Quero ir pra casa...

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Eu queria ir para casa,
queria muito,queria comer alguma coisa... tomar um banho.
Terminar de escrever aquela maldita redação...e dormiria feito uma pedra...

Se não fosse por um detalhe.

Meus pais... eles brigavam demais. Tinha certeza que quando chegasse estariam gritando um com o outro...

Eu não conseguiria aguentar. A aula de anatomia já tinha sido difícil demais.

A rua estava deserta, alguns carros passavam pela avenida.
Então tentando evitar o inevitável me sentei em um banco em uma praça que havia ali. Percebi que era sortuda por conseguir fazer isso sem um pingo de medo, afinal já passava das onze da noite, não era tão burra ao ponto de tirar o celular da mochila, então ao em vez disso peguei meu caderno de desenho, um lápis e uma borracha.
Sempre tive a estranha mania de assinar a pagina antes de começa-lo assim escrevi “Alex” no canto da folha e pensei no que fazer... geralmente rabisco paisagens mas não me sinto tão expirada hoje.
Então volto meus pensamentos para meus pais novamente.
Desde que me entendo por gente lembro das brigas constantes das partes...
Na verdade acho que nunca deveria ter acontecido...
Nunca queriam ter outro filho, meu pai não gostava demais e minha mãe dizia que dava muito trabalho... então sempre fomos só nos três.
Eu nunca entendi o motivo das brigas sabe... que dizer... eles nunca foram muito discretos... eu sabia que meu pai achava que ela o traia, enquanto ela tinha certeza. Mas porque se sentir ofendido de ser trocado?
Se tudo que eles sentiam pelo outro era ódio e mais ódio. Nunca entendi essa parte...

As vezes, as brigas paravam por um tempo e entravam em uma espécie de lua de mel. Ate algum motivo idiota ou inventado acabar com tudo...
De uns anos para cá isso nunca mais aconteceu, são apenas brigas e mais brigas incessantemente. Isso me deixa com muita raiva, acabo descontando no papel e apontando o lápis que se quebra.
Acordo dos meus desvio e vejo o que desenhei.
Uma linha no meio da folha divide um casal que ao ver parece muito apaixonados de duas pessoas gritando uma com a outra, como já assinei guardo os materiais novamente, atordoada.
Ponho minha cabeça entre as mais, apoiando meu cotovelo nas coxas...
estou chorando...
Não sei mais o que fazer, eu os amo mas a convivência com eles nunca me fez bem.
Eu sei o que esta pensando “Ora apenas se mude”, “Vá para outro lugar”. Sim... eu sei, eu já fiz isso.
Três anos atrás quando cheguei de um dia exaustivo da faculdade e encontrei minha mãe com dois tiros no peito e meu pai com a cabeça em pedaços por conta da bala que ele havia disparado contra a própria cabeça. Eu me mudei mas eles não estavam prontos para me deixar ir...

~Agatha Farinelli

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⏰ Última atualização: Oct 26, 2022 ⏰

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