Os ventos corriam, a vastuosa madrugada, que se fazia fria, solitária, a dama prateada iluminava a noite, que pesava em frieza, um fraco e quase inexistente sereno se mostrava, ouvia-se um distante assobio noturno, era um bacurau, seu canto rasgava o silêncio do alvorecer. Entrava um gélido vento pelas janelas, viajava o quarto, as cortinas azuladas dançavam aos ventos visitantes, algumas gotas caiam sobre o carpete, as ventanas se encontravam com as paredes, nasciam ruídos, os mesmos tirava a paz daquela que repousava. Despertara de seu adormecer, era uma garota, que vagarosamente abria seus olhos e tomava conta da situação, e entendimento do barulho que a despertou.
Sentia frio percorrer seu corpo, se arrepiava, retirou-se de seus lençóis de cetim, abancou em sua cama, coçava seus olhos e bocejava, desceu seus pés até o chão, buscava seus chinelos, examinava-o, mas não obteve êxito, levantou-se e se dirigia em direção as janelas, que ressoavam o som de suas batidas, cambaleava em seus passos, mas alcançava as ventanas, as fechava, encerrava a frieza.A mesma torna por retornar a sua cama, quando ouve um barulho, que vinha dentro de sua casa, se assusta.
Ouve-se então gemidos, e um choramingar, uma voz trovejante se mostra.- Você! A culpa é sua! É uma mulher maçante, que não me atrai. - Gritou a voz forte.
- Você é um monstro! Exclamou uma voz fina embargada de choro.
A garota temia, assustava-se, estava trêmula testemunhando aquela discussão, escutava barulhos vindo lá de baixo, na cozinha, mas reprimia seu desejo de ajudar aquela voz fraca, chorosa, que parecia de uma mulher, por medo. Era aquilo um monstro? Decidia algo, espantada, avançava, com perspicácia, parecia decidida, para o confronto daquela madrugada sombria.
O astro-rei ergue-se no vasto azul, colorindo a pintura do céu, adentrava pelas ventanas, cortando-se em feixes de luz, lumiava razoavelmente o quarto da garota, que a mesma repousava. Alguém batia na porta de sua alcova, a chamando. Despertou, a garota resmungava, mas dirigia-se até a porta, abria, seus olhos encontravam um sorriso meigo, olhos cafézentos, cabelos ondulados castanhos, era uma esbelta mulher, da qual a idade não condizia com sua aparência. Essa seria a mãe da dorminhoca.
- Desculpe-me te acordar filha, é tão cedo, mas preciso de sua ajuda com as caixas da mudança
- Caixas?-Questionou a garota.
- Sim, a gente se mudou para esta casa ontem, não lembra? Precisamos deixá-la ao nosso gosto
- Claro, eu lembro sim...
A mesma concordou, mesmo não se recordando do acontecido, tudo parecia lento, perdido ou afastado, as informações remanescentes sumiam como areias jogadas ao vento, comprometeu-se em ajudar.
- Acho melhor você tomar café primeiro, estarei aguardando você na cozinha.
A garota apenas concordou com a cabeça, e a mulher descia pelas escadas, que se davam vista para as paredes azuladas. A dorminhoca trocava de roupa, acabara foi de encontro a sua mãe, seus olhos viam as paredes índigo, os vasos com Lírios, os quadros que a encaravam, prosseguia e encontrara sua mãe na cozinha preparando café, na mesa estavam ovos, pães, maionese e leite. A mulher então nota a presença da garota e a convida a sentar-se.
Uma conversa se inicia, a mãe da garota a questiona sobre a sua adaptação a nova casa, e mostra-se preocupada com sua filha, que estava ainda confusa, entrava em encenação, concordava com as qualidades da casa citadas por sua madre, não tomava a questionar, buscava ouvir atentamente cada palavra, procurando uma pista, sobre o caso de seu esquecimento, mas nada a interessava.
- Essa casa pode ser uma nova chance para nós, tentarmos novamente sermos felizes...
- Sim... - Concordou a garota receosa.
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Meteórica
Historia CortaAs memórias são aquilo que mais se fazem importantes na vida. O início é um breve fim de algo que já aconteceu. Uma garota tenta relembrar o seu passado, após uma misteriosa perda de memória, ela investiga cada peça desse quebra cabeça, um mistério...