Capítulo 02.

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     As cartas dele me deixavam inquieto toda vez que eu pensava no seu conteúdo. Por favor, eu sei de tudo que eu fiz no passado e não existe reparo para tais atos, mas não pensem em mim como alguém sem sentimentos, talvez meu problema seja sentir demais, não sou insensível, não estou me isentando da situação, a cada carta que eu recebia dele eu escrevia uma em resposta, mas jamais mandei nenhuma de volta.

     Andar pelo mundo descobrindo coisas novas, pagando meus pecados, ajudando quem precisa nas vilas por onde passei, achei que era o certo sabe, me distanciar de quem eu tenho laços, sofrer por isso não é nada perto do que já fiz aqueles que eu amo passar.

     Sair de Konoha novamente foi difícil, pois daquela vez não estávamos brigados. Éramos só nós, amigos, rivais. Eu mereci esse tchau tão dolorido, esse adeus breve, essa solidão vagando por aí, isso era o certo, eu estava cego mesmo quando podia enxergar, mas o ódio tapou o sol que eu tinha no meu caminho. Mas hoje eu entendo que por mais que seus olhos fiquem fechados e que você fique cego, mesmo assim você sente o sol na pele quando ele te esquenta e uma hora ou outra temos que abrir os olhos.

     Eu não mereço os sentimentos dele, não depois de tudo que eu fiz, eu queria me purificar de alguma forma me tornar digno. Mas a cada vez que o tempo passa eu perco as esperanças, a cada carta que eu recebo, escrevo uma resposta e não a mando de volta, me sinto um covarde. Como alguém poderia me aceitar como sou depois do que fiz. Como ele poderia me aceitar....

No dia da partida do Sasuke...

     Assim que peguei minha bandana que a muito ele guardou, jurei mantê-la comigo até nossa batalha verdadeira. Ele sorriu como quem concorda, entendi minha deixa, iria deixar ele sobre as sombras das árvores, iria deixar ele. De novo. Não, desta vez é diferente. Estamos diferentes pensei.

Assim que me viro e vou em busca de pagar meus pecados ele me chama...

- Sasuke... - Parei, imóvel. Esperando, com medo do que viria, ansioso por algo que não sabia. Não fui capaz de encarar seu rosto esperançoso quanto a mim. - Eu vou estar humm, bem aqui. Vou te esperar, você sabe... - sua voz vacilou, senti um arrepio na espinha. - Você é importante para mi... Para a vila... - Eu sei Naruto, eu sei, dei uma risada baixa em meio a pensamentos, porque eu sei o que ele quis dizer, eu sempre soube, essa ligação nunca foi tão forte quanto agora. Mas não é simples demonstrar, então eu apenas...

- Até mais Usuratonkachi - Sorri imaginando um futuro onde eu possa viver essa felicidade quente que ele emana.

     Estava agora de passagem na vila da Areia, pensando que estava a poucos dias de distância de Konoha, que eu poderia ir, não poderia?... Andando um pouco mais a frente sou parado quando escuto meu nome ser dito por uma voz familiar me segurando o braço que me restava. 

- Sasuke, a quanto tempo..

- Ah, Olá. Shikamaru.

- E aí o que te traz por aqui, me sinto até um pouco mal por ver você e ele não.

- Bom eu estava só de passagem na verdade, estou hospedado no hotel no centro da vila, vou embora amanhã bem cedo na verdade.

- Você vai pra Konoha?

- Eu não tenho planos de voltar ainda.. - Será que eu conseguiria voltar um dia?

- Entendo, você não quer que eu comente que você esteve aqui certo?. (Shikamaru é sempre o mais inteligente.)

- Por favor, eu agradeceria, não quero deixar ele mais preocupado ou qualquer outra coisa...

- Sasuke você sabe que sua ausência tem sido uma punição para ele. Ter ganhado a guerra foi um dever para com o mundo ninja, mas no mundo dele...

- Eu sei. Desculpa, sinto que não mereço ainda estar de volta como alguém normal.

- Você nunca foi ou vai ser alguém normal, ele sabe disso, e eu já não sei mais se você quer se punir ou punir ele ficando longe. - Isso foi como uma pedra direto na minha cara, acho que minha expressão de espanto foi o suficiente... Rindo o Shikamaru disse - Olha eu sei porque você está fazendo tudo isso, não se preocupe ele pode estar triste mais está bem cuidado. Você vem pro casamento dele, certo? - E de novo fui atingido em cheio.

- Estou perdendo toda a diversão na vila né... - disse sem animo.

- Acho que seria mais divertido com você lá, e não digo isso porque gosto muito de você, digo isso porque aí teríamos o Naruto de volta, presente. Bom eu vou indo a Temari vai bater em mim se me atrasar. - Quem diria.

- Certo, Shikamaru, obrigado.

- Volta logo hein, não vou guardar segredo que te vi, se ele pedir vou falar. - Ele disse rindo e saiu acenando às pressas pela rua da praça da vila da areia. Naquele momento eu tive inveja.

O dia estava bastante agradável, ainda me sinto culpado por vagar por aí livre, me sinto culpado por gostar do sol quente e sentir a brisa batendo no meu cabelo. Me sentei em um banco na praça embaixo de uma árvore, e comecei a comer o picolé que havia comprado na esquina. Esse tipo de paz, não consigo aproveitar.

Quando voltei pro hotel achei melhor me trancar o resto do dia no quarto refletindo um pouco, pensando onde iria amanhã. Pensando se passaria mais uma vez aos arredores de Konoha pra me certificar que estão todos bem, por mais que se ele está lá, todos estão mais do que bem. Mas não consigo deixar de ir me certificar, de ver um pouco, à distância. Será que ele sente quando eu visito a vila?

Essa noite sonhei com a vila dos Uchihas, sonhei com meus pais e com Itachi, acordei chorando por ter sido apenas um sonho bom, não me lembro de tudo, mas era bom. Assim que saí do quarto o sol estava começando a aparecer no horizonte, paguei minha estadia e comecei outra longa jornada andando por aí. 

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