Halloween Pandêmico

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Conto escrito por: Vivis Ribeiro, @vivisescreve no instagram

Revisado por: Júlia Saturno, @coisa.de.saturno no instagram

Classificação indicativa: +12

O Halloween do ano de dois mil e vinte entraria para a história como o mais controverso de todos os tempos

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O Halloween do ano de dois mil e vinte entraria para a história como o mais controverso de todos os tempos. Quando a pandemia começou a se espalhar entre os mortais, pouco depois do solstício de inverno, alguns oráculos previram que a doença representaria um marco na história da humanidade, mas um grupo de céticos imortais espalhou aos quatro ventos que tudo não passava de um exagero: a COVID-19 era uma gripezinha, muito mais leve do que foi a Gripe Espanhola ou a Peste Negra. Morreriam alguns milhares, mas e daí?

Quando o equinócio de Outono passou e as medidas sanitárias forçaram o cancelamento da festa de Mabon, os debates sobre o adiamento do Halloween tiveram início.

As bruxas foram as primeiras a se manifestarem a favor. A grande maioria tinha centenas de anos e se enquadrava no grupo mais vulnerável à doença. Não estavam dispostas a correrem o risco de serem dizimadas por um vírus, depois sobreviverem à inquisição e à fogueira.

Os fantasmas exigiram o cancelamento quando as fronteiras que separavam os mortos dos vivos foram fechadas. Eles bem que tentaram argumentar que não eram vetores de transmissão, mas as autoridades sanitárias foram inflexíveis: para visitar seus entes queridos durante o Sahmain, era obrigatória a apresentação de um PCR negativo recente. Sem as secreções necessárias para realizar o exame, restou aos espíritos desencarnados adiar os planos de viagem.

Os lobisomens deram voz ao coro logo depois que o lockdown foi implementado. Apesar das garantias de que a doença não era transmitida entre espécies, os lupinos ficaram preocupados com o risco de atacarem humanos contaminados e acabarem ficando sem olfato, como muitos casos reportados nos jornais.

Os únicos que insistiram em manter o Halloween foram os vampiros. As criaturas sem sangue minimizaram o tamanho da pandemia e instauraram um verdadeiro caos de desinformação. Eles chegaram a anunciar um elixir contra os efeitos da doença, mas os herboristas vieram à público esclarecer que a combinação de ervas alardeada como uma cura milagrosa funcionava apenas para o tratamento de verrugas.

Bruxas, lobisomens, fantasmas, caveiras e gatos pretos falantes se juntaram em veementes protestos contra os vampiros. Caldeiraços aconteceram durante as diversas reuniões marcadas para decidir o futuro do evento e gritos de "genocida" e "voltem para seus caixões" puderam ser ouvidos em diversas cidades. Quando os debates se tornaram acalorados demais e a média móvel diária de mortos não deu sinais de que diminuiria, chegou-se à inevitável decisão: o Halloween seria adiado até o fim da pandemia.

Na noite de 31 de outubro, os fantasmas não caminharam entre os vivos, as lanternas de abóboras foram acesas para iluminar caminhos vazios, as bruxas não saíram para voar em suas vassouras, as caveiras permaneceram em suas tumbas e os gatos pretos dormiram sossegados na frente das lareiras. Houve notícias de grupos de vampiros que ignoraram as medidas de distanciamento social e se aglomeraram em festas particulares, mas foram casos isolados. Em dois mil e vinte, a data mais aterrorizante do ano foi marcada por velas laranjas acesas nas janelas, barmbracks compartilhados entre as sacadas e muito álcool em gel.

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