A pior parte de dormir era ter que enfrentar os meus pesadelos. Eu estava sentado em um sofá vermelho, olhando ao redor. Parecia que eu estava em uma espécie de "Talk Show" dos horrores.
— E a nossa mais nova convidada é a... - os tambores começaram a tocar, cada vez ficando mais rápido. — Mãe! Uma salva de palmas para a Mãe! - a plateia, em meia escuridão, começou a bater palmas de forma ensurdecedora.
— Mãe!? O que tá acontecendo? - A trilha sonora do Show parou por alguns segundos e a plateia se manteve em completo silêncio por alguns segundos. O apresentador, então, se virou até mim e me encarou com dúvida.
— Espera, você não se lembra dela? - ele me olhava confuso, um tanto quanto perplexo.
— Eu... Não me lembro... - abaixei minha cabeça, olhando diretamente para os meus pés, tomado pela vergonha e ansiedade.
— É... A culpa é realmente sua então. Seu pai deve sentir vergonha de você, Sal.
Em um momento de puro desespero e angústia, eu comecei a chorar enquanto a plateia dava risadas de mim. Era tudo muito assustador por não saber o que estava acontecendo naquele momento. Aos poucos, eu enxergava uma luz branca vindo em minha direção.
— Oh, meu querido Sal, eu estou aqui para lhe proteger. - era uma voz tão familiar, tão angelical.
Mas, quando eu menos esperava, eu acordei.
— Puta merda! - eu acordei um pouco ofegante, com algumas lágrimas caindo de meus olhos. Essas mesmas lágrimas faziam com que minhas feridas em meu rosto ardessem. Elas ainda não estavam saradas completamente e, talvez, nunca irão estar.
Olhando ao redor, eu pude perceber que meu gatinho, o Gizmo, ainda estava dormindo, todo bonitinho. Eu me levantei da cama, pondo minha máscara prostética, logo em seguida abrindo uma fresta da cortina para verificar se já estava de manhã e, em seguida, destrancando a porta de meu quarto. Andei até a sala com passes suaves e vi meu pai deitado no sofá, com papéis de trabalho sobre a mesa e alguns caídos pelo chão. Eu subitamente voltei até o meu quarto e peguei um cobertor verde, felpudo e fofo de se abraçar que ficava dentro do meu guarda-roupas caso alguma visita viesse dormir por aqui (que por sinal, nunca tivemos uma visita sequer, nem mesmo de parentes). Voltei devegar até a sala para não fazer nenhum barulho e cobri meu pai com o cobertor.
— Você vai acabar pegando um resfriado, seu bobo. - falei em um tom baixo para que ele não abordasse e o dei um pequeno beijo na testa.
Dei uma olhada no relógio que havia sobre a estante, ao lado de algumas fotos em quadros de nós dois. Já era por volta de 06h e 11 minutos. Uma segunda-feira fria, melancólica e com a fraquissima chuva caindo ao redor do jardim. Era o meu primeiro dia de aula após anos e anos estudando em casa, graças a minha horripilante aparência, eu poderia voltar a ter a sensação de estar novamente em uma sala de aula.
Fui até o banheiro e tranquei a porta do mesmo. Retirei a minha máscara e o restante das minhas roupas. Eu odiava ver o meu rosto no espelho, principalmente de máscara. Era como se não fosse o meu verdadeiro eu. Após isso tudo, me adentrei no box e liguei o chuveiro. A água caia tão depressão, tão gelada que me fazia tremer de frio por instantes. Ao término do banho, enrolei minha toalha branca em volta dos meus magros quadris, colocando minha máscara de volta. Saí do banheiro e fui diretamente para o meu quarto, trancando a porta do mesmo. Liguei minha televisão e coloquei qualquer música do Sanittys Fall's, uma das minhas bandas favoritas. Ao abrir meu guarda-roupas, peguei o uniforme do colégio. Especificamente, era apenas uma camisa preta com o nome da escola em letras brancas na parte direita de meu peito. _"Nockfell High School"_ era o nome de onde eu estudaria. Estava com esperanças - por mais que fossem baixas - de poder fazer amizades por lá, nem que fosse ao menos um único amigo. Mas, a incerteza e a dúvida me rodeavam em relação a isso. Quem em sã consciência gostaria de fazer amizade com um esquisito que usa uma máscara? Mantive-me esperançoso, mas sem criar altas expectativas também.
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𝑆𝑜𝑢𝑙𝑚𝑎𝑡𝑒
FanfictionApós um longo passado sombrio, Sal Fisher decide dar um passo a mais e recomeçar a sua vida do 0. O novato do colégio, que usava uma máscara prostetica e tinha cabelos azuis, gostaria de ter a sensação de voltar a estudar com pessoas novas, o levand...