Pandemia

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Lexa acordou às 6 horas da manhã com o celular de Clarke despertando. Ela respirou fundo e virou na cama para encarar os cabelos loiros da namorada, que ainda estava dormindo profundamente. Foram necessários alguns cutucões para Clarke desligar o celular e se virar para encaixar o rosto no pescoço de Lexa. Elas murmuraram um bom dia e ficaram cochilando juntas por mais meia hora até o despertador das 06:30 soar.

A rotina matinal delas começou. Clarke usou o banheiro enquanto Lexa lavava o rosto e escovava os dentes. Elas trocaram alguns minutos depois e logo estavam no closet escolhendo a roupa do dia. Clarke, como sempre, com o seu enorme moletom aceitável e com a calça do pijama, Lexa estava vestida completa, só não de sapato fechado. Clarke ligou a cafeteira e, enquanto Lexa quebrava os ovos e os mexiam na frigideira, ela alimentava o gato e ia ligando os computadores.

Elas comeram juntas no sofá, assistindo o noticiário matinal, enquanto conversavam sobre coisas banais que se lembravam ou pequenas fofocas que esqueceram de comentar no dia anterior. Lexa era responsável pela louça, então quando bateu 07:45, ela levantou e foi para a pia. Clarke, como tinha sido nas últimas duas semanas, suspirou alto e deu um beijo na bochecha da namorada antes de se recluir para o seu escritório, que na verdade era escritório das duas e o quarto de hóspedes onde os amigos dormiam depois de beberem muito em noites de festas. Noites de festas que não aconteciam desde março. Elas estavam na segunda semana de abril.

Lexa pegou a sua garrafa térmica com café e levou a de Clarke para ela, já que ela sempre esquecia, e voltou para a sala. Alguns minutos depois, ela estava cumprimentando os seus alunos do primeiro ano do ensino médio. No quarto ao lado, Clarke fazia a mesma coisa com os seus do último ano.

Era assim que se iniciava o dia no pequeno apartamento das senhoritas Woods e Griffin desde que iniciou as aulas online, depois do decreto de quarentena graças a pandemia do Covid-19. Clarke ficou levemente animada por poder ficar em casa por duas semanas, mas já fazia mais de um mês e o seu lado social já chorava - fora que Abby estava na linha de frente e isso a deixava terrivelmente apavorada, por mais que ela não demonstrasse tanto. Lexa, por outro lado, tinha se adaptado até o momento e conseguia conviver apenas com as videochamadas com os amigos e a irmã.

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- Alguém fez a leitura que eu indiquei? - Ela perguntou quando iniciou a aula com a turma do segundo ano, quase uma hora depois.

- Eu comecei o livro e achei interessante, mas ainda prefiro o livro do mês passado - Tris foi a primeira a falar, como era em todas as aulas.

- Eu terminei ele ontem, professora - Aden falou, claramente competindo com a garota. Ele era o puxa saco e Lexa o adorava, mesmo que ela não saia falando por aí que tem um aluno favorito. E também era surpreendente que ele tinha lido um livro de 400 páginas em um dia e meio. Era quarta-feira, ela tinha indicado o livro na segunda-feira.

- Incrível, Aden. Conseguiu fazer alguma análise?

- Obviamente, achei realmente incrível...

- Calma - ela riu e parou o menino, que estava sorrindo também -, acho que você foi o único que já leu e marcamos a discussão da leitura para segunda que vem. Sem spoiler, Aden.

Alguns alunos concordaram ligando o microfone e outros escreveram no chat. Os mais participativos comentaram as primeiras opiniões, se gostaram ou não, e os mais quietos ficaram na sua. Lexa tinha certeza que eles estavam dormindo. Antes que a aula fosse para um rumo que ela não queria, Lexa brecou a discussão sobre o livro do mês passado ser melhor ou não que esse e iniciou a aula que tinha preparado para eles. Nos vinte minutos finais da aula, que tinha sido uma dobradinha, ela parou e quis saber um pouco mais dos seus pequenos. Ela não era tão carinhosa assim com eles durante as aulas presenciais, mas eles estavam numa situação complicada e era aceitável um pouco de conversa paralela e um ombro a mais para eles desabafarem.

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