Capítulo único

338 29 4
                                    

Treze. Treze riscos existiam naquele represeiro que Daemon (im)pacientemente marcava. Treze dias que ele esperava seu detestável sobrinho aparecer. Talvez o covarde não estivesse confiante o bastante para enfrentá-lo como no dia em que friamente assassinou seu enteado.

Era o décimo quarto dia, Daemon poderia perder a conta se não estivesse contando até mesmo os segundos. O príncipe, sentado escorando-se no represeiro, olhou para o céu. Era um dia estranho, o vento não soprava, estava quente mas nem tanto, tampouco se ouvia o barulho de pássaros ou outros animais. Estava silencioso.

Ele ia morrer. Ele sabia que ia morrer e que iria morrer como um traidor na visão de sua amada esposa. Daemon amava Rhaenyra; é claro que ele a amava, ele estava indo morrer por ela, pela sua causa, pela sua rainha. Ele iria se sacrificar para tirar dos verdes a maior arma que eles possuíam, Vhagar.

Ele não temia Aemond, seu sobrinho caolho poderia ser bom, mas mesmo Daemon fora de seu auge poderia derrotá-lo. Ele temia Vhagar. Ele temia a maior dragão existente, a grande dragão da conquista e que, para infelicidade dos negros, Aemond domou-a pouco tempo após a morte de sua montadora, Laena Velaryon.

Ah! Como isso enfurecia Daemon. Era só mais um na lista de coisas que enfurecia Daemon em relação ao seu maldito sobrinho.

Uma sombra negra que poderia cobrir Harrenhall inteira passou sobre o castelo. Os pássaros, antes calados, voaram assustados para longe. O vento emitido pelas asas da grande dragão agitou todas as folhas caídas no pátio.

Aemond. Lá estava ele. Devido a grandiosidade de Vhagar, Daemon só conseguiu avista-lo quando estava próximo do solo. Seu sobrinho trajava uma armadura negra com arabescos dourados. É claro que ele iria usar as malditas cores do irmão. Daemon poderia rir do quão patético aquele garoto era.

Vhagar pousou no pátio externo, um pouco longe de Caraxes, que abriu as asas e chiou, podia-se ver as chamas entre seus dentes enquanto um rosnado saia de sua boca. As duas feras compartilhavam da mesma hostilidade de seus montadores.

O príncipe caolho não estava sozinho, ele era acompanhado de Alys Rivers, quem o príncipe rebelde só se deu o trabalho de notar quando era ajudada por Aemond a descer de Vhagar.

– Tio, eu soube que estava nos procurando — o príncipe proferiu após virar-se para o tio.

– Ela não — respondeu Daemon — Quem lhe disse onde me encontrar?

– Minha senhora — disse Aemond — Ela o viu em uma nuvem de tempestade, em um lago de montanha ao entardecer, na fogueira que acendemos para cozinhar nosso jantar. Ela vê muito, minha Alys. Foi insensatez sua vir sozinho.

– Foi insensatez sua vir acompanhado, será difícil para ela vê-lo morto — provocou — Se eu não estivesse sozinho, você não teria vindo.

– Mas você está, e eu aqui estou. Você viveu tempo demais, tio.

– Nisso podemos concordar.

E então, o velho príncipe subiu no dorso de Caraxes, enquanto o jovem príncipe beijava Alys e subia com agilidade em Vhagar, prendendo as quatro correntes curtas entre o cinto e a sela. Daemon deixou suas correntes soltas.

Vhagar rugiu. Caraxes chiou. As bestas saltaram em uníssono no ar. Os dragões começaram a dançar.

Daemon e Caraxes desapareceram rapidamente em uma massa de nuvens. Vhagar, maior e mais lenta, subiu lentamente ao céu acima das águas do Olho de Deus.

Já estava tarde, Daemon havia esperado por Aemond por quase um dia inteiro, o sol estava a ponto de se pôr e o lago estava tranquilo. O príncipe caolho subia cada vez mais procurando o verme sangrento, enquanto Alys observava do topo da Pira do Rei.

Aemond só pôde ouvir um urro agudo vindo de Caraxes antes de sentir o ataque. Havia sido rápido, o dragão havia batido em Vhagar com uma força monstruosa. Daemon era muito mais experiente do que Aemond jamais poderia ser.

Gritos ecoavam sobre o Olho de Deus enquanto a batalha ocorria. Os dragões se agarravam entre seus pescoços a fim de morder um ao outro. Dente na carne. O céu estava flamejando. As chamas dos dois dragões se espalhavam por todo o lugar, quem olhasse de longe poderia jurar que via as nuvens ardendo em fogo.

Presos um no outro, os dragões caíram em direção ao lago. A boca de Caraxes se fechou no pescoço de Vhagar, enquanto as garras de Vhagar dilaceravam a barriga do verme sangrento e seus dentes arrancavam uma de suas asas. Em resposta, Caraxes mordeu com mais força e mastigou a carne de Vhagar em seus dentes.

Era a hora, Daemon estava preparado. Aquilo iria dar certo, tinha que dar certo. Era a última batalha, a última arma dele, a última coisa que faria pela sua rainha e que custaria a sua vida.

Em um súbito de loucura e
coragem, o príncipe Daemon Targaryen passou a perna por cima da sela e pulou de um dragão para o outro. Ele empunhava a sua espada de aço valiriano, a Irmã Sombria, antes pertencente à rainha Visenya, a conquistadora. O príncipe Aemond olhava para o seu tio aterrorizado. Ele temia Daemon.

Daemon arrancou o elmo do príncipe e cravou sua espada no olho cego do sobrinho com tanta força que a espada atravessou o pescoço de Aemond.

Nos últimos poucos milésimos de segundos que lhe restaram ele pensou nas suas filhas, suas amadas gêmeas, em seus filhos, na filha que lhe foi tirada, em seus enteados, seu irmão e em Rhaenyra. Ele iria morrer cumprindo seu propósito, protegendo sua família, ele morreria mil vezes para proteger aqueles que ele ama.

No instante seguinte, os dois dragões caíram no lago produzindo ondas enormes. Quem estava perto poderia ver o sangue se misturando na água rapidamente.

Ninguém sobreviveu. Caraxes viveu tempo o suficiente para se rastejar pelas margens do lago, estripado e sem uma asa, morreu pouco tempo depois. Vhagar afundou até o leito do lago, seu sangue quente fazia a água do Olho de Deus ferver.

E assim, pereceu o príncipe consorte Daemon da casa Targaryen, sua coragem na dança acima do Olho de Deus viraria conto. O príncipe rebelde contava quarenta e nove anos ao morrer, deixou quatro filhos vivos e lutou bravamente pela rainha e esposa.

❛ ━━━━━━・❪ ❁ ❫ ・━━━━━━ ❜

Eu quis narrar a cena da batalha do Daemon e do Aemond acima do Olho de Deus de maneira mais detalhada que é no livro, quis trazer os sentimentos do Daemon e humanizá-lo. Espero que tenham gostado. Qualquer erro me notifiquem por favor.

A batalha do Olho de Deus.Onde histórias criam vida. Descubra agora