como todo mundo que diz estar preocupado comigo.

Eu estou completamente aqui sozinho. A casa está uma bagunça e eu bebo todos os dias para não ter que lidar com toda a realidade da minha vida completamente “perfeita”.

Respiro fundo, atendo o celular e ao ouvir seu “alô” em tom baixo, desligo e jogo o celular no sofá; corro de volta para a cozinha com lágrimas nos olhos. Minha confusão mental apenas aumentou com essa ligação. Por quê? Por que você tinha que me ligar?

O celular voltou a tocar na sala e eu apenas o silenciei por completo para que não possa mais ouvir o toque insuportável. Aquela era nossa música, mas deve ser música dele com aquela prostituta de rua.

Horas e horas se passaram e eu quero apenas ficar bêbado até não aguentar mais e dormir por uns três ou quatro dias. Não sei mais como faço pra conseguir viver dentro dessa casa com todas as nossas memórias. Em cada canto há uma lembrança nossa e eu quase morro sempre que elas invadem minha mente.
15h15m

Ouvi a campainha tocar algumas vezes, mas eu já não tenho certeza, estou tão bêbado que não sei nem se tenho capacidade de abrir a porta sem derrubar a casa antes de chegar até ela.

Trocando as pernas desço as escadas do quarto e abro a porta sem enxergar absolutamente nada além de sapatos pretos muito familiares.
- Meu Deus, Sam... o que aconteceu com você? – a voz soa como um tiro em meus ouvidos e se espalha por meu corpo todo – Venha, eu vou dar um jeito em você. Você está péssimo.

Sinto seus braços envolverem meu corpo e me carregarem para a banheira que tenho no andar de cima. Era nessa banheira que costumávamos foder sempre depois que voltávamos bêbados de alguma festa durante o início da manhã.

Sinto minhas roupas serem tiradas com cuidado e logo a água fria toca meu corpo com suas mãos e me vem um arrepio. Seu toque continua o mesmo desde a última vez que nos vimos; suas mãos ainda são macias e delicadas.

Ele está neste momento passando a esponja em minhas costas, como sempre fez. Ele sempre lavou minhas costas por último. Seus braços estão envoltos em mim novamente e com uma toalha.
Estou deitado na cama enquanto ele enxuga meu corpo e veste uma roupa que, pela textura, não é a mesma que eu estava usando antes.
- Agora você vai dormir e amanhã conversamos. – ele diz simples e então sinto seus lábios em minha testa – Vou tomar um banho também, se não se importa.
Penso em abrir os olhos, mas sei que não é uma boa ideia, então permaneço como estou e pego no sono. Durante a madrugada tenho a impressão de sentir seu corpo ao meu lado na cama, mas deve apenas impressão mesmo.
09h30m

Acordo sentindo o corpo pesado e uma dor de cabeça enorme como se uma escola de samba inteira estivesse desfilando dentro do meu cérebro. Abro os olhos devagar e a luz do sol entra como agulhas, forçando-me a fechar os olhos novamente. Reclamo da claridade, afinal essa casa nunca fica tão clara desse jeito justamente por conta das minhas ressacas.

Após alguns minutos, me levanto e noto que há sapatos pretos ao lado dos meus chinelos no chão. Sapatos muito familiares, aliás. De quem são? Neste momento minha mente gira como um peão e me vêm à lembrança dos sapatos entrando em casa. Esforço-me para lembrar mais, mas é inútil.

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