XXXII- boa noite, moça linda

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New York, 20:48.

Lembrando desta volta ao Brasil, a única coisa que me vez a cabeça é choro e muito sofrimento. Eu nunca tinha chorado tanto em toda minha vida. Chorei pela minha vó, pelos meus dois priminhos, pela minha tia que se foram em um só dia e eu não estava lá.

Mas também me lamentei por perder meus J3. Jaden, Javon e Jayla.
Sendo sincera, é obvio que eu sinto falta deles. Mas sinto mais falta do que vivemos e sei que nós quatro estamos felizes vivendo nossas vidas e estamos seguindo em frente agora.

Já se passam sete anos, sofrer por algo que não volta mais, é bobagem.

Estou morando em Nova York a 3 anos. É, muito incrível. Nunca pensei que conseguiria viver a vida que sempre sonhei. Exercendo minha profissão favorita e mantendo meus dois hobby's sempre ativos.

Bom, sou fotógrafa, dançarina profissional e faço Boxe duas vezes na semana.

É louco dizer que tenho um apartamento foda, felizmente faço terapia, faço academia, tenho minha estabilidade financeira, tenho como profissão aquilo que sempre amei e ainda sou feliz para caralho.

A Gabriela Carson Guimarães de 16 anos não acreditaria que a de 22 anos estaria vivendo o sonho dela.

Já namorei, já fiz muita merda até aqui e acredito que farei mais ainda. Meus últimos namoros (ou tentativas) não deram muito certo, então continuo feliz sozinha.

Ta, eu sei que tive meu namoro na adolescência, inclusive não me arrependo de nada que fiz, mas ele acabou.
Acabou e não teve um desfecho tão incrível como esperado.
Jaden ficou meio frio depois que me mudei para o Brasil.

Nós conversamos por uns 6 meses e depois ele sumiu e nunca mais ouvi falar de seu nome.

Sofri com isso até os meus 17, depois acordei para a vida e hoje não me importo mais (ou pelo menos tento não me importar).
Ele fez aquilo porque quis e se fez foi por escolha.
Posso dizer que superei 100%? Obvio que não, porque o que eu senti por ele não era mentira, tudo o que eu falava era verdade.

Não tenho desculpas para ficar triste hoje. Fui convidada para assistir a um jogo de Baseball (provavelmente o motivo de eu estar pensando tanto nele), um final de campeonato e ainda vou conseguir uma boa graninha com isso. Vou tirar fotos para o New York Times. Não tinha como recusar. Mesmo que esse esporte me lembre a uma pessoa que seria melhor eu esquecer, mas ta tudo certo.

Já estou quase pronta, estou finalizando meu delineado, o coque e meus dois cachinhos que ficaram soltos na frente. Estou de preto, uma calça lisa e uma blusa de gola alta. Usando uma argola de brilhos e meu colar que ganhei de Jaden. É, uso ele até hoje. E um salto alto que tem amarração nos tornozelos.

Na minha bolsa tem apenas meu celular, meu chiclete, um batom, minha carteira, meu perfume, um rímel, caneta delineadora, um bloco de notas e uma caneta azul. E se eu não estivesse indo trabalhar, levaria um livro de romance ou suspense.
Estou levando também minha maleta com minha câmera, minhas lentes, minha luz, meu tripé, minha outra câmera, minha pequena ring light, os lenços para limpar as lentes e um produtinho especifico para isso.

Antes de sair tenho que tirar foto para postar no Instagram marcando todos os envolvidos como sempre faço, mesmo que não me peçam gosto de agradecer. Eles pagam meu suco de uva e minhas gigantescas compras on-line. Eles salvam minha vida.


[...] 21:00

Chegando no lugar vejo várias pessoas conhecidas, cumprimento a todos e fui até o "chefe" para saber exatamente o que devo fazer. Uma moça me levou até um lugar na arquibancada para que eu comece a organizar minhas coisas para testar as luzes, os ângulos, se precisaria de outra lente, mais luz, menos luz, etc.

Eu estava concentrada, mas sentia olhares diretamente a mim, entendo estar praticamente sozinha, se excluíssemos um casal se pegando na arquibancada, uma menina de cabelo preto liso que parecia estar bem entediada, um homem da minha idade com uma camisa LGBTQIA+, uma criança correndo e os jogadores treinando no campo. Mas tirando isso eu estava "sozinha".

Organizo as configurações da câmera e levanto minha cabeça para olhar ao redor e entender o porquê dessa sensação. Observo as arquibancadas e nada, olho para trás e nada, olho para os lados e nada, me viro para frente e constato um jogador alto, com camisa número 17 com a mão na cintura me olhando bem indiscretamente.

Coisa que me fez pensar se seria Jaden, mas obviamente não era. Não acredito que ele esteja aqui, não hoje.

Continuo ajeitando as coisas e me sento após terminar, vendo que os jogadores já não estão mais no campo. Como sempre gravo vídeos, tiro fotos para postar quando chegar em casa. Gosto de registrar os lugares aonde vou no meu Instagram e no meu Vsco pessoal.

Sem muito o que fazer, vou até à salinha que estava antes para comer alguma coisa.

Oh! Não, quanta gente! Quanto barulho! Era melhor ter ficado com fome.
Todos jogadores então lá comendo e conversando, muito alto por sinal.

Olho para cada uma deles e sinto que os conheço. Mas ignoro esse achismo. Pego alguns pequenos pães e saio da sala e vejo alguém atrás de mim.

— Oi! Você vai ser a fotógrafa do jogo de hoje? - jogador vai comigo até a arquibancada e se senta comigo.

— Sim, sou eu mesma. - dou um sorriso e olho para ele.

— Bom, eu sou Jaden Walton e você é...

— Nem fodendo.

Não é possível que seja ele. Eu provavelmente to paralisada com os olhos arregalados nesse momento.

— Oi! Nem fodendo!

Ele dá um sorriso que me faz ter mil lembranças diferentes.

— Meu nome é Gabriela Carson - eu falo rápido com medo de sua reação.

— Nem fodendo que é você, Gaby!

Ele me olha assustado.

— Jaden é você mesmo? Não é possível.

— É sou eu, depois de 7 anos...

— Não mudou muita coisa, o mesmo cabelo bagunçado, as bochechas sempre rosadinhas e um sorriso no rosto o tempo todo.

— Você mudou até um tantinho bom, não te reconheci, só julguei que te conhecer pelo seu olhar.

— É, ficou me encarando do campo e tempo inteiro né.

— Fiquei sim, queria saber se te conhecia mesmo, mas agora sei que sim.

— Você ta morando aqui também? - ele pergunta.

Você ta morando aqui?

— Sim, eu e Javon. Jayla está em Los Angeles.

— Entendi, moro aqui a 3 anos, já vi Javon muitas vezes - olho para trás e a menina da arquibancada esta me fuzilando com os olhos. - Aí credo.

— Ele me disse - fala meio triste - O que foi?

— Aquela menina está me encarando e nem sei o porquê, parece que me odeia - digo confusa.

— Ela é legal, relaxa.

— Sua namorada?

— Não, que Deus me proteja. Ela é namorada do Javon, É a Bel.

— A BEL?

— Sim, ela mesma.

— Se eu mudei, ela trocou o DNA.

Antes que ele responda, escutamos um som de apito e um grito.

— TODOS PARA O CAMPO, O JOGO COMEÇA EM 6 MINUTOS!

Jaden me olha e eu sussurro.

— Bom jogo Jad.


— Contigo aqui eu vou me matar pra jogar bem, só não digo que vou fazer um ponto pra você porque seria muito convencido da minha parte. - ele fala indo para o campo me deixando com um sorriso no rosto.

Ele parou no caminho e olhou para mim.

— Bom trabalho - ele gritou um português com um sotaque ótimo.

— Puta merda não era brincadeira... - sussurrei.

Me levanto para ter certeza que a câmera está posicionada corretamente. E desde já começo com as fotos, hoje preciso de foto até da grama no campo.

Não devia ter vindo de salto, meus pés estão doendo e o jogo nem começou.

Depois de muitos minutos se enrolação, escuto um apito soando e me atento ao campo pela lente da câmera.

Enquanto ele jogava eu pensava no quanto o destino é inesperado, qual seria a chance dele estar aqui? Nenhuma, mas ele está. E o tempo foi bom para ele, não é como se ele fosse feio antes, mas agora ele ta diferente...

A saudade que eu sentia era indescritível. Mas eu ainda preciso falar com ele sobre todo esse tempo longe. Não sei porque ele parou de falar comigo de repente, na verdade, eu nem sei de muitas outras coisas.

O jogo tinha finalmente acabado e felizmente o time de Jaden havia ganhado, estavam comemorando a vitória enquanto eu guardava novamente todo meu equipamento para ir embora. Meus pés já não aguentavam mais!

Passei pela multidão de jogadores que estavam pulando e gritando e fui novamente para a "salinha da comida" onde encontrei a diretora do jornal que iria publicar minhas fotos, consegui mostrar algumas de hoje.

— Estão ótimas, Carson! Fico muito feliz de te-la contratado - ela abriu um sorriso - Amanhã teremos uma reunião na sede do New York Times e quero você presente! Minha equipe te enviará o horário e localidade ainda hoje por e-mail, te espero amanhã.

— Eu estarei lá, muito obrigada pela oportunidade Senhorita Carrytiny.

Ela respondeu com um sorriso e saiu.

Eu estava muito nervosa com isso, muito mesmo. Eu costumo trabalhar para várias marcas importantes e no final eu sempre sinto o mesmo frio na barriga, ele já faz parte do processo.

Fiquei um tempo na salinha comendo, os pãezinhos estavam uma delícia e eu estava sozinha lá.

— Gabriela? - ouso Jaden me chamar, olhando para cada canto da sala a minha procura - Ah! Meu Deus, eu estava te procurando lá fora!

Sorriu aliviado.

— Aliás, você ta linda hoje!

Eu abri um pequeno sorriso em forma de agradecimento.

— Obrigada! Você fez um ótimo jogo, meus parabéns!

— Agradeço, mas vou direto ao ponto. Você pode me passar seu WhatsApp?

— Claro! Me empresta seu celular.

Onde a 7 anos seria uma foto minha, hoje é a foto de um cachorrinho filhote agarrado com uma pelúcia roxa. (muito fofinho por sinal)

— Que gracinha - sussurrei.

— Ele é mesmo.

Sorri ainda olhando para o celular escrevendo meu número no "Novo Contato +"

— Vê se não perde dessa vez, te vejo por aí - dei um tchauzinho com a mão e sai pela outra porta que ia direto ao estacionamento.

Antes mesmo de eu conseguir sair do estacionamento, já tinha recebido uma mensagem.

contato desconhecido"oi gaby"


Eu queria responder agora, mas eu to no meio do trânsito, não quero morrer hoje.
Quando estava no elevador, outra mensagem chegou.

de: contato desconhecido
"é a gaby mesmo? desculpa se não for!
eu quero conversar com gabriela guimarães!"

Dei uma risada nasal e guardei no bolso, eu só responderia após fazer minhas coisas. Seria um momento especial, eu quero estar em paz.
Após ter feito tudo que eu precisava, coloquei 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você na TV e fiz um brownie de micro-ondas.
Quando eu senti que deveria responder, respirei fundo e mandei um:

whats on

👤 contato desconhecido

oi gaby
é a gaby mesmo? desculpa se não for!
eu quero conversar com gabriela guimarães!

oioi jaden, tudo bem?

graças a Deus! pensei que não fosse você!
tudo bem sim, e contigo?

estou ótima, obrigada :)

fico feliz...
enfim queria te perguntar se nós poderíamos sair amanhã pra conversar

sim sim podemos, depois das 18:30 eu to livre!!

você vai sair comigo mesmo?

eh... eu acho que sim né KKKKKKK

tudo bem, eu te pego as 19:40
me passa o endereço amanhã

ok ok, boa noite!!

boa noite, moça linda 🙃

whats off

Eu nem sabia a grandeza da saudade que eu sentia disso.

Pausei o filme, fui direto para o quarto, organizar minhas roupas de amanhã, eu tenho a reunião da minha vida, cabelo e unha e mais um encontro a noite.
Se meu dia for ruim, eu juro que chego em casa eu choro por uma semana.

não mi matem 😭 vieram me xingar no ultimo capitulo KKKKKKKKKK 

e olha que falta um tantinho bom de coisas para acontecer... 

beijo beijo i quem não votar odeia o Jaden (ishe to de olho)

💗.

𝐊𝐈𝐒𝐒𝐄𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐁𝐀𝐒𝐄𝐁𝐀𝐋𝐋 - 𝘫𝘢𝘥𝘦𝘯 𝘸𝘢𝘭𝘵𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora