Capítulo 9: "Nem Todo Silêncio É Medo"

3.6K 201 25
                                        




A notificação chegou ao celular de Marie pouco depois do almoço:

"Comparecer à sala da diretoria às 14h. Assunto: conduta em sala e declaração pública recente."

O estômago de Marie virou. Ela apertou o celular entre os dedos e olhou ao redor, mas ninguém parecia ter recebido o mesmo aviso.

Ao chegar lá, foi recebida pela vice-diretora Roberta, rígida, com olhos que tentavam parecer empáticos.

— Marie, por favor, sente-se. Fomos procurados por algumas alunas — Roberta disse, colocando ênfase estratégica no plural — que relataram preocupação com os conteúdos que você expôs na aula de Literatura. Sabemos que temas delicados são válidos, mas...

— Mas? — Marie apertou os dedos no colo.

— ... precisamos garantir que o ambiente escolar seja seguro para todos. Há pais dizendo que o relato foi "inadequado" e que poderia causar gatilhos nos outros alunos.

Marie mal acreditava no que ouvia.

— Eu falei a verdade. E eu pedi para sair quando me senti mal. Eu não obriguei ninguém a ouvir.

— Claro — disse a vice-diretora, tentando manter a calma. — Mas algumas alunas, incluindo Carrie Rodrigues, disseram que a situação foi um "espetáculo emocional". Ela inclusive nos informou que tentou oferecer ajuda e foi recebida com hostilidade.

Marie engoliu seco. O veneno estava se espalhando rápido.

Na biblioteca, Helena encarava os mesmos bilhetes que tinha recolhido do armário de Marie — todos de apoio, todos silenciados agora.

— Eles querem calar sua história, Marie. E a gente não vai deixar — disse ela, empurrando um caderno na direção da amiga. — Você vai escrever o que quiser. E a gente vai publicar.

— No jornal da escola?

— Não. No nosso próprio espaço. Eu tô montando um blog estudantil com outros alunos de audiovisual. A gente pode fazer um manifesto, um vídeo, relatos anônimos. Você não precisa dar nomes. Mas precisa ser ouvida. E não vai ser só você.

Marie hesitou. A lembrança da sala da diretora ainda ecoava como um tapa.

— Eu não sei se aguento.

— Você aguentou coisas muito piores — Helena respondeu. — Isso aqui é só barulho. E a gente vai responder com voz.

No fim daquela semana, enquanto Carrie sorria entre suas amigas no pátio, um grupo de alunos distribuía discretamente panfletos com um QR code.

No topo: "LIBERTY NÃO ESCONDE MAIS."

O link levava a um manifesto estudantil. Assinado por alunos de todas as séries. Com uma nota poderosa:

🖋 "Nós acreditamos na Marie. E em todos que já foram silenciados."

Carrie rasgou o panfleto quando viu.

Mas algo havia mudado.

Dessa vez, o silêncio não era medo.

Era estratégia.

Ela Sempre Esteve AquiOnde histórias criam vida. Descubra agora