Após a Fatídica Noite

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25 de dezembro de 2021. São Paulo, Brasil.

É sempre assim. Alguém comete alguma atrocidade dessas e a maldita mídia vem correndo feito urubus em carniça. Isso é fazer parte da elite brasileira.

Em seu apartamento no centro da cidade de São Paulo, Raquel Petrarelli observava da janela contendo cortinas cor de vinho o tumultuado de jornalistas em frente ao seu prédio. Em menos de 24 horas o país inteiro ficou sabendo do ocorrido. Mídia, familiares, conhecidos, amigos, parceiros de negócios....todos estavam tentando comunicação com Raquel. Conforme as horas passavam, mais reclusa a socialite ficava.

Após um longo banho, Raquel colocou um vestido preto, calçou um salto alto e se serviu uma taça de champanhe. Ela não deveria estar tendo este comportamento após seu marido cometer suicídio mas devido às circunstâncias, nada fazia sentido. A socialite era conhecida por sua personalidade misteriosa e sensual, inteligência acima do parâmetro normal, pensamentos racionais e comprometimentos com seus ideais. Muitos a declaravam como a "mulher sem emoção" apesar de sua visível admiração pelo seu marido. Ela o conhecia desde os 19 anos através de amigos próximos com quem saíam frequentemente. O casal não demorou muito para despertar olhares de inveja e desejo em cada lugar que iam. Cada ida á um restaurante ou parque já era motivo de burburinho, visto que Cristiano pertencia à família Petrarelli a qual era dona de grande parte de vinícolas do país. De início duvidavam da capacidade de Raquel visto que os pais dele a viam somente como "a suburbana que subiu na vida por pura sorte". Esse pensamento mudou conforme o tempo, porém, outros se formaram...

Chegando perto do fim da tarde, Raquel resolveu entrar em contato com Bárbara, sua amiga e advogada para lhe ajudar com a moralidade da situação. Iria lhe enviar mensagem através do WhatsApp mas seu celular não parava de receber notificações, então resolveu ir até seu MacBook e enviar um e-mail. Por sorte, Bárbara ainda fazia parte do grupo de pessoas que ainda utilizavam a ferramenta.

- Raquel Petrarelli -
Bárbara, preciso que me ajude. Presumo que já saiba o porquê de eu lhe procurar então não precisarei explicar tudo por aqui. Se puder, venha na minha casa ainda hoje, urgente! Irei esperar.

Após enviar o e-mail, ficou olhando para o local aonde Cristiano cometeu o ato. Foi em frente á cama deles, de vista para a cidade. Ele amava olhar para a cidade de pedra então nada mais significativo do que ter como a última lembrança o lugar que ele tanto venerava. Raquel ficou por alguns segundos imóvel enquanto se lembrava de seus momentos felizes com ele ali, no quarto, mas logo de recompôs e foi até seu MacBook que apitou para uma notificação.

- Bárbara Viscanti -
Oi! Sem problema algum! Eu lhe mandei mensagens no WhatsApp mas como não respondeu fiquei achando que havia feito alguma loucura, mulher! Não imagina o alívio que senti após o e-mail. Enfim, vou me arrumar agora para ir até aí. Eu entro pela entrada dos fundos para os jornalistas não me verem, assim fica "melhor". Até logo.

Após ler o e-mail, fechou o MacBook e ficou esperando por Bárbara. Após 15 minutos ela chegou. Assim que abriu a porta a sua amiga lhe abraçou angustiada pelo o quê aconteceu. Raquel tentava demonstrar alguma reação de "compreensão" mas ainda mantinha a expressão de frieza.

- Tem alguma coisa que eu deva saber?

- Além do quê? Meu marido se suicidou e agora eu sou viúva. O quê mais poderia acontecer?

- Ah, não sei. É que você está estranha. Quer dizer, você nunca foi de demonstrar reações sentimentais mas num momento desses é... esquisito.

- Estou em choque. É normal. Imagine se você encontrasse o Jonathan caído em uma poça de sangue no quarto de vocês como que ficaria. Não tem como prever uma reação após uma merda dessas.

- É, tem razão. Não deveria ter dito isso. Não gosto nem de imaginar... Enfim, vamos colocar em prática toda a papelada porque para o seu azar NESSE caso, você é rica e era casada com um empresário milionário. Um rico se mata e toda a sociedade resolve querer saber sobre o quê ocasionou dele fazer isso. Agora vai um pobre se matar? Só encaminham o corpo pro IML e fim de assunto.

- É, em casos assim fazer parte da classe alta não tem lá seus... privilégios. Bom, então vamos.

Enquanto Bárbara auxiliava Raquel, a advogada recebeu uma mensagem e logo a foi verificar. Após ler, ficou sem reação e jeito de como iria contar para sua amiga.

- É...ah... Raquel, não tenho boas notícias.

- Estou pronta para ouvir. O quê foi dessa vez?

- Os pais do Cristiano abriram uma investigação sobre o suicídio dele e...estão apontando que você foi o motivo dele cometer tal ato.

- O QUÊ?! COMO ELES FIZERAM ISSO? Eu não acredito! Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam pra cima de mim mas me acusar disso?! Fui EU que encontrei o Cristiano morto, eles mal vinham visitar o filho deles.

- Eu sei, eu sei. Mas é que estão afirmando que ele não seria capaz de cometer suicídio. Irão fazer uma nova autópsia para examinar a perfuração da bala na cabeça e tentar ver de qual direção ela veio.

-.... É, sei bem como são essas coisas. Olha, estou ficando com dor de cabeça então se não for parecer ignorante, preciso ficar sozinha agora.

- Compreendo o seu pedido. Enfim, vou lhe enviar o e-mail do inquérito e tudo mais assim que estiver ao meu alcance. Até lá, não pense muito nisso. Você não fez nada de errado.

- Agradeço pelo apoio, Barb.

Após Bárbara ir embora, Raquel colocou um roupão e ficou sentada na poltrona da sala enquanto mexia uma taça de vinho tinto e assistia os jornais na televisão, no mudo. As matérias eram sobre o suicídio de Cristiano.

...Era só o que me faltava. Aqueles velhos insuportáveis abrirem uma investigação. Nem mesmos assim eu fiquei livre deles...

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