Capítulo 1

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Lílian

Certamente há algo de errado na sua vida quando você quer que o tempo passe rápido, sem motivo algum para isso, enquanto deveria estar aproveitando cada segundo da sua existência nesse planeta. Lílian ainda estava aprendendo a apreciar as pequenas coisas, era um dos exercícios que a Dra. Ana lhe passava. Hoje havia tomado um suco de uva bem devagar, tentando apreciar como os apaixonados por vinho quando tomam uma taça. Entretanto a bebida com álcool a médica não recomendava que ela tomasse, porque poderia estar trocando um problema por outro.

Dois vestidos estavam na sua frente, um era verde água, com mangas levemente bufantes, um decote quase reto e saia comprida. Já o outro era preto, midi, com alças finas, decote em V que destacava bem seus seios, uma abertura em triângulo que mostrava um pouco da barriga e uma fenda lateral nas pernas. Nos últimos meses Lílian havia tomado gosto por vestidos e tinha vários no guarda-roupa, a maioria ainda etiquetados; se o dinheiro não viesse de seus pais talvez tivesse muito mais. Normalmente iria no mais discreto, o verde, que usou diversas vezes, estaria dentro de sua zona de conforto. Isso de escolher sempre o mesmo foi bastante discutido nas seções de terapia e a partir daí surgiu uma das outras tarefas da doutora "faça todo dia uma coisa que você jamais faria", ou como Lílian gostava de chamar "faça todo dia uma coisa que te deixa desconfortável". Infelizmente já era noite e ainda não havia feito nada desconfortável, por isso pegou o vestido preto, que ainda não se sentia pronta para usar, fez uma rápida maquiagem e saiu do quarto.

Quando saiu para o corredor do alojamento encontrou tudo vazio, parecia que as garotas que havia visto ao chegar umas horas atrás já haviam deixado o local. Cada vez mais incomodada, ela desceu as escadas e logo estava no lado de fora do prédio. Olhando para o céu estrelado inspirou uma boa dose de ar, que desceu gelado para os seus pulmões, não foi uma sensação boa e seu corpo logo começou a tremer. A respiração não devia ajudar as pessoas a se acalmarem? Ela achava que sim, mas a temperatura de seu corpo parecia ter baixado alguns graus. Tomando um bocado de coragem ela seguiu em direção a festa,

Alguns minutos depois estava andando pelo campus, perdida, não conseguia encontrar o tal ginásio onde seria a festa e já marcavam duas horas do início do evento, todos já deviam estar por lá. Ela estava quase ligando para uma pessoa quando viu um rapaz vestido em preto, sua regata era solta e tinha um enorme decote em v, que por pouco não chegava ao umbigo. Apesar disso suas unhas estavam pintadas em várias cores, como um arco-íris e em sua cabeça havia uma coroa de flores brancas. Com isso Lílian se sentiu mais tranquila, não seria a única de preto. Apressando o passo ela chegou ao lado dele, que a olhou surpreso.

- Oi. Você sabe dizer onde está tendo a festa dos cursos de engenharia? - Lílian perguntou ao garoto.

- Claro, é sempre no ginásio. - Disse ele, olhando para ela como se fosse óbvio.

- Certo. - Ela confirma e segue caminhando, dessa vez com ele.

Sem saber mais o que dizer após longos segundos ela pergunta:

- Você cursa engenharia também?

- Sim. Eu devia ter chegado mais cedo, mas os meus pais queriam ficar comigo até o último minuto possível.

- Comigo também aconteceu isso. - Comentou ela, simpatizando. - Os meus estavam inventando de tudo para me ter em casa por mais tempo.

- Bem, meus pais acham que a faculdade é perigosa, que ela me corrompeu, quando na verdade eu sei que ela me libertou. Entende?

O garoto fez essa pergunta olhando bem em seus olhos, os dele eram amarelados, uma cor bem rara de se ver.

- Na verdade não, mas eu quero descobrir. - Lílian respondeu.

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