Laiz foi encontrar seu pai, sentia a necessidade de vê-lo. Entrou novamente no salão, havia tantos convidados andando de um lado para o outro. As mulheres com seus vestidos enormes de gala e os homens com seus ternos engomadíssimos, discutindo sobre política.
Enquanto deslizava com seu belo vestido branco com detalhes dourados pelo salão, via alguns rapazes endireitar a postura para parecerem mais "homens"e lhe dar um breve aceno com sorrisos galanteadores no rosto. Sabia que tinha poucos dias de folga, pois logo faria 18 anos e centenas de rapazes viriam cortejá-la. Sem perceber já estava com os olhos arregalados diante desse fato.
Logo espantou esse pensamento e ergueu os olhos ainda à procura de seu pai. O encontrou no meio de um grupo que parecia estranho, nunca vira-lhes antes, mas ninguém parecia notá-los.
Aproximou-se devagar. Seu pai ainda não a notara, mas parecia agitado e nervoso, pois mexia no anel brilhante em seu dedo, algo que quase nunca fazia, apenas quando estava muito nervoso.
- Espero que entenda o que estou lhe dizendo
majestade - Falou um rapaz alto e loiro, muito
bonito por sinal, mas Laiz sentiu algo estranho no seu tom de voz.
Era uma ameaça? Estranhou ainda mais quando viu seu pai assentir cabisbaixo. O que estaria acontecendo? Resolveu intervir.
- Papai… - o chamou quase que num sussurro. Todos
se afastaram de repente, permanecendo apenas o rei
e o rapaz que a olhava com desdém. (Quem ele pensa que é?)
- Onde estava? O procurei em todo lugar. - Completou ignorando o olhar do bonito rapaz.
O rei engoliu seco e respirou fundo antes de falar:
- Sempre estive aqui, minha querida. Pensei que
estivesse com Arthur, o vi lhe seguir até o jardim.
- Sim, sim. Estava com ele. E tenho algo a lhe contar -
olhou novamente para o rapaz que permanecia com
seu olhar imóvel sobre ela.
- Claro que pode falar querida.- o rapaz o
interrompeu com uma pequena tosse - Ah, antes
gostaria que conhecesse o… - ele pensou bem antes
de falar e o rapaz o encarou com uma caranca, como
em desafio - este é Thomas, futuro rei de River.
O rapaz retirou os olhos do rei e pousou seus belos olhos verdes em Laiz. Ela estendeu a mão para que ele a beijasse. Ao soltá-la deu o que pareceu um pequeno sorriso, mas quase imperceptível.
Finalmente Laiz olhou para seu pai, que a olhava preocupado, como se temesse algo. Pensou em perguntar, mas como havia sido ensinada, sabia que não era o momento.
Eles se afastaram e seu pai permaneceu calado até o outro lado do salão, parecia meio triste e preocupado, suas feições lhe envelheciam dez anos a mais. Laiz deixou seus modos de lado e deixou que a curiosidade vencesse:
- Papai, o que houve? Nunca o vi tão preocupado. Tem
algo haver com aquele rapaz? - seu pai a fitou por
um tempo e depois de respirar fundo disse:
- Não minha querida, são apenas negócios do reino.
Este rapaz é… - pensou bem e isso deixava Laiz mais
curiosa. - Creio que é um bom rapaz. Se me permite,
irei descansar.
Seu pai não estava nada bem, havia até mesmo esquecido que ela queria lhe falar algo. Nunca tinha feito isso. O que estava acontecendo? Quem era aquele rapaz? Por que nunca o havia visto antes? O rei a deixou sozinha e saiu meio apressado. Ao passar pela rainha falou-lhe algo ao ouvido e ela o acompanhou para fora do salão. Sua mãe apenas lhe deu um breve sorriso ao sair.
Eles a haviam deixado ali, com suas dúvidas, com seus pensamentos e com os inúmeros convidados.
- Olá Alteza, como a senhora está?
- Olá, tia Cléo, estou bem, eu acho. E a senhora? - a tia
a olhou bem, Laiz podia sentir seus olhos verdes a
analisando como se pudesse ler seu interior e seus
inúmeros pensamentos.
Sua tia era de longe uma das mulheres mais lindas que já vira. Era de estatura mediana, morena, de olhos verdes e com um sorriso que prendia a atenção de qualquer um. Não era muito diferente de sua mãe, que tinha quase as mesmas características, a única diferença era que sua mãe era mais baixa, como ela.
Sua tia tinha conseguido conquistar o coração de um duque renomado de um reino distante, ao qual Laiz conhecia bem, foi lá que conhecera Arthur. Cléo não podia ter filhos, era o que mais queria, então sempre que podia tomava conta dos filhos de suas cunhadas e servas que não se importavam em ter muitos filhos e mal conviver com eles, um destes era o rapaz que tanto a incomodava mas que havia sido seu amigo de longas datas.
- Laiz você não está bem mesmo! Pelo menos está me
ouvindo?
- Perdão tia, não estou. - suspirou. Podia mesmo
contar suas preocupações a sua tia que tinha fama
de faladeira? - Apenas estou preocupada com papai,
ele anda bem cansado não acha? - não era mentira,
seu pai estava mesmo cansado e preocupado.
- Acho mesmo! Acho que eles deveriam tirar umas
férias, você já está bem grandinha para assumir o
trono por um tempo. Além do mais, isso ajudaria
você a treinar para o futuro. Seu pai a protege
demais, você mal sai deste palácio, nem conhece seu
povo e do que precisam.
Laiz se sentiu meio deslocada. Não podia contradizer a tia, se sentia que era verdade o que dizia. Queria poder ter mais contato fora desses enormes portões, mas seu pai achava muito perigoso.
- Sei que sim, tia. Mas já sabe o que papai pensa e não
quero contradizê- lo outra vez. Vamos deixar este
assunto para o futuro.
- Ah sim. Mas cê sabe que o que eu digo é verdade!
- Sei sim, tia- comentou rindo.
- Preciso ir, vejo que Arthur voltou do Jardim, vou ver
se precisa de algo.
- Tá bem! Divirta-se!
- Pode deixar.
E saiu tão rápido como chegou. Sua tia ainda era nova, tinha apenas 27 anos, mas agia como alguém bem mais velho, cuidando de rapazes e moças que tinham idades de serem seus irmãos. Sempre dando de si para os outros.
Quando a garota achou que ia ficar só outra vez e poderia fugir, sentiu alguém se aproximar e uma voz enjoada chamou-lhe.
- Olá Alteza! Está muito bela esta noite!
Ela virou-se e analisou o rapaz: Era alto, tinha ombros largos e braços fortes. Vestia um terno azul marinho que caia bem em sua pele negra. Tinha olhos negros como a noite e dentes tão brancos que poderiam cega-la facilmente.
- Olá senhor…?
- Brenno, Brenno do Reino Norte.
- Ah, prazer conhecê-lo Brenno - Ele fez uma
reverência. Decidiu ser educada e conversar - Está
gostando da festa?
- Ah sim, nunca vi algo tão luxuoso e elegante, mas ao
mesmo tempo confortável - ele olhou em volta com
admiração. E ela riu deste gesto.
- Que bom que está gostando, eu ajudei na decoração.
- Mesmo? Está perfeita! E isso diz um pouco sobre
você…
- É? O que? - Não conhecia aquele rapaz, mas a conversa estava interessante.
- Você mostra-se elegante e ao mesmo tempo simples,
gosta do conforto e de se sentir sempre em casa- Laiz sorriu. Algo no rapaz havia a agradado. Ele era eloquente, bem educado e muito simpático.
- Obrigada! É mais ou menos isso. E você, me fale um
pouco de você - O rapaz pareceu gostar da ideia.
- Não sou tão belo e elegante como a senhorita, mas
vim de uma família nobre e tive oportunidade de
aprender muitas coisas. Amo música e arquitetura,
são minhas paixões!
- Ah, que interessante. E que instrumento você toca?
Toco piano, violino e violoncelo. - disse orgulhoso.
- Incrível! Sou apaixonada por violino, mas não tive a
oportunidade de aprender a tocar.
- Posso ensiná-la se desejar.
- Claro, assim que tiver espaço em minha agenda lhe
avisarei.
Os dois riram. E ao correr os olhos pelo salão viu Arthur com uma cara nada boa os encarando. Não entendeu bem o por que dessa atitude então decidiu ignorá-lo.
- E como posso contatá-lo caso queira as aulas?
- Ah claro, aqui meu cartão. Pode ligar a hora que
precisar.
- Obrigada! Se me permite Brenno, preciso ir.
- Foi um prazer conhecê-la alteza, encantado! - ele disse sorrindo enquanto fazia uma breve reverência.
- O prazer foi meu Senhor, passar bem!
Ela passou uma última olhada pelo salão e chamou sua assistente com um aceno.
- Carla, poderia ficar de olho até tudo isso acabar?
Estou cansada e queria ficar em meu quarto um
pouco.
- Claro senhorita, já estão quase todos bêbados, logo
irão embora e nem vão notar que saiu. Descanse!
- Obrigada Carla, divirta-se um pouco também. Boa
noite!
Laiz saiu às pressas pelo salão, direto para seu quarto. Subiu aquelas enormes escadas pensando em seu dia, preocupada com seu pai, e mais ainda com o que ela mesma estava por enfrentar. Já havia gente demais em sua vida e hoje percebeu que logo logo isso iria piorar.
Ao chegar, dispensou Ana sua criada e preparou ela mesma seu banho e ficou na banheira a refletir sobre sua vida e o seu futuro. Quando estava com os dedos enrugados saiu e colocou seu pijama. Dormiu aquela noite como nenhuma outra.
Amanhã será outro dia!
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Deveria Agradecer-me!
Romansa**DUOLOGIA** Laiz é uma princesa prestes a completar 18 anos. E como toda princesa nesta idade logo terá que herdar a Coroa e escolher alguém para governar com ela. Porém algo dá errado: seu pai começa a agir de maneira estranha e abdica do trono...