• CAPÍTULO 1 •

1 0 0
                                    

      Príncipe Isaac havia nascido saudável e lindo igual a mãe, a rainha Charlotte. Deixara seus pais cheios de amor e orgulho e o povo do reino de Xarxes ansiosos e alegres pelo nascimento do futuro herdeiro. O nascimento de um bebê sempre foi uma ocasião muito especial, mas ao se tratar de um futuro Rei tornava-se algo mais grandioso! Isaac tinha pele escura, lindos cachinhos castanhos escuros e olhos perfeitamente verdes, algo que puxara do pai. Permaneceu quietinho nos braços da mãe como que prevendo o que o futuro lhe aguardava.

  30 anos depois….
  - Querida, já falamos sobre isso, precisa pensar em   
     seu futuro. Logo logo este país estará sob seu
     controle, e não seria bom alguém para lhe apoiar em
     tudo isso?
  -  Sei que deveria dizer que sim mamãe, mas não vejo
     como Arthur possa ser bom nisso, ele nem sabe
     manter a língua dentro da boca - Disse revirando os
     olhos. Mas ao ver o olhar de desagrado da mãe
     continuou - Eu realmente não consigo sentir nada
     por ele mamãe.
  -  Sei que não minha querida, mas às vezes a gente
     precisa fazer certos sacrifícios em busca do que é   
     certo.
A menina a olhou incrédula, como poderia ousar descrever seu futuro desta maneira? A fitou furiosa:
  -  Não acredito que ouvi isso mamãe! Me recuso a ter
     esta conversa, se me permite irei tomar um ar no
     jardim.
  -  Está permitida senhorita Laiz, mas voltaremos a ter
     esta conversa.
  A garota quase correu para longe da mãe, mas lembrou-se da postura e se forçou a permanecer calma ao caminhar pelo salão. Mas assim que não viu mais pessoas por perto, correu até lhe faltar fôlego. Parou em frente ao chafariz querendo apenas atravessar aqueles altos muros do palácio para nunca mais voltar.

    Queria poder escolher seu futuro, escolher ficar longe de Arthur e seus falatórios, escolher ficar longe de tantas responsabilidades e etiquetas. Mas parou ali e sentou-se no pequeno banquinho de frente para o bosque e permitiu-se fechar os olhos e sentir o ar fresco tomar conta de suas narinas e lhe trazer uma sensação de paz mesmo que momentânea.
   Mas como nem tudo nessa vida era perfeito, sentiu alguém parar ao seu lado, e detestando ser interrompida em seu momento de "paz", nem se esforçou para abrir os olhos, esperando que a pessoa percebesse e fosse embora. Mas não.   
  -  O que esta bela moça faz desacompanhada neste 
     enorme jardim?
  -  Afastando pessoas desagradáveis. E me permitindo
     ter um momento sozinha - não se preocupava com seu tom de voz mal-educado, sabia quem era e não precisava ser educada com ele.
  -  Não me senti ofendido se era o que queria -
  comentou ele com um ar de orgulho, mas levou a mão ao peito fingindo mágoa quando ela o olhou.
  - Pensei que gostasse de mim.
Ela o fuzilou com os olhos ao ver que o rapaz escondia um pequeno risinho.
  - É mesmo? - respondeu sarcástica - Não lembro de ter 
    lhe dado tal impressão.
  - Não mesmo alteza, eu apenas imaginei em meus
    belos sonhos que a senhorita ainda olhasse para mim
    como a alguns anos atrás.
  - Não somos mais crianças Arthur - o interrompeu.
    Sei que não, mas sinto sua falta. Lembra quando seu
    pai ia nos visitar no Colorado? E como corríamos de  
    um lado para outro atrás um do outro? Como no dia
    em que eu puxei seu cabelo que voava ao vento e
    você me jogou em cima do bolo e nossos pais ficaram
    muito envergonhados.
Ela se permitiu rir. Lembrava deste dia como se fosse ontem, foi o dia em que sentiu algo diferente vindo dos olhos de seu amigo. Parecia não ser mais a mesma coisa de antes. O dia em que decepcionou seus pais e descobriu que Arthur a "amava". Como esquecer?
  - Claro que lembro Arthur. Você era mesmo
    insuportável, foi a única maneira de fazer você
    pagar.
  - E conseguiu, fiquei sendo chamado de confete pelos
    próximos 5 anos por sua causa.
A garota ria tão alto que jogava a cabeça para trás.
  O som de sua risada entrava como música nos ouvidos do rapaz e ele ria também.
  - Sério que isso aconteceu? - Ele assentiu - Por que
    nunca me contou?
  - Nunca tive oportunidade, e sabe que não deixaria
    você saber que ganhou de mim - disse com o olhar orgulhoso e ela riu ainda mais.
  - Olha impressionado!
  - Com o que?
  - Você conversou comigo por 5 minutos e ainda riu  
     sem me mandar embora, sem me agredir.. Ganhei
     meu dia!
Ela o olhou confusa. Mas antes de perguntar algo lembrou da maneira como tratava o garoto e fez uma pequena careta. Sua mãe tinha razão, mesmo que não gostasse dele como ele gostava dela, ele não merecia que ela o maltratasse.
  - Me desculpe, não queria atrapalhar o clima - disse o rapaz encabulado.
  - Tudo bem. Eu realmente te devo desculpas pelo   
    modo como o tratava - disse cabisbaixa, sentia que   
    estava corando - E devo assumir que gostei da
    pequena conversa que tivemos hoje.
  - Se me permitir mostrarei para a senhorita o quanto
    sou legal - disse ele fingindo ajeitar a gravata - e que
    não sou muito diferente daquele garoto que você
    passava as tardes de domingo.
Ela pensou um pouco e Arthur viu mesmo que breve um pequeno sorriso em seus lábios.
    Se apenas pudesse mostrar a ela que ele a faria feliz já seria o suficiente para ele. E mesmo que ela não gostasse dele como ele a amava, seriam bons amigos. Percebeu que estava ansioso esperando sua resposta e o tempo que ela demorou olhando para o nada lhe deu um certo receio de tentar. Mas como um rapaz educado esperou sem pressioná-la. Até que por fim, ela se mexeu ao lado dele.
   -  Aceito sua proposta Arthur - disse por fim - que tal
      um passeio a cavalo amanhã?
   -  Excelente! Desta vez não caia do cavalo apenas para
      que eu te leve no braço - comentou rindo.
Ela corou e abriu a boca para dizer algo, mas não teve coragem. Para seu alívio, ele continuou:
   -  Ei estava brincando. Não precisa se preocupar, já te
      perdoei. E cá entre nós - chegou mais perto - não
      achei ruim, você sempre foi uma bela dama.
   -  Podemos ser apenas bons amigos? Não quero  
      magoá-lo e nem ter que saber…
Pensou bem e fez com os dedos um gesto apontando dele para ela e continuou:
  -  Lidar com isso.
Ele pareceu tristonho e envergonhado, logo estava vermelho como pimentão. Então apenas assentiu.
   A garota logo queria engolir suas palavras. Por que havia sido tão rude? Reunindo coragem de onde não sabia que tinha complementou:
  -  Me desculpe Arthur, não queria magoar nem ser
     rude com você. Apenas… só não sei lidar bem com
     isso… - respirou fundo e quis continuar mas o rapaz a interrompeu:
  -  Está desculpada Laiz. Me acostumei aos poucos com
     seu jeito. E acho que entendo, você é a futura rainha
     de Xarxes, precisa deste espírito forte e determinado.
     Na verdade, é elogiável!
   Laiz corou ainda mais e deixou cair um cachinho escuro sobre os ombros. Como o rapaz poderia ser tão gentil mesmo quando ela era rude?
  -  Obrigada! - suspirou..- é… acho que preciso ir.
  -  Ah claro! Fique a vontade alteza - Fez uma longa reverência com um sorriso no rosto, mas antes que a moça passasse por ele, completou:
  -  Obrigado por sua ilustre companhia!
Laiz riu e com um breve aceno o deixou para trás.
Ele ficou lá, parado observando-a ir. Tinha que conquistá-la, o reinado tinha que ser seu.

Deveria Agradecer-me!Onde histórias criam vida. Descubra agora