Los Angeles, 1986
O cômodo era preenchido por um som não alto o suficiente onde você não consegue ouvir as pessoas, mas sim apenas uma melodia ambiente com a voz de Mick Jagger erradiando os ouvidos daqueles que entravam na pequena “Sinners Club”, uma loja de discos perto da Sunset Strip bem movimentada e conhecida por ser um lugar aconchegante.
Não havia muito tempo que eu trabalhava lá, mas já amava. Por que? Porquê eu amava música. Não havia palavras para descrever a euforia que uma simples melodia causava em todo o meu corpo, nada se comparava. Era o que eu achava até vê-lo pela primeira vez.
Era Terça-Feira, 25 de abril de 86, minha segunda semana desde que tinha começado a trabalhar na Sinners. Apesar de ser sempre bem movimentado, aquele dia seguia tranquilo com poucos clientes me deixando com uma tarde entediante e sem graça. Quando abruptamente, escutei o som da porta abrindo, suspirei fundo e subi meu olhar naquela direção.
Quando me deparei com um par de angelicais e curiosos olhos azuis passando por cada detalhe do cômodo, senti meu coração acelerar dentro do peito. Um homem ruivo acabara de chegar e não parecia ser cliente frequente, tanto que não me lembro de tê-lo visto por ali durante o pouco tempo que trabalhei e tenho certeza que me lembraria se tivesse. Não havia possibilidade de olhar naqueles olhos e esquecer tão facilmente.
— Boa tarde, precisa de ajuda para encontrar alguma coisa? — Perguntei calmamente chamando a atenção dele, que me mostrou um sorriso de lado e respondeu:
— Não estou procurando nada em específico, apenas dando uma olhada mas obrigado. — Eu lhe devolvi um sorriso tímido e voltei minha atenção para a bancada de discos dos Rolling Stones enquanto arrumava todos em ordem.
Após aquele dia, ele sempre voltava no mesmo horário às 15:30 da tarde e nunca comprava nada, sempre vagava pelos corredores da loja analisando vários álbuns diferentes enquanto escutava qualquer música que estava tocando. É engraçado dizer ele sempre aparecia quando estava tocando The Rolling Stones mas impressionantemente naquele dia o cômodo era preenchido por “Home Sweet Home” do Motley Crue, fitei atentamente o relógio que marcava 13:45 da tarde.
Ele nunca aparecia tão cedo.
Observei o mesmo caminhar moderadamente em minha direção enquanto sentia minhas mãos suarem e meu coração se agitar a cada passo mais próximo de mim, pude ver um pequeno sorriso surgir em seu rosto, como se ele achasse meu nervosismo divertido. Eu não era inocente, tinha total noção do quão transparente posso ser, qualquer um que me observasse poderia supor o meu interesse no ruivo.
— Com licença? Você ta’ me escutando? — Subitamente, escuto sua voz grave e rouca extremamente atraente fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Deus, eu fiquei tão presa nos meus próprios pensamentos que simplesmente não escutei sua primeira tentativa de falar comigo. Ele soltou a risadinha mais adorável que eu ja escutei enquanto me assistia voltar a me recompor.
— Desculpa, eu posso te ajudar em alguma coisa? — Perguntei enquanto sentia meu rosto esquentar devido a vergonha.
— Então, na verdade, eu queria saber se você tem alguma recomendação. — Proferiu as palavras atenciosamente esperando por alguma reação minha. Confusa com o pedido, eu disse:
— O que? recomendação minha? — Questionei sem entender, ele apenas assentiu com a cabeça sem mudar sua expressão. — Bem, eu meio que ando escutando muito essa banda Motley Crue, inclusive eles estão tocando agora. — Continuei falando enquanto apontava para o álbum “Theatre Of Pain” no balcão a nossa esquerda.
— Ah, parece bom, então você curte rock ‘n’ roll? — Me perguntou de forma divertida enquanto mexia aleatoriamente nas bancadas sem realmente prestar atenção, a loja estava vazia pois pouco se passava do horário de almoço, raramente havia clientes neste horário.
— Talvez. — Disse com tom provocativo fazendo-o soltar um riso leve. — Eu gosto desde criança, meu pai sempre costumava ouvir e isso me levou até a Whisky, as vezes aparecem boas bandas por lá mas não pude ir ultimamente, o trabalho acaba me deixando esgotada. — Conclui.
— Entendo. — Respondeu voltando novamente seus olhos em minha direção. — Minha banda toca na Whisky algumas noites e eu não lembro de te ver por lá, posso lhe garantir que se tivesse não esqueceria nunca.
— E como tem tanta certeza? — Questionei com divertimento. Ele pôs os braços na bancada a minha frente enquanto apoiava uma mão sobre o rosto sem nenhum resquício de pêlos, dando um pequeno sorriso antes de responder:
— Não há como esquecer uma mulher tão linda, se tivesse visto seu rosto por lá, me lembraria perfeitamente de cada detalhe. — Afirmou enquanto observava meu rosto voltar a ficar vermelho. — E ainda mais quando está com vergonha. — Finalizou com um riso fraco.
Era inegável o charme do ruivo, ele era divertido e extremamente cativante. Apesar de gostar de flertar, ele não estava sendo desrespeitoso comigo e parecia sempre ficar atento as minhas reações, provavelmente para parar no momento em que me sentisse desconfortável.
— Sou Axl, a propósito.— Informou.
— Gwen. — Disse sorrindo em sua direção, que me retribuiu com outro.
— Gwen. — Repetiu lentamente. — Sabe, já faz um tempo que queria te chamar para ir em um encontro comigo então, o que acha de dar uma volta por ai algum dia? — Perguntou me olhando atentamente.
A princípio, fiquei surpresa com o convite repentino pois sempre achei que nunca achei que passaria de algo platônico. Como alguém como ele poderia se interessar em alguém como eu? Eu não costumo ser insegura, mas algumas coisas são inevitáveis de pensar.
— Eu adoraria. — Respondi com entusiasmo, me arrependendo logo depois por parecer tão empolgada com o convite.
— O que acha de sábado às 15:00? Vou te levar em um lugar legal e minha banda vai tocar na whisky a noite, se você quiser ir comigo assistir quando o show acabar posso te levar para jantar em algum lugar e depois deixo você em casa. — Falou enquanto esperava minha resposta.
— Parece incrível. — Respondi sorrindo.
— Perfeito, te vejo no sábado aqui na frente da loja. — se aproximou um pouco antes de finalizar me chamando de:
— Anjo. — Com aquela voz grave e provocativa.
Minha única reação foi abrir a boca sem conseguir proferir nenhuma palavra enquanto observava o mesmo andar até a saída e desaparecer do meu campo de visão.
O.Que.Acabou.De.Acontecer.
Eu nunca fui alguém emocionada, pelo contrário, na verdade nunca nem mesmo tive um namorado. Eu tive pequenas paixões de adolescente e alguns casos de uma noite mas no geral nunca conheci um cara legal o suficiente para me fazer suspirar com apenas alguns minutos de conversa. Talvez o fato de ele ser um dos caras mais bonitos que eu já vi na vida tivesse influenciado uma boa parte desses sentimentos estranhos.
Aqueles olhos.
São os olhos mais lindos que eu ja vi na vida, chega a ser até poético de tantos sentimentos que eles me passam. Simplesmente, encantador. Não menos importante que isso, ele tinha longos cabelos ruivos bem abaixo dos ombros e um maxilar bem marcado o que fazia seu rosto ao mesmo tempo que delicado também extremamente viril.
Eu estou contando os dias, as horas e os segundos para terça. Quero muito vê-lo outra vez, ouvir mais da sua voz grossa e rouca, seus flertes divertidos e sua risada extremamente fofa. Sinto meu coração bater mais forte apenas pensando em ter tudo isso outra vez por horas daqui a alguns dias.
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Think About You
Fanfiction"Los Angeles, 1986 O cômodo era preenchido por um som não alto o suficiente onde você não consegue ouvir as pessoas, mas sim apenas uma melodia ambiente com a voz de Mick Jagger erradiando os ouvidos daqueles que entravam na pequena "Sinners Club"...