Paradise

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25 de Agosto, 2018.

Faltam poucos meses para fim do ensino médio, e faltam 4 meses para o fim do ano. Pensar isso me deixa mais calma nesse agora.

O começo o terceiro ano do ensino médio foi em poucas semanas, e quando ele acabar estarei livre. Eu estarei bem longe daqui, talvez eu comesse a trabalhar para me sustentar, sem ajuda da minha família, então eu também terei uma vida bem diferente da que eu tenho agora, com bem menos regalias.

Acho que eu sou a única pessoa a ficar feliz com a ideia de se sustentar sozinha, e não ter "regalias" mas eu vou poder recomeçar como eu quiser, aonde ninguém conhece o nome da minha família, e isso me incentiva todos os dias.

No momento eu moro em Risthetown, é uma cidadezinha bem bem pequena, na Virginia, com mais o menos cinco mil habitantes.

É uma cidadezinha bem clichê. As 3 horas o caminhão do sorvete passa na rua, e tem o dia do leiteiro passar, toda manhã o jornal parece na sua porta, e por falar em portas, elas estão sempre destrancadas. 

Todos se conhecem, no mercadinho da esquina ainda vendem chicletes que vêm com figurinhas. Ainda temos um drive-in, uma locadora de vídeos e as escoteiras batem na sua porta vendendo biscoitos e brownies.

Uma cidade dividida em duas, como naqueles filmes. O lado sul e o lado norte. Do lado sul, vivem os ricos em suas mansões dignas de Hamptons, que vão Mônaco nos feriados, e que nos finais de semana vão a um clube particular e jogam tênis. Que fazem eventos beneficentes e festas de gala e que majoritariamente trabalham em NY.

Deveria ser a minha redenção.

Do lado norte é outra história. Lá vivem as pessoas que trabalham para as pessoas que vivem no lado norte. É onde os imigrantes vivem, e com o risco de parecer preconceituosa e xenofobica, é onde existem gangues e coisas ilegais. Basicamente os pobres moram ao norte e os ricos ao sul, é bem simples a dinâmica.

Eu moro ao sul, na verdade, minha mãe, mora ao sul.

Agora eu estudo no sul e minha maldita vida inteira está no sul, por que eu pai era dono de pelo menos um terço da cidade e passou tudo para o meu irmão, Charles, depois da sua morte. Minha mãe é uma socialite bipolar com uma herança em diamantes e legado na moda, minha irmã Marianne é uma modelo fotográfica que se casou com um jogador da NFL, e aonde quer que eu vá alguém sabe disso. Não apenas minha mãe e irmã são modelos, eu também sou, é a maldição das garotas Bellrose.

Graças aos contatos de minha mãe e a exploração infantil. Apareci em mais de 15 revistas e tive uma temporada apenas de passarela, quando eu era mais nova, depois dos 15, o número das revistas dão  para contar nos dedos e nunca mais tive uma temporada bem sucedida. Acaba que fico na sombra da minha irmã e ela, da nossa mãe.

Quando a casula dos King passa, todos os olhares se voltam a ela e suas roupas de grife e sorriso modesto e maldoso.

Odeio essa cidade porque sempre tem alguém para me lembrar de permanecer na linha, e a verdade é que eu tenho tanto medo do meu irmão que eu permaneço de bom grado, a última vez que eu o desobedeci não foi nada agradável.

O ponto é que nesse momento eu estou no norte, em um barzinho de motoqueiros, com as motos estacionadas em fileiras no cascalho e placas neon dizendo que tem bebida 24 horas.

Estou de volta de Nova Iorque, e por isso comemoraremos. De volta a Risthetown depois de dois longos anos.

Geena é o nome do bar em neon vermelho, e no lado de fora tem uma pintura que deve ser como o artista acha que deve ser o inferno, parece a capa do album de Don Shirley.

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